THE NEW YORK TIMES LIFE/STYLE - Visite o Parque Nacional Rainha Elizabeth em Uganda ou o Parque Nacional Lago Manyara na Tanzânia e você verá algo incomum: leões que sobem em árvores e passam boa parte de suas vidas descansando em galhos bem acima do solo. Em outros lugares, os leões raramente escalam e parecem bastante atrapalhados quando tentam fazê-lo.
“Eles podem chegar lá muito bem”, disse Craig Packer, que supervisionou o Serengeti Lion Project por cerca de 35 anos. Mas ele acrescentou que “eles chegam lá e depois ficam tipo, ‘Opa, como eu desço?’”
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Outros grandes felinos predadores sobem em árvores o tempo todo.
“Anatomicamente, os leopardos são mais preparados para escalar”, disse Luke Hunter, diretor executivo do programa de grandes felinos da Wildlife Conservation Society em Nova York. “Eles são mais leves, e a escápula de um leopardo, suas omoplatas, são proporcionalmente maiores, mais planas e mais côncavas que as de um leão”.
“Os leões, por outro lado, possuem quartos dianteiros enormemente poderosos e costas muito, muito rígidas”, continuou. “Isso é para lutar com presas pesadas, como um búfalo, no chão.” Seu enorme poder, ele acrescentou, “vem ao custo da agilidade e do poder vertical que um leopardo tem em ser capaz de chicotear uma árvore com uma impala”.
Subir em uma árvore, disse Packer, pode até ser perigoso, especialmente para leões machos mais pesados. “Descendo, um leão poderia deslocar um membro com todo esse peso.”
A maioria dos leões também tem pouca necessidade de subir em árvores. Eles são sociais e vivem em bandos e geralmente podem defender suas refeições de outros predadores. Leopardos solitários devem esconder suas presas em algum lugar seguro e, de acordo com um estudo, perderiam mais de um terço de suas presas para as hienas se não conseguissem içar essas presas capturadas em uma árvore.
Então, por que em algumas áreas os leões sobem em árvores, se não foram feitos para escalar e raramente precisam fazê-lo? Isso tem menos a ver com habilidades naturais e mais a ver com comportamentos aprendidos e condições locais únicas.
No Zimbábue, há muito poucos registros de leões subindo em árvores, disse Moreangels Mbizah, biólogo conservacionista que trabalha com leões na Área de Conservação Transfronteiriça Kavango-Zambezi.
“A única razão pela qual eles gostariam de escalar é se houver algo no chão que estejam evitando”, ela disse.
Após um período de chuvas particularmente fortes em 1963, por exemplo, uma praga de moscas Stomoxys levou os leões para cima das árvores e para baixo em tocas de javalis, em qualquer lugar para escapar dos insetos que causavam feridas abertas e infecções mortais. Esse hábito aprendido, especulou George B. Schaller em “The Serengeti Lion”, um estudo seminal sobre o comportamento do leão, pode ter sido o precursor da cultura de subir em árvores entre os leões do lago Manyara.
Os leões também podem subir em árvores para escapar do calor e pesquisar a paisagem em busca de presas, diz Joshua Mabonga, coordenador de pesquisa de carnívoros do programa de Uganda da Wildlife Conservation Society. Mas no Parque Nacional Rainha Elizabeth, em Uganda, pode haver outra razão: os leões vivem em bandos menores do que os de muitos outros habitats de leões e compartilham o parque com grandes manadas de búfalos e elefantes. Quando confrontados com uma debandada de búfalos que podem colocá-los em perigo, os leões escapam pelos galhos.
“O lugar mais seguro para os leões é nas árvores”, disse Mabonga.
Ou, como Packer colocou, “Leões sobem em árvores para escapar de pragas, sejam elas tão grandes quanto um elefante ou tão pequenas quanto uma mosca de estábulo”.
Para que os leões consigam escapar, eles precisam do tipo certo de árvore. Os leões costumam escalar figueiras de Sicômoros africanos ou árvores guarda-chuva Espinho Acácia, que têm galhos horizontais não muito acima do solo.
“Fica muito mais fácil para os leões escalarem e se levantarem”, disse Hunter.
Onde os leões adquiriram o gosto pela experiência, e há condições que lhes permitem escalar, eles começaram a subir em árvores com o mesmo zelo dos leopardos. No Parque Nacional Rainha Elizabeth, Hunter disse: “Você tem famílias inteiras – adultos, jovens, todo mundo – nas árvores. Geração após geração, realmente se tornou um hábito subir nas árvores. Só fica enraizado como uma cultura porque é divertido.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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