Há dias de trânsito ruim em Nova York - muitos deles. E há dias de alerta de trânsito pesado. Esses são os piores de todos os dias, com pedestres ultrapassando carros, ruas transformadas em estacionamentos e brigas eclodindo em cada esquina.
Mas, em outro indício do quanto a cidade está ficando lotada, o alerta anual de congestionamento foi ampliado para 16 dias - foram 10 dias no ano passado - e começou mais cedo, no dia 24 de setembro, para cobrir a sessão das Nações Unidas.
Milhares de líderes mundiais e diplomatas - incluindo o presidente Donald J. Trump - e suas equipes de segurança chegaram para uma série de reuniões, festas e compras. Os engarrafamentos e a interrupção de vias por motivo de segurança transformaram Manhattan num labirinto, mesmo para os motoristas mais experientes.
"Durante a semana da ONU, é melhor esquecer", disse Leo Lazarev, 68 anos, técnico de aquecimento, ventilação e ar-condicionado que não tem escolha a não ser andar de picape com seu equipamento. "Tudo fica impossível. Não se pode dirigir. Nem andar a pé. Há gente por toda parte".
A verdade é que o trânsito provocado pela ONU se tornou pior que o gerado pelo desfile de Ação de Graças, a cerimônia da árvore de natal no Rockefeller Center e a virada do ano na Times Square. A cidade vai gastar US$ 500 mil em uma nova campanha para alertar a respeito dos dias de trânsito intenso e em anúncios na internet para tentar tirar mais motoristas das ruas. A mensagem para os motoristas? "A viagem por Midtown vai demorar três vezes mais".
Os dias de alerta de congestionamento em Nova York são o mais amplo sistema de alerta de trânsito dos Estados Unidos, embora outras cidades também emitam alertas quando há atrasos importantes provocados por fatores como tempestades, obras ou eventos especiais.
O número de veículos circulando pelo centro comercial de Manhattan num dia útil de outono caiu de aproximadamente 815 mil em 2004 para cerca de 718 mil em 2017. Mas o trânsito ficou praticamente parado em Midtown, com os veículos alcançando velocidade média de 7,6 quilômetros por hora. São muitos os motivos: uma frota de Ubers e outros motoristas, muitos deles circulando pelas ruas em busca de uma corrida; um aumento nos caminhões de entregas com o progresso do comércio eletrônico; e obras contínuas que interrompem vias integral ou parcialmente.
Numa tarde recente, trabalhadores e moradores de Midtown Manhattan disseram gostar da ideia de mais alertas de trânsito pesado, pois algo deveria ser feito para que retomem seu bairro. A agente de segurança Sandra Ritter, de 56 anos, disse esperar que mais motoristas prestassem atenção.
"Por que alguém viria de carro para cá sabendo como está a situação do trânsito?", indagou ela. “Se disserem que há um furacão vindo, você começa os preparativos".
Mas o estrategista de publicidade Mike Pieczyski, 55 anos, se disse cético em relação à possibilidade de mais alertas de trânsito pesado serem o suficiente.
"Quando temos uma visita do presidente além do trânsito habitual, tudo vira uma bagunça. Acho que a única coisa que realmente vai funcionar é levar a ONU para um prédio em outro país", comentou.
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