Futuro pertence aos nichos e à mobilidade
Todo mundo quer saber quando é que o Facebook vai perder a importância - e, principalmente, qual será a nova rede social que vai substitui-lo. Acho que são dois movimentos distintos e uma coisa não está propriamente relacionada à outra.
A rede social de Mark Zuckerberg começou 2012 forte e imponente, rumo ao primeiro bilhão de usuários e disposta a abrir capital. Cumpriu as duas promessas, mas o crescimento já não é mais intenso e o IPO não chegou nem perto da expectativa entusiasmada do início do ano. Por outro lado, cada vez mais gente deixa o Facebook por motivos diversos - discordam de sua política de privacidade, não aguentam mais discutir com desconhecidos horas a fio, não querem mais ver imagens de culto ao ódio, cansaram de misturar trabalho, amigos e família no mesmo ambiente, não gostam do aplicativo móvel, acham que virou uma plataforma de anúncios.
Sobre o último caso, é fato. Seu concorrente direto, o Google, também se sustenta em publicidade, mas enquanto recolhe dinheiro graças à sacada do Ad Sense, a empresa também tem o sistema operacional móvel mais popular, mapeia e digitaliza o mundo em seu serviço cartográfico, tem tablets, celulares e uma tentativa de fundir TV com internet, além dos futurísticos Google Glasses... Enquanto isso, o Facebook apenas vende formas de socializar conteúdo de seus domínios. Repete a lógica da America Online em seus primeiros dias, algo que se provou insustentável. As pessoas não ficam no mesmo site o tempo todo.
Sem contar que um dos motivos do fracasso da abertura de capital do Facebook foi a insegurança que investidores têm em seu futuro móvel. O aplicativo da rede social para celulares não chega aos pés da experiência em desktop. Tentaram entupi-lo com recursos: mensagens, chat, eventos, fotos, jogos... O app é lento e difícil de usar.
No início do ano comentei como a simplicidade é a razão do sucesso de um aplicativo. E isso aconteceu pouco antes de o Facebook anunciar a compra do Instagram. Os motivos da aquisição são especulação, mas têm a ver com o fato de a rede social não ter um aplicativo móvel tão bom quanto o Instagram e também com a possibilidade de estar comprando um possível rival. Mas o Instagram não deve atingir os níveis do Facebook - mesmo se não fosse comprado. Porque o futuro das redes sociais pertence aos nichos. E, principalmente, o futuro da internet pertence aos celulares.
Esta fábula em que um aplicativo para celulares é comprado por uma rede social criada para ser usada em computadores é uma amostra do futuro que veremos nessa década. A força da internet móvel é comprovada por nós diariamente - seja em programas de geolocalização que nos ensinam caminhos inusitados, na possibilidade de se assistir à TV individualmente em um ônibus (com fones de ouvido, por favor), em inúmeros jogos mais complexos que os primeiros Super Mario e agora cabem em nossos bolsos. Carregamos sempre aparelhos que podem tirar foto, editar texto, vídeo e áudio e publicá-los na internet.
Ao mesmo tempo, nos tornamos mais livres. Livres do mouse e do teclado, da posição arqueada ao debruçarmos nos computadores, de ficarmos sentados o tempo todo. A era pós-PC tão alardeada por Steve Jobs tem menos a ver com tablets e mais com a internet móvel nos celulares. Em pouco tempo, veremos os tablets como trambolhos gigantescos, smartphones para idosos que não conseguiam digitar em teclados touchscreen. Isso acontecerá quando vier o triunfo da internet móvel via celular.
Eis a minha aposta para 2013: menos olhos na telona, mais olhos na telinha. Menos tempo sentado, mais tempo em pé. Menos escritório, mais rua. É claro que temos que esperar melhorias drásticas no nosso parco 3G e num utópico 4G que nem sequer é realidade. Mas, com certeza, usaremos mais celulares que computadores. Se é que já fazemos isso hoje, sem nos dar conta.
ALEXANDRE MATIAS É DIRETOR DE REDAÇÃO DA REVISTA 'GALILEU' - GALILEU.GLOBO.COM
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.