??? ‘Com a moda da nuvem, estamos prestes a entrar em uma outra megatendência bem menos empolgante: a da limitação de dados’
Por David Pogue*
O mundo da tecnologia parece se mover aos trancos e espasmos, e agora estamos no meio da onda “nuvem”. Pessoalmente, acho o termo “na nuvem” pretensioso e incômodo. Eles não querem dizer simplesmente “online”?
Sim, percebo que profissionais de computação estão se referindo a alguma coisa muito mais específica – “dados e softwares armazenados em servidores remotos”, por exemplo – mas os marqueteiros da palavra e a turma de relações públicas parecem pensar que “a nuvem” significa apenas “online”. (“Agora você pode comprar seus artigos de banheiro na nuvem!!”)
Em minha coluna do New York Times desta quinta-feira, por exemplo, analisei o primeiro Google Chromebook: um laptop sem disco rígido, sem programas de software em placa, sem arquivos e pastas, sem sistema operacional tradicional. Tudo isso é conectado à web. Seus arquivos, seus programas, seu e-mail e suas fotos estão “na nuvem”, isto é, “em sites da web”.
Também há a nova iniciativa iCloud da Apple, anunciada por Steve Jobs no início da semana passada. É um serviço gratuito que sincroniza e-mail, caderneta de endereços, calendário, sites favoritos, iBooks, compras de aplicativos, compras de músicas, vídeos e fotos entre seus iPhone, iPad, Macs, PCs e a internet. Tire uma fotografia com seu iPhone e ela aparece automaticamente no seu computador e no seu iPad. O serviço também faz backups automáticos de seu iPhone e iPad por Wi-Fi diariamente.
E essas não são as únicas megatendências hoje em dia. Vejam as mudanças enormes em como as pessoas assistem a filmes e programas de televisão. Isso também está chovendo da “nuvem”.
E nossas ligações telefônicas. Cada vez mais pessoas evitam usar seus minutos de celular apoiando-se na internet para transmitir suas vozes por meio de aplicativos como Skype e Line2.
Essas megatendências são todas ótimas e empolgantes e economizam dinheiro. Infelizmente, elas envolvem transferências enormes de dados de um lado para outro na internet, E isso significa que estamos prestes a entrar numa megatendência bem menos empolgante: limites de dados.
Sim, estou falando da nova era de limitação da quantidade de dados na internet. Todas essas tendências consomem quantidades enormes de banda. Toda essa atividade de upload e download, toda essa sincronização, toda essa computação em nuvem supõe que se tenha uma conexão de internet com enorme capacidade e velocidade.
Mas sua operadora de celular não quer que você tenha uma conexão dessas. Não há uma única operadora de celular que ofereça um plano de transmissão ilimitada de dados a plena velocidade.
A T-Mobile oferece dados ilimitados, mas se a pessoa ultrapassar determinado patamar, a conexão é automaticamente desacelerada. E alguns poucos proprietários afortunados de iPhone AT&T ainda têm planos ilimitados, herança dos velhos tempos – mas aposto que é apenas questão de tempo para que eles também desapareçam.
OK, isso quanto aos celulares. Pode-se compreender o ponto de vista das operadoras. Todos esses iPhones e telefones Android usam quantidades imensas de capacidade de celular sem fio, e isso estava desacelerando as conexões de todos. Limites são necessários, eles podem argumentar, caso contrário a rede vai congestionar até parar.
Mas essa não é a pior megatendência. A pior é a que limita os planos de dados domésticos. Isso mesmo: provedores de banda larga estão colocando limites à quantidade mensal de dados que você obtém, mesmo em casa.
E isso, meus amigos, é um desdobramento assustador. Como poderemos desfrutar nossa nuvem se só tivermos um acesso seletivo a ela? Como o ousado mundo novo da computação online vai deslanchar se o medidor estiver registrando tarifas de excesso punitivas toda vez que olharmos nossos álbuns de fotos online? Por alguma razão, a lógica por trás dos limites das linhas cabeadas (modems de cabo, DSL) é mais difícil de avaliar que a de celulares. Simplesmente não parece que alguns megabytes a mais deveriam custar nada às provedoras: são apenas bits fluindo.
Não sei qual é a solução. Não se sei alguém está pensando nisso. Mas grandes mudanças estão a caminho. Há grandes forças prestes a moldar nossas vidas online. E neste momento elas estão numa rota de colisão direta. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
* É COLUNISTA DE TECNOLOGIA DO JORNAL NEW YORK TIMES E AUTOR DE BLOG PUBLICADO PELO ‘LINK’
—-Leia mais: • Leia o blog de David Pogue • Link no papel – 20/06/2011