Estressante porque não foi fácil ficar um passo à frente dos meus alunos. Eles tinham metade da minha idade e já eram tão versados em tecnologia quanto você no ato de respirar. Assim, tentei me concentrar em assuntos que aprendi nos meus 25 anos escrevendo sobre tecnologia. Uma delas: um bom design de interface.
É muito difícil. A tendência é inserir um punhado de funções no produto – “hei, tudo o que eu faço eu vendo, certo?”. Contudo cada função tem que se encaixar em alguma parte. Tem que se ajustar a uma tela, algum menu, sob algum teclado. Assim, quanto mais coisa você insere, mais difícil é usar o produto, e menos prazer o cliente terá.
Recentemente comprei para minha filha um relógio digital no Wal-Mart por US$ 9. Ele possuía três botões. O que se supõe é que você consiga desempenhar todas as funções do relógio usando apenas os três: acertar a hora, o alarme, ligar ou desligar o alarme, iniciar e parar o cronômetro, e assim por diante.
Como você pode imaginar, era uma interface de uso desastrosa. Cada botão servia para múltiplas funções. Pressionar duas vezes. Pressionar e reter. Pressionar dois botões de uma só vez. Não havia uma maneira possível para dominar as funções sem a folha com as instruções, um pequeno quadrado de sete centímetros em letras minúsculas. Inevitavelmente, acertar a hora – tanto do relógio como do alarme, – era um trabalho de Sísifo, que envolvia pressionar o minúsculo botão e ali permanecer, esperando, até os números digitais mudarem para chegar até o seu objetivo.
Assim, como lição de casa particularmente diabólica, desafiei meus alunos a redesenharem o relógio do Wal-Mart e torná-lo mais fácil de usar – sem sacrificar nenhuma das suas funções, e sabendo que cada botão ou controle novo seria adicionado ao custo e a vulnerabilidade mecânica.
O que eu estava esperando era que eles iriam conferir tarefas mais razoáveis, mais cuidadosamente analisadas, para os minúsculos botões. Mas o que mais fizeram foi se desfazer totalmente dos botãozinhos.
Refizeram o relógio, de maneiras que jamais me ocorreram. (Talvez porque eles estejam na Columbia British School). Minha ideia predileta – e aparentemente dos alunos (porque muitos deles a apresentaram, independentemente) envolvia o engaste, o fino anel em torno da face do relógio. O que imaginaram foi um anel rotativo, ou fisicamente ou por meio do toque (como o dial do antigo iPod). Este anel rotativo faria o trabalho rápido de acertar as horas e os alarmes; e quanto mais rápido girasse, mais rápido você acompanharia as horas do dia.
Uma equipe construiu um relógio ainda mais divertido de usar, desenhando um engaste clicável. Ou seja, você pode fazê-lo girar e clicar embaixo (com o seu pulso) para navegar pelo menu. Alguns estudantes propuseram ressuscitar a coroa – o minúsculo botão que fica à direita e que você puxa para acertar a hora no relógio analógico. Por que não seria igualmente útil num relógio digital? Com certeza seria mais rápido e mais agradável girar essa coroa do que pressionar vigorosamente botões de metal esperando os números mudarem.
Uma outra proposta interessante: um relógio com tela de ambos os lados. Relógio na frente, cronômetro atrás. Nas raras ocasiões em que você realmente precisa do cronômetro, simplesmente você vira o relógio de baixo para cima no seu pulso. E nisso, evitou qualquer confusão na interface do cronômetro. Que bela ideia!
Um outro propôs um pequeno mouse , como os de alguns telefones BlackBerry (“exceto que não para de trabalhar quando está sujo”, observou o aluno maliciosamente). Quem precisa de três minúsculos botões, quando você pode navegar rapidamente pelo menu do relógio com um mouse?
Foram feitas sugestões de relógios com tela sensível ao toque, também. Por que não? Se você tem uma pequena tela sensível ao toque, o céu do design de interfaces é o limite.
Houve até uma ideia de um relógio controlado por voz. Na verdade, isso parece viável. O vocabulário necessário para acertar a hora, o alarme e controlar o cronômetro é muito pequeno, de modo que a precisão pode provavelmente ser facílima de conseguir. Não seria incrível simplesmente poder dizer “Acerte o alarme para as sete e meia”, e pronto?
Não tenho certeza de quantas ideias como estas poderiam ser concretizadas por US$ 9. E pode ser que exista alguma companhia em algum lugar que já tenha aproveitado algumas destas ideias. (Muitos alunos propuseram o relógio com engaste, seria estranho se ninguém aparecer um dia com um). Mas 90% das ideias apresentadas na minha aula representaram grandes avanços nas possibilidades de uso do moderno relógio digital.
Da próxima vez que algum engenheiro da Timex, da Casio ou da Swatch começar a traçar as especificações de um novo irritante, impossível de ler, relógio digital de três botões, espero que eles se lembrem disto: o mundo é muito amplo. Tentem sair da sua caixa.
Agora, vocês conseguem superar estes estudantes com um design ainda melhor? Teçam seus comentários.
* Publicado originalmente em 11/08/2011