A proprietária do TikTok parece estar retardando as negociações para uma venda enquanto aguarda um sinal verde do governo chinês, mesmo quando os aliados corporativos do presidente Donald Trump correm para intermediar um acordo para vender o aplicativo a um licitante americano, de acordo com três pessoas familiarizadas com as negociações que falaram sob condição de anonimato para discutir transações comerciais privadas.
Mas é cada vez mais provável que Pequim adote uma abordagem linha-dura, deixando as operações do TikTok nos EUA morrerem em vez de aprovar uma venda, já que espera um “grande acordo” com o governo Trump que inclua concessões maiores em políticas comerciais e tecnológicas, de acordo com uma das pessoas e analistas.

A medida ocorre em um momento em que as tensões entre as nações se transformaram em uma guerra comercial, com Trump recorrendo a poderes econômicos emergenciais para impor tarifas abrangentes sobre as importações da China nesta semana. Pequim retaliou com seu próprio conjunto de restrições, incluindo limites às exportações de minerais usados para fabricar produtos de alta tecnologia e uma investigação antitruste do Google.
É provável que a tática prejudique os esforços de Trump, que prometeu “salvar o TikTok” suspendendo a aplicação de uma lei que force a venda ou a proibição do aplicativo enquanto ele negocia o desinvestimento. Isso também dizimaria um serviço do qual 170 milhões de usuários em todo o país dependem para entretenimento e socialização.
Rui Ma, um investidor e analista que pesquisa empresas chinesas de tecnologia, disse que essa estratégia seria vista com bons olhos pelo público chinês, que estaria enfrentando Trump e protegendo um produto criado localmente.
“Pode ser uma empresa multibilionária, mas ainda é um Davi contra o Golias que é o governo dos EUA”, disse Ma por e-mail.
O TikTok não respondeu aos pedidos de comentários. Uma porta-voz da Casa Branca direcionou o The Washington Post para o feed do Truth Social de Trump. O porta-voz da Embaixada da China, Liu Pengyu, disse em um comunicado que a aquisição de empresas “deve ser decidida de forma independente pelas empresas, de acordo com os princípios do mercado”.
“Se envolver empresas chinesas, as leis e regulamentações da China devem ser observadas”, acrescentou.
A lei de venda ou proibição, assinada no ano passado pelo presidente Joe Biden, visa abordar as preocupações de que a empresa-mãe do TikTok na China, a ByteDance, representa riscos de segurança nacional para os usuários da empresa. Em seu primeiro dia no cargo, Trump assinou uma ordem executiva solicitando ao Departamento de Justiça que não aplicasse a lei por 75 dias para que ele pudesse “buscar uma solução” fora de uma proibição total.
Há anos, a China promete bloquear a venda do TikTok e, depois que Trump pressionou pela venda forçada do aplicativo durante seu primeiro mandato, adicionou seu algoritmo de recomendação central a uma lista de controle de exportação. Pequim argumentou no ano passado que os Estados Unidos usaram a “lógica dos ladrões” para justificar a transação forçada.
Mas a China recentemente pareceu suavizar sua posição, dizendo que tais decisões deveriam ser “determinadas pelas próprias empresas”. Alguns observadores geopolíticos argumentaram que o TikTok poderia se tornar uma moeda de troca enquanto as duas superpotências negociam sobre tarifas e comércio.
As autoridades chinesas agora estão desconfiadas de dar a Trump uma vitória sem garantir concessões significativas, como promessas de tarifas mais leves e concessões de políticas comerciais em itens como chips semicondutores. Essa desconfiança é alimentada pelas lembranças do último ano de mandato de Trump, quando ele colocou a China em xeque ao tentar abruptamente encerrar o aplicativo.
A ByteDance também tem poucos incentivos para participar de um acordo, segundo os analistas. Como a base de usuários americanos do aplicativo representa apenas uma parte das operações globais da empresa, fechá-lo não dizimaria os negócios da empresa. Vender o aplicativo, por outro lado, poderia criar um novo concorrente para a ByteDance.
“Não é que [a China] nunca faria isso, mas eles precisarão de muito em troca”, disse uma das pessoas. “Eles estão dispostos a puxar o plugue”.
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A ByteDance tem recebido uma enxurrada de interesse de possíveis compradores desde abril passado, quando o Congresso aprovou a lei que proíbe efetivamente o aplicativo de vídeo extremamente popular, a menos que ele se desfaça de sua propriedade chinesa. A lei foi confirmada no mês passado pela Suprema Corte, que concordou com o governo de que ela não violava os direitos de liberdade de expressão de milhões de usuários do TikTok nos Estados Unidos e que o Congresso tinha “boas razões para destacar o TikTok para um tratamento especial”.
Em seus primeiros 100 dias, Trump se posicionou como o principal negociador para intermediar a venda da empresa privada. Ele observou no mês passado que muitas “pessoas muito importantes” expressaram a ele “grande interesse” em comprar o aplicativo e que ele decidiria sobre um comprador dentro de 30 dias.
Enquanto estava no Air Force One, avião oficial da presidência americana, Trump afirmou que as negociações de aquisição com a Microsoft já haviam começado. Na segunda-feira, 3, ele lançou a ideia de que os próprios Estados Unidos poderiam comprar o TikTok usando um fundo soberano.
“Gosto de guerras de lances porque você faz o melhor negócio”, disse Trump.
Trump disse no mês passado que está “aberto” à compra da empresa pelo proprietário da X, Elon Musk, um de seus conselheiros mais próximos. O astro de “Shark Tank” Kevin O’Leary foi a Mar-a-Lago em dezembro para apresentar a Trump uma oferta de US$ 20 bilhões que ele e o magnata dos negócios Frank McCourt apresentaram recentemente à gigante da tecnologia. A Microsoft, que em 2020 foi a escolha preferida pela liderança da ByteDance, também está interessada em um possível acordo, de acordo com uma das pessoas.
Bill Ford, membro do conselho da ByteDance e executivo-chefe da General Atlantic, investidora da ByteDance, disse no mês passado que a empresa pode buscar soluções “sem desinvestimento”. A General Atlantic não respondeu às várias solicitações de comentários.
Além da pressão direta sobre a ByteDance, o governo chinês tem vários mecanismos que poderia usar para impedir um acordo. Ele poderia empregar suas regras de privacidade de dados ou controles de exportação, que proíbem a venda de algoritmos de recomendação como o que alimenta o feed do TikTok.
O acordo também poderia ser desfeito pelo lado americano. Alguns investidores do TikTok, embora ansiosos para fazer dinheiro, podem não aprovar o comprador ou o tamanho do negócio. Além disso, os legisladores republicanos recentemente rejeitaram a decisão de Trump de emitir uma ordem executiva estendendo o prazo de venda estabelecido pelo Congresso, o que poderia inviabilizar qualquer acordo.
A ByteDance, uma empresa global em expansão, tem pouco a ganhar com a venda do TikTok, mesmo com o provável preço multibilionário almejado pelos investidores.
A ByteDance “não precisa desse dinheiro, ela tem mais dinheiro do que sabe o que fazer com ele”, escreveu Ma, o investidor e analista, no X recentemente, citando um relatório que dizia que a empresa havia gerado quase US$ 7 bilhões em dinheiro no primeiro trimestre de 2023. “Você acha que faz sentido para a ByteDance vender (...) uma cópia de sua [propriedade intelectual] mais valiosa por dinheiro de que não precisa?”
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