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Criador da web se une a notáveis para repensar rede

Projeto, que ainda está em fase inicial, quer usar novas tecnologias para adicionar mais privacidade e transparência às páginas de web

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Por Quentin Hardy
O físico inglês Tim Berners-Lee criou a World Wide Web, enquanto era pesquisador do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN) Foto: Wikimedia Commons

Há 27 anos, Tim Berners-Lee criou a World Wide Web como ferramenta para os cientistas encontrarem informações de maneira fácil. Desde então a web se tornou o mais poderoso recurso de conhecimento, comunicações e comércio. Mas Berners-Lee não está feliz com todas as consequências. “A web controla o que as pessoas veem, cria mecanismos sobre como as pessoas devem interagir”, afirma. “É um instrumento excelente, mas espionar, bloquear sites, redesenhar o conteúdo pertencente às pessoas, levá-lo para sites falsos corrói totalmente o espírito de ajuda em que a web foi criada”. Nesta semana, Tim Berners-Lee reuniu-se na cidade norte-americana de São Francisco com outros importantes cientistas da computação, incluindo Brewster Kahle – diretor da Internet Archive e ativista da internet – para debater a nova fase da rede.

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A web se tornou um sistema que, com frequência, está sujeito ao controle de governos e corporações. Países como a China bloqueiam páginas da internet, impedindo os cidadãos de acessá-las, e serviços na nuvem como o Amazon Web Services são poderosos. O que aconteceria, se perguntam os cientistas, se tecnologias novas – como as moedas digitais ou o compartilhamento P2P de música – fossem usadas para criar uma rede mais descentralizada com mais privacidade e menos controle, além de permanência e confiabilidade? “As histórias nacionais hoje acontecem na Web”, afirmou Vinton G. Cerf, também considerado um dos criadores da internet e executivo do Google. “As pessoas acham que tornar as coisas digitais significa que elas durarão eternamente, mas não é verdade”.

O projeto ainda está no início, mas as discussões – e a envergadura das pessoas envolvidas – enfatizam como a direção seguida pela web nos últimos anos despertou inquietação em especialistas. As revelações feitas por Edward Snowden, de que a rede mundial foi usada para espionagem, e o conhecimento de que empresas como Amazon, Facebook e Google se tornaram “guardiões” da nossa vida digital só aumentaram a preocupação.

Durante o evento, chamado Decentralized Web Summit, Berners-Lee, Khale e outros notáveis trocaram ideias sobre novas maneiras de as páginas na web serem amplamente distribuídas sem o controle padrão de um servidor de internet, como também maneiras de armazenar dados sem necessidade de pagar taxas para empresas como Amazon, Dropbox ou Google. Medidas para criar um maior nível de privacidade e transparência dos serviços, com o uso de criptografia e o arquivo de todas as versões de uma página, também foram discutidas. Se implantadas, ficaria mais difícil censurar o conteúdo. “Edward Snowden mostrou que inadvertidamente construímos a maior rede de vigilância do mundo com a Internet”, disse Khale, cujo grupo organizou a conferência. “Temos capacidade para mudar”.

Mas nem todos os participantes concordam com a necessidade de uma descentralização da web. “O problema é o domínio de um único motor de busca, uma grande rede social, um Twitter para microblogs. Não temos um problema de tecnologia, mas social”, diz Berners-Lee. A solução, para ele, pode estar em mais tecnologia.

/TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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