Nos últimos anos, houve um significativo avanço nos modelos de inteligência artificial (IA), em especial nos grandes modelos de linguagem (LLMs). Por exemplo, em 2020, o GPT-3 acertava cerca de 38% das questões do ENEM, não muito distante do aleatório, de 20%, nesta prova de múltipla escolha com cinco alternativas. No início de 2022, o GPT-3.5 aumentou essa marca para 70% e, em 2023, chegamos a 90% com o GPT-4. A maioria desses avanços se deve ao uso de mais computadores interligados e dados de treinamento, sem depender necessariamente de descobertas científicas ou ideias revolucionárias. Essa capacidade de melhorar os produtos com investimentos em hardware, em vez de recursos humanos para pesquisa e desenvolvimento, é uma característica única do campo da inteligência artificial moderna; nenhuma outra área da indústria se beneficia tão rapidamente e diretamente com mais investimentos exclusivamente em capital.
Essa tendência ainda não mostrou sinais de exaustão e é esperado que em 2024 tenhamos IAs ainda melhores, que combinarão várias modalidades de entrada e saída (imagens, texto, vídeo, som, etc.) e seu uso seja cada vez mais disseminado nas empresas, no poder público, na ciência e entre as pessoas em geral.
Já há evidências de que as falhas que notamos ao usar as IAs mais poderosas atuais, como a incapacidade de desenvolver um programa de computador complexo e livre de erros, devem ser resolvidas em breve. Por exemplo, o desempenho do modelo Gemini, lançado recentemente pelo Google, equiparou-se ao de humanos especialistas em um conjunto de perguntas de mais de 57 áreas do conhecimento, incluindo medicina, matemática e direito. Portanto, não é difícil imaginar que estamos nos aproximando de uma disrupção, quando esses modelos começarão a sugerir ideias elaboradas para tomada de decisão, com melhores resultados que as propostas feitas pelas melhores mentes humanas. Com essa possibilidade iminente, 2024 será o ano em que se intensificarão as discussões sobre IA voltadas à questões de segurança nacional e de seu impacto social.
Para o Brasil, espero - mais do que realmente acredito - que o esforço para desenvolvermos uma infraestrutura nacional de IA seja intensificado. A razão para essa empreitada é semelhante à criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na década de 1940, que acelerou a industrialização do país e reduziu a dependência de importação de bens manufaturados. Para sermos menos dependentes tecnologicamente e mais soberanos, precisamos de uma estratégia semelhante, ou seja, sermos capazes de desenvolver e fornecer nossa própria IA de base, incluindo um parque de computação em grande escala, habilidades em treinamento de IA e uma legislação que apoie e incentive a indústria nacional.
*Rodrigo Nogueira é fundador do laboratório Maritaca AI