Depois de anos trabalhando em bancos, na implantação de serviços de cartões de crédito e débito, Anderson Cicotoste resolveu lançar sua própria bandeira de crédito, mas, dessa vez, sem cartões. A Novo E-Pay começou a operar em 2008 focada no pagamento via celular, mercado que promete movimentar globalmente US$ 65 bilhões em 2014, segundo a Juniper Research. A empresa tem quase 26 mil clientes e cerca de 1,8 mil estabelecimentos cadastrados – em cidades de sete Estados – que movimentaram R$ 2,82 milhões em 2009 em pagamentos por celular. Agora, a Novo E-Pay se prepara para expandir rumo ao exterior, quer chegar a 43 países neste ano, junto de uma empresa de varejo mundial – Cicotoste não diz qual – e vai permitir transferências entre clientes, mesmo que não tenham conta bancária. Assim como a Novo E-Pay, outros empreendedores estão de olho no mercado de pagamentos pelo celular. "As empresas de cartão atingem de 20% a 25% da população no Brasil. Com o celular, há um potencial de chegar a até 90% dos brasileiros. O desafio é fazer a população acreditar que o telefone é uma solução segura e rápida", afirma Cicotoste. O pagamento móvel também atrai operadoras de celular. Há 10 meses a Oi tem o serviço Oi Paggo, disponível para clientes de 12 cidades em oito Estados. Roberto Rittes, diretor do Oi Paggo, diz que o pagamento móvel é prático quando o cliente não está presente. "Posso pagar a entrega de restaurante sem usar dinheiro ou cheque. E se a faxineira ou os filhos vai ao supermercado, é possível pagar a conta à distância", diz. O Oi Paggo também é mais vantajoso do que os cartões, segundo ele, para fazer compras pela internet, que correspondem a 15% das transações do serviço. Outro exemplo no Brasil é a Wappa, empresa de pagamento por celular focada no mercado corporativo. A ideia é centralizar no aparelho todos os serviços que uma empresa oferece a seus funcionários. O dispositivo, cadastrado a uma conta, pode ser usado para pagar refeições ou táxis. Segundo o diretor geral, Armindo Mota Júnior, 11 mil taxistas já estão cadastrados e aceitam receber o valor da corrida por SMS. Para Armindo, serviços assim ainda não se popularizaram porque "vendem uma nova cultura". A grande dificuldade, ainda, é mudar a cabeça das companhias e dos usuários. Mesmo assim, 50 mil pessoas já trocaram cartões e vales pelos pagamentos via celular da Wappa. Ei, você aí! Serviços financeiros móveis como os dois citados têm grande potencial de crescimento em mercados emergentes como o Brasil, onde nem todo mundo tem conta em banco mas quase todos têm um celular. Na Índia, há mais donos de celular do que titulares de contas bancárias – 60% da população está fora da economia oficial. Por isso o país foi escolhido para o início do projeto Nokia Money, que mira nas pessoas que, por não ter renda suficiente, não têm conta no banco nem cartão de crédito. Há plano de lançar o Nokia Money no Brasil, mas sem cronograma definido. A empresa responsável pela operação do Nokia Money é a americana Obopay, fundada com o propósito de oferecer um serviço financeiro a quem não tem conta bancária. Por mensagem SMS, site móvel ou aplicativo da Obopay, os usuários do serviço podem fazer transferências entre eles – o dinheiro da transição pode ter sido depositado na conta Obopay antecipadamente ou pode ser pago por meio de uma fatura, como a de um cartão de crédito. Além da parceria com a Nokia na Índia, a Obopay atua no Quênia e nos EUA. "Há cerca de 4 bilhões de celulares no mundo e apenas por volta de 1 bilhão de contas bancárias. Então há uma grande lacuna entre os dois. Uma das coisas que o dinheiro móvel pode fazer é romper essa diferença e levar os serviços financeiros para quem nunca os usou antes", afirma David Schwartz diretor sênior de produtos e marketing global da Obopay.