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Legado de Sheryl Sandberg é não deixar mulheres fora de altos cargos de tecnologia

Executiva ficou 14 anos como uma das principais executivas do Vale do Silício, enquanto era chefe de operações do Facebook

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Por Naomi Nix e Caroline O'Donovan
Sheryl Sandberg foi chefe de operações do Facebook por 14 anos antes de sair do cargo Foto: Philippe Wojazer/Reuters

Durante anos, a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, encorajou as mulheres a subir na hierarquia corporativa ao promover a si mesmas no lugar de trabalho e solicitar mais ajuda dos cônjuges em casa.

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Agora, a saída dela do Facebook, como uma das executivas mais importantes no mundo corporativo americano, simboliza o fim de uma era do feminismo de autoempoderamento que ela defendeu como uma ferramenta fundamental para combater o sexismo no local de trabalho.

Sheryl, 52 anos, anunciou no último dia 1º. que estava deixando o cargo de chefe de operações, depois de um período de 14 anos em uma empresa que ela ajudou a transformar de um site de rede social para universitários em um gigantesco negócio de publicidade digital. Sheryl, que se posicionou como defensora das mulheres no local de trabalho, disse que deixaria o Facebook para passar mais tempo com sua família e em seu trabalho filantrópico.

“Gostaria de pensar que a carreira que tive e a carreira de outras mulheres líderes inspiram as demais a entender que podem liderar”, disse ela em entrevista ao jornal americano Washington Post. “Se você estivesse crescendo há 100 anos, não conheceria uma única mulher no mundo dos negócios. Se você está crescendo hoje, conhece algumas. Espero que minhas filhas cresçam em um mundo onde existam muitas mais.”

Como uma das bilionárias mais ricas do mundo por esforço individual, Sheryl era um símbolo de que as mulheres poderiam chegar ao topo de uma indústria dominada por homens, como as empresas de tecnologia do Vale do Silício. O conselho dela para as mulheres que queriam alcançar o topo em suas carreiras era simplesmente “faça acontecer”, ou ser mais assertiva em seus empregos, o que se tornou um fenômeno cultural.

A palestra dela no TED Talk de 2010, um livro best-seller e a fundação sem fins lucrativos Lean In a levaram a uma espécie de estrelato no mundo corporativo que poucos diretores de operações usufruem quando são o número dois no comando das empresas onde trabalham.

Sheryl esteve durante anos entre os funcionários mais confiáveis para o CEO do Facebook Mark Zuckerberg, e as pessoas falavam dos dois informalmente como “co-CEOs” – tornando-a uma das poucas mulheres poderosas no comando de uma gigante da tecnologia.

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“Esta é uma grande perda no que diz respeito a ter mulheres representadas no Vale do Silício de forma significativa”, disse Crystal Patterson, ex-gerente sênior do Facebook e atual diretora administrativa da empresa de lobby Washington Media Group. “Não há outra Sheryl.”

Ao longo dos anos, Sheryl lutou para manter sua voz como defensora das mulheres, já que o Facebook, cujo nome mudou para Meta no ano passado, continuou a ser assolado por controvérsias políticas durante sua gestão. Ela enfrentou críticas a respeito de, entre outras coisas, a viralização de desinformação sobre a covid-19 e o papel que a empresa desempenhou na disseminação das falsas alegações do ex-presidente Donald Trump de que a eleição presidencial de 2020 foi fraudada.

“A importância dela como mensageira sem dúvidas mudou ao longo do tempo com o rumo da empresa”, acrescentou Crystal.

Teto de vidro

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Embora as mulheres tenham conquistado pequenas vitórias ao chegarem aos níveis mais altos de poder nas corporações, os cargos executivos, conhecidos como C-level, ainda são predominantemente ocupados por homens. Em 2021, 26% de todos os CEOs e diretores administrativos eram mulheres, uma alta em comparação aos 15% de 2019, de acordo com um relatório do Catalyst, grupo que defende a inclusão das mulheres nos locais de trabalho.

O movimento para ter mais mulheres em cargos de maior peso no mundo corporativo americano estagnou nos últimos anos. Diante de escolhas difíceis entre como equilibrar as aspirações de carreira com as demandas de cuidado dos entes queridos durante as paralisações causadas pela pandemia, muitas mulheres recuaram no mercado de trabalho. Um relatório de 2021 realizado pela McKinsey em parceria com a Lean In descobriu que 1 em cada 3 mulheres havia considerado deixar de trabalhar ou mudar de carreira, o que correspondeu ao aumento do número de mulheres que disseram o mesmo durante os primeiros meses da pandemia.

E as trabalhadoras, sobretudo aquelas de minorias raciais, costumavam estar em maior número entre os profissionais que mais foram impactados pela pandemia. Um relatório recente do National Women's Law Center descobriu que ainda havia 1 milhão de mulheres a menos na força de trabalho em janeiro de 2022 do que em fevereiro de 2020, enquanto os homens, em sua maioria, recuperaram os empregos perdidos durante aquele período.

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Sheryl disse em entrevista ao Post que acha que a campanha Lean In pode e vai sobreviver à sua saída do Facebook.

Senador Richard Burr (esq.) foi um dos chefes de comissão que interrogou Sheryl (dir.)no senado americano Foto: Jim Bourg/Reuters

Existem outras mulheres em cargos de destaque na tecnologia que poderiam continuar o movimento de onde Sheryl parou. No ano passado, Fidji Simo deixou seu cargo como chefe do aplicativo do Facebook para se tornar a CEO da Instacart. Deborah Liu, também ex-executiva do Facebook, tornou-se CEO da Ancestry.com. Susan Wojcicki é a CEO do YouTube, e Safra Catz é dona desse título na empresa de software Oracle.

A diretora jurídica do Facebook, Jennifer Newstead, e a diretora de negócios, Marne Levine, assumiram recentemente cargos importantes na gigante das redes sociais.

“Ainda há milhares de questões para as mulheres na tecnologia, mas Sheryl deixa um longo rastro de executivas que podem assumir esse posto”, disse Katie Harbath, ex-funcionária do Facebook e CEO da consultoria Anchor Change.

“Faça Acontecer”

A imagem de Sheryl como uma feminista no mundo corporativo ficou evidente pela primeira vez após o TED Talk de 2010, no qual ela contou o que acreditava serem as razões pelas quais as mulheres ainda tinham dificuldades para competir com os homens na ascensão na hierarquia corporativa. Ela argumentou, entre outras coisas, que as mulheres com frequência se retraíam por não receberem crédito por suas conquistas ou por não buscarem oportunidades mais ambiciosas pelo medo de não conseguirem lidar com as demandas de suas vidas pessoais.

“Ninguém chega aos melhores escritórios se escondendo, sem se mostrar”, disse ela. “E ninguém consegue uma promoção se não acredita que merece o seu sucesso.”

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Sheryl continuou a falar do tema no livro de 2013 “Faça Acontecer: Mulheres, Trabalho e a Vontade de Liderar”, que ajudou a colocá-la no centro das atenções. Mais tarde, ela criou a fundação Lean In, que ajuda a organizar grupos de networking para mulheres apoiarem umas às outras em suas carreiras.

Mas as reflexões de Sheryl rapidamente receberam críticas por não levarem em consideração os obstáculos extras enfrentados por mulheres negras e por aquelas que não trabalham em ambientes corporativos. Outros argumentaram que ela estava minimizando os obstáculos sistemáticos que mantêm as mulheres fora das salas de reuniões e exagerando no peso das ações delas mesmas na questão.

Amy Nelson, fundadora e co-CEO de uma startup de espaços de coworking para mulheres chamada Riveter, disse esperar que Sheryl se concentre em trazer maior equidade para a conversa que a Lean In iniciou.

“Ela estava falando de algo antes de muitas pessoas, no que diz respeito às profissionais mulheres, terem uma comunidade e defenderem umas às outras, e acho que o Lean In desempenhou um papel crucial ao mudar isso”, disse Amy. “Mas também acho que está muito claro que a capacidade de fazer acontecer é um privilégio em grande parte possuído por mulheres brancas, e a discussão esquece das mulheres que não têm dinheiro, conexões ou apoio.”

“Acho que precisamos ter essa conversa”, continuou Amy. “Não seria legal se Sheryl liderasse essa discussão?”

A estratégia do “faça acontecer” também encarou desafios filosóficos do movimento #MeToo, que destacou a cultura disseminada de assédio sexual e sexismo que existe até mesmo para mulheres altamente bem-sucedidas em suas carreiras. Entretanto, na semana passada, mulheres dentro e fora do Facebook a parabenizaram pelos passos dados por ela.

“Acho que ela iniciou esse movimento”, disse Debbie Frost, ex-executiva do Facebook e atual conselheira da Lean In. "Não acho que isso deixe de existir com a saída dela. Na verdade, acho que o impacto que ela pode ter em mais empresas e organizações agora será o que vai ser mais profundo e emocionante.”

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Quanto ao futuro de Sheryl, ela disse que ele ainda não está totalmente planejado. Ela vai se casar novamente em breve e continuar a criar seus filhos, disse em um post no Facebook ao anunciar sua saída da empresa.

“Não tenho certeza do que o futuro me reserva – aprendi que ninguém nunca tem”, disse ela no post. “Sei que haverá mais foco na minha fundação e no trabalho filantrópico, que é mais importante para mim do que nunca, levando em consideração como esse momento é crítico para as mulheres”./TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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