A startup de viagens de ônibus Buser começou seu plano para ir para estrada novamente: após mais de dois meses com toda a sua operação paralisada, por conta da quarentena, a empresa revelou ao Estadão que pretende colocar os ônibus para rodar já no dia 26 de junho. Segundo a empresa, a operação vai retornar de maneira moderada, com cerca de 10% a 20% da frota de parceiros anteriormente disponível na primeira semana. Antes, a empresa atendia cerca de 60 cidades do país. A Buser decidiu parar a circulação de todos os seus ônibus em 21 de março, na mesma semana em que a quarentena foi instituída para vários Estados do País.
“A gente vem acompanhando a evolução dos quadros. Por mais que a gente ache que as coisas sempre podem ser melhores, a gente entende que o Brasil conseguiu achatar a curva da doença. A ideia para voltar era fazer isso em um momento onde a gente pudesse fazer a operação mais segura possível”, afirma Marcelo Abritta, presidente e fundador da Buser, em entrevista ao Estadão.
Abritta explica, ainda, que a decisão foi pautada na situação da doença no país e na flexibilização das medidas de segurança, principalmente no estado de São Paulo, onde o governador João Doria deu início a um plano de retomada das atividades no início de junho. Nas últimas 24 horas, o Brasil registrou mais de 1,2 mil mortes e 23 mil novos casos de coronavírus, segundo dados do levantamento realizado pelo consórcio de veículos da imprensa brasileira.
“Estamos também atentos com a comunicação. Antes, a gente incentivava as pessoas a viajarem mais, abaixando o preço e dando desconto. Agora estamos com uma atitude bem mais cautelosa", diz Abritta. "Estamos voltando, porque entendemos que algumas pessoas precisam viajar, mas estamos inclusive perguntando no site se as pessoas realmente precisam se deslocar".
Mesmo sem receita, empresa afirma que não demitiu durante a crise
A crise representou um momento de direcionamento de outros projetos dentro da startup. Com o faturamento próximo de zero, Abritta conta que os investimentos adquiridos anteriormente foram fundamentais para manter a empresa durante o período. Entre os investidores da Buser está o grupo japonês SoftBank, que liderou um aporte de pelo menos R$ 300 milhões no final do ano passado.
Segundo ele, por conta de uma equipe enxuta, a Buser não precisou fazer nenhuma demissão no período e pode concentrar esforços nas áreas de tecnologia e desenvolvimento, com atualizações no site e no sistema de segurança de motoristas nos ônibus, por exemplo. Outra medida foi a relação próxima com operadores de ônibus para renegociar prazos com outros fornecedores. Para esses serviços, a Buser disponibilizou R$ 2 milhões para que as empresas de transporte associadas, responsáveis pelas viagens, pudessem manter sua folha de pagamento em dia.
“Nós achamos que o certo era parar 100%. Quando a gente parou, resolvemos focar na frente de tecnologia, que vai refletir na nossa retomada. Gastamos dinheiro e claro que o melhor era continuar crescendo, mas conseguimos aproveitar esse tempo”, afirma Abritta.
Como vai funcionar a retomada
As viagens daqui para frente também seguirão uma série de regras de segurança para os passageiros. A ocupação dos assentos, por exemplo, será diminuída: os passageiros poderão viajar apenas nas poltronas da janela, e a fila de espera para preencher possíveis ausências na viagem também será limitada.
Medidas mais básicas, como uso de máscaras, utilização do álcool gel e a verificação da temperatura também são parte da nova rotina de viajantes e motoristas da empresa. No retorno, os motoristas também entram nas restrições para o trabalho — todos os que pertencerem ao grupo de risco não vão retornar nesse primeiro momento.
Registrando crescimentos mensais desde o final do ano passado, a Buser aposta que as operações, mesmo que limitadas, vão ser importantes para o processo de retomada da empresa. Abritta ainda afirmou que, em boa situação, a empresa opera em um projeto a longo prazo, o que permite que a pausa, por conta do coronavírus, não impacte diretamente no resultado esperado daqui para frente.
“Temos investidores que nos apoiam e que sabem que essa situação não vai durar para sempre. Nosso projeto tem três anos e vai demorar mais uns 10 para chegar onde a gente quer chegar", afirma Abritta. "Atrasar seis meses em um projeto longo não teve muito impacto para os investidores. Conseguimos voltar em uma posição boa e estamos prontos”.
Nos próximos passos, a estratégia é pensar aos poucos, para continuar oferecendo as viagens na plataforma. Se necessário, Abritta afirma que a empresa vai dar um passo atrás para se adequar à evolução da doença nas cidades. “São dois fatores: existe a crise financeira e o medo do coronavírus, que não vai sumir da noite pro dia. Nossa visão é que tudo será planejado a curto prazo, temos que pensar semanalmente. Não vamos ter problema nenhum em sair de uma praça que já tínhamos voltado a operar”, explica.
*É estagiária, sob supervisão do editor Bruno Capelas