A imagem dos CEOs das maiores empresas de tecnologia do mundo – Jeff Bezos, da Amazon; Mark Zuckerberg, da Meta; Elon Musk, do X, da Tesla e da SpaceX; Tim Cook, da Apple; Sundar Pichai, do Google; e outros – sentados lado a lado na posse de Donald Trump em 2025, ecoou como um sinal dos tempos. Mais do que um simples evento social, essa presença massiva representa uma mudança sísmica na geopolítica global, com implicações profundas para a regulação tecnológica, a privacidade de dados e o papel das empresas de tecnologia na sociedade.
Historicamente, as relações entre o governo dos EUA e as grandes empresas de tecnologia foram marcadas por tensões, envolvendo questões regulatórias, privacidade e concorrência. No entanto, o atual cenário reflete um ambiente de maior colaboração, especialmente em torno de temas como inteligência artificial (IA), segurança nacional, soberania tecnológica e “liberdade de expressão”. Essa aproximação é impulsionada pela compreensão de que a IA, particularmente o desenvolvimento de inteligência artificial geral (AGI), tornou-se um campo de disputa estratégica entre as nações.

A corrida pela supremacia em IA tem como principal rival a China, cuja ascensão tecnológica desafia o protagonismo dos Estados Unidos. Taiwan, principal produtor de semicondutores essenciais para o funcionamento de tecnologias de IA, emerge como um ponto crítico nessa disputa. As tensões em torno do controle de Taiwan, somadas à dependência global de seus chips, aumentam a complexidade desse embate geopolítico.
Além disso, o alinhamento das redes sociais ao espectro da direita política também é um fenômeno notável. O banimento do TikTok nos EUA e o afrouxamento crescente das políticas de moderação de conteúdo em plataformas do X (antigo Twitter), e da Meta (dona do Instagram, Facebook e WhatsApp) indicam mais espaço para disseminação de conteúdo falso e discursos de ódio. Essa nova postura também deve intensificar a polarização global e enfraquecer iniciativas como ESG e DEI, vistas como agendas “progressistas”, em um movimento que já começou.
O economista Yanis Varoufakis sugere que o capitalismo tradicional está sendo substituído por uma nova estrutura socioeconômica onde as grandes corporações tecnológicas atuam como “senhores feudais” modernos, no que ele chama de “tecnofeudalismo”. Nessa configuração, essas empresas detêm controle significativo sobre os dados e comportamentos dos usuários, estabelecendo relações de dependência surpreendentemente semelhantes às do feudalismo medieval. A presença proeminente de líderes tecnológicos na posse presidencial e o subsequente alinhamento com políticas governamentais podem intensificar essa dinâmica, consolidando o poder dessas corporações e potencialmente marginalizando o papel dos estados e das democracias tradicionais, especialmente em nações emergentes. Essa concentração de poder econômico e político nas mãos de poucos atores privados levanta preocupações sobre a erosão da soberania nacional e a diminuição da influência democrática nas decisões que afetam a sociedade como um todo.
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Para o Brasil, essas mudanças trazem implicações significativas. A dependência tecnológica dos Estados Unidos deve se concentrar ainda mais, tanto do ponto de vista do acesso a modelos de inteligência artificial avançados, como no controle midiático. Isso pode limitar a soberania digital brasileira, aumentando a vulnerabilidade em relação ao controle de plataformas de comunicação e à disseminação de informações. Além disso, a concentração de poder nas mãos de empresas alinhadas ao governo americano pode dificultar o equilíbrio das relações internacionais no campo tecnológico e político, pesando ainda mais a balança de poder para o lado dos EUA.
Em resumo, a nova dinâmica entre as big techs e o governo estadunidense sob a liderança de Donald Trump representa uma reconfiguração do poder econômico, político e social global. Essa aproximação não apenas moldará o futuro da tecnologia, mas também impactará profundamente as relações internacionais, a segurança digital, os regimes democráticos e o equilíbrio de forças na geopolítica mundial. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos!