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Opinião | Facebook vive um falso dilema entre transparência e privacidade, diz ex-funcionária

Frances Haugen disse acreditar que a empresa seria melhor sem Mark Zuckerberg como CEO

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Foto do author Felipe Matos
Atualização:

Depois de um hiato de um ano por causa das pandemia, o Websummit, um dos mais importantes eventos de inovação do mundo, está de volta à Lisboa e em formato presencial, ainda que com restrições de público. Neste ano, a arena Altice recebeu “apenas” 40 mil pessoas, ao contrário das 100 mil em anos anteriores, todos vacinados ou testados e utilizando máscaras faciais.

Depois das apresentações de startups selecionadas e um emocionante depoimento da fundadora do movimento Black Lives Matters, Opal Tometi, chegou a vez do depoimento mais aguardado. A estrela da noite foi Frances Haugen, a ex-funcionária que vazou dados da empresa de Mark Zuckerberg, defendendo que a companhia sabia de vários problemas sociais e políticos causados por seus algoritmos e fez pouco para resolvê-los para priorizar os lucros.

Frances Haugen, a ex-funcionária que vazou dados da empresa de Mark Zuckerberg. Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

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Frances foi apoiada pela Whistleblower Aid, uma organização que colabora com funcionários de grandes empresas, dando apoio jurídico, psicológico e de segurança para que eles as denunciem, vazando dados e documentos que possam levar ao conhecimento de problemas e, ultimamente, aumentar a pressão social e legal para que eles sejam solucionados.

No palco, Haugen disse que o Facebook prega falsos dilemas, entre privacidade e transparência, e entre liberdade de expressão e censura. Ela disse que a empresa constrói sistemas de segurança para impedir que discursos violentos e de ódio proliferem na plataforma, mas que eles são feitos de forma individualizada para cada idioma. Por isso, países pobres com mercados pequenos não têm o mesmo nível de segurança e isso estaria levando a um forte aumento de violência em regiões pobres do mundo.

Ela também apontou falta de transparência na forma como a empresa toma decisões sobre como a plataforma funciona, inclusive em comparação com outras empresas, como Google e Twitter. Frances defende que o Facebook se torne mais aberto e que possa ser vigiado publicamente por pessoas e organizações. “Deveríamos ter 10 mil olhos no Facebook para garantir sua segurança”, disse.

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Sobre a Meta, novo nome da empresa que reflete esforços para criar soluções de realidade virtual voltadas para o metaverso, Hagen se mostrou chocada com o fato de uma empresa que, segundo ela, tem problemas básicos na segurança em seus algoritmos, preferir investir em milhares de engenheiros para desenvolver “videogames” em vez de focar na solução desses graves problemas já existentes.

A ex-funcionária disse acreditar que a empresa seria melhor sem Mark Zuckerberg como CEO. Ainda completou afirmando que o fato dele ser presidente do conselho e o principal executivo ao mesmo tempo, com 54% das ações, faz com que os acionistas não tenham o direito de removê-lo de lá. Ela crê, no entanto, que isso tende a mudar.

Frances encerrou afirmando que acredita na missão da empresa, que é de conectar as pessoas. "Este é um sonho bonito e acredito que Zuckenberg é uma boa pessoa e que cometeu erros", disse. "Porém, o problema é insistir nos mesmos erros, mesmo depois de saber de suas consequências. Acredito na capacidade das pessoas e o Facebook pode ser sim muito mais seguro se forem feitos esforços nessa direção."

Opinião por Felipe Matos

CEO da Sirius, vice-presidente da Associação Brasileira de Startups e autor do livro 10 Mil Startups.

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