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Among Us: o jogo que provoca aglomerações online em meio à pandemia

YouTubers, influenciadores e streamers popularizaram o jogo multiplayer de 2018, que não havia feito sucesso quando lançado; aí seus seguidores começaram a jogar também

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Por Taylor Lorenz
lançado sem muito espet'culo em 2018, o jogo se popularizou na quarentena entre adultos e adolescentes Foto: The New York Times

Quando a InnerSloth, uma empresa de games indie, lançou Among Us em 2018, ninguém fez muita festa. O jogo multiplayer ficou fora do radar, assim como acontece com muitos outros jogos independentes. Aí veio a pandemia. Fazendo de tudo para manter os espectadores entretidos durante a quarentena, Chance Morris, conhecido online como Sodapoppin, começou a fazer streaming do jogo para seus 2,8 milhões de seguidores no Twitch em julho.

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Em meados de setembro, Among Us pegou fogo feito um incêndio. De repente, grandes estrelas do YouTube, influenciadores e streamers do TikTok estavam jogando. Um dos maiores youtubers do mundo, PewDewPie transmitia partidas para milhões. 

Among Us é um jogo multijogador para 4 a 10 jogadores, que são colocados numa nave alienígena. A cada jogador é designado um papel como “tripulante” ou “impostor”. Os tripulantes devem circular pela nave completando um conjunto de tarefas, ao mesmo tempo em que evitam serem mortos por um ou vários impostores. 

Os jogadores podem ser expulsos da nave por votação, então toda partida vira um jogo de sobrevivência: para vencer, é preciso completar todas as tarefas ou votar certo para expulsar os impostores. É simples, engraçado e fácil o suficiente para uma criança de 5 anos jogar num iPhone.

Os jovens seguidores de influencers que estavam só assistindo às transmissões de Among Us, também começaram a jogar. Milhões de adolescentes e crianças de todo o país ficaram viciados em Among Us, que começou a servir como uma plataforma social para jovens presos na quarentena.

“Algumas semanas atrás, a coisa virou: de não ouvir nada sobre o jogo em lugar nenhum para ouvir tudo em todo lugar”, disse Judah Rice, 16 anos, estudante de ensino médio no Texas. “As pessoas estão mandando mensagens de texto sobre o game, conheço gente que está em grupos de chats e servidores Discord dedicados a Among Us. Tenho amigos que se encontram o tempo todo para jogar”.

Misto de rede social e app de chamadas de voz voltado ao público fã de games, o Discord começou a ter servidores (isto é, grupos) dedicados a Among Us no início de setembro. Num deles, mais de 98 mil adolescentes se conectam, socializam, discutem e jogam o game. Benson, 13 anos e administrador do servidor, disse que muitas vezes rolam de trinta a quarenta partidas diferentes do game a qualquer hora do dia nos canais de chat de voz no servidor.

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“Todo mundo tem entre 13 e 20 anos”, disse ele. “Meus amigos jogam sempre que o professor não aparece na aula online, é uma maneira de passar o tempo quando você não tem mais nada para fazer. Já que não podemos nos encontrar de verdade num lugar público como o parque, Among Us permite que a gente esteja em distanciamento social online”.

Um jogo de tabuleiro ou de salão, só que online

Among Us é muito diferente de outros videogames altamente sociais como Fortnite, por exemplo. É mais parecido com jogos de tabuleiro, como Banco Imobiliário, ou jogos de salão, como Detetive, em que os jogadores precisam decifrar as personalidades e determinar quem está tentando mentir para vencer. O tamanho do grupo facilita o convite a novos amigos.

“Você acaba conhecendo muita gente jogando Among Us. Fiz vários amigos com o jogo”, disse Juan Alonso Flores, 17 anos, estudante de ensino médio na Flórida. “Assim que você começa a jogar com as mesmas pessoas, vocês começam a se conhecer. Aí você pega o número de celular, as tags de Discord”.

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Não são apenas os adolescentes que estão criando laços durante o jogo. Adultos que não podem mais ir a um bar ou a uma festa depois do trabalho também estão encontrando uma comunidade no Among Us. Ricky Hayberg, 36 anos, escritor e apresentador do Internet Today, um canal de cultura e tecnologia no YouTube, disse que fez amizades mais fortes com pessoas que conheceu jogando Among Us nos últimos dois meses do que com aquelas que conhece off-line há anos.

“O jogo faz surgir uma conversa mais natural. É mais um jogo de festa. Você está lá com os amigos, o jogo é secundário”, disse Hayberg. “Para se destacar no jogo, você precisa saber se as pessoas estão mentindo ou dizendo a verdade, precisa conhecer sua personalidade geral”.

Em plena ascensão, os streamers no Twitch continuam impulsionando o jogo. “Se alguém tinha alguma dúvida de que os streamers do Twitch eram influenciadores de peso, agora provamos que isso é verdade”, disse Erin Wayne, diretora de comunidade de marketing de criadores do Twitch.

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Os fãs do Twitch até agora assistiram a mais de 200 milhões de horas de Among Us na plataforma este ano. Nathan Grayson, redator do site de jogos Kotaku, disse que o game foi projetado exclusivamente de uma maneira que o deixa muito mais divertido de assistir do que um jogo de tiro em primeira pessoa: os espectadores podem ver os influenciadores baixarem a guarda e se apresentarem como realmente são.

“O jogo gira em torno do engano e da personalidade das pessoas que jogam”, disse Grayson. “Isso traz de volta o espírito de estar perto de seus amigos. Among Us foi projetado para que os streamers joguem uns com os outros e também façam streams em que todos estão transmitindo em canais separados, com seu público especulando no chat, tentando descobrir quem é o impostor”.

Phil Jamesson, de 28 anos, comediante que transmite no Twitch, disse que o jogo é parecido com uma série como Hot Ones, onde os seguidores podem ver suas celebridades favoritas deixando de lado a fachada e tentando aguentar comer coxinhas de frango cada vez mais picantes. “Quando as emoções são intensas, as barreiras caem. Quando alguém está acusando você de matar um amigo no jogo, você vê as pessoas como elas realmente são, e não como elas querem que você as veja”, disse ele. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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