Gigantes dos games iniciam nova fase na E3 2018

Durante a feira E3, Sony, Nintendo e Microsoft mostraram novas táticas para lucrar num mercado que deve movimentar US$ 140 bi em 2018

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Durante a E3, a japonesa Nintendo anunciou diversos games para seu videogame Switch, entre eles três jogos do encanador Mario Foto: FREDERIC J. BROWN | AFP

Maior feira de games do mundo, a Electronic Entertainment Expo, conhecida como E3, mostrou na última semana que o futuro dos videogames será cada vez mais ao gosto do freguês. Os anúncios de fabricantes como Microsoft, Nintendo e Sony apontam que, em alguns anos, games de alto desempenho poderão ser transmitidos via internet para qualquer dispositivo, seja celular, computador ou console. Em vez de apostar todas as fichas em gráficos cada vez melhores, que definiram a indústria na última década, os fabricantes devem focar em experiências mais relevantes a partir de agora.

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Essa mudança de paradigma impressiona, já que nunca se ganhou tanto dinheiro com videogames. Segundo a consultoria Newzoo, o setor deve faturar US$ 137,8 bilhões em 2018, sendo US$ 34,6 bilhões com consoles. Para continuar a surfar essa onda, cada fabricante adotou um plano: a Nintendo apostou em inovação; a Sony, em vender grandes jogos; e a Microsoft, em transformar games em serviço.

Caixa de brinquedos. Na E3, a Nintendo tinha o desafio de tornar rentável sua grande inovação: o híbrido de console e portátil Switch, que já vendeu 18 milhões de unidades desde março de 2017. Para isso, recorreu ao personagem icônico Mario, que apareceu em três novos games que chegam até o final do ano. Eles devem vender bem, mas não impressionaram o mercado. “A Nintendo poderia mostrar novas formas de jogar”, diz o professor de comunicação digital da PUC-RS, André Pase.

A japonesa, porém, surpreendeu ao anunciar o game online Fortnite no Switch. Atual sensação nos consoles, computadores e em celulares, o jogo é gratuito e teve 2 milhões de downloads em 24 horas após o lançamento no Switch. “A Nintendo percebeu que precisa se abrir para fazer o Switch dar certo. É um belo começo”, avalia Arthur Protásio, designer de games da produtora brasileira Fableware. “E no Switch, Fornite pode ser um sucesso: ele tem qualidade gráfica superior aos celulares e é portátil, coisa que PS4 e Xbox One não são.”

Tradicional. Atual líder de vendas em consoles, com 79 milhões de PlayStation 4 vendidos, a Sony vive ótima fase. Em seu último ano fiscal, teve lucro de US$ 6,5 bilhões, graças a grandes jogos como Uncharted e God of War. Das três fabricantes, ela tem o modelo mais clássico: vender jogos que retêm a atenção dos usuários por horas. “Queremos manter o bom momento, trazendo grandes títulos”, diz Anderson Gracias, gerente de PlayStation para a América Latina.

Em sua conferência na E3, a empresa focou em games como Homem-Aranha, baseado no herói da Marvel, na continuação do sucesso recente The Last of Us e Death Stranding – o novo jogo de Hideo Kojima, criador de Metal Gear Solid. “A Sony percebeu que a tecnologia evolui, mas os personagens se tornam atemporais”, diz Protásio.

Os dois últimos títulos, porém, não têm data para serem lançados. “Com isso, a Sony deixa o público ansioso”, diz Pase. “Até agora a tática deu certo, mas pode não dar mais.” Além disso, na comparação com anos anteriores, a Sony trouxe menos novidades, num sinal de que pode já estar pensando na próxima geração do PlayStation.

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Evento teve quase 70 mil participantes em três dias Foto: Colin Young-Wolff | Invision for Activision

Serviços. Phil Spencer, líder da divisão de games da Microsoft, falou sobre uma nova geração do Xbox na E3. “Um time de engenheiros já está pensando no que pode ser a próxima geração de videogames e trabalhando para fazer streaming de games em qualquer dispositivo”, disse. É um sonho antigo da indústria e uma promessa que pode mudar radicalmente o setor, como Netflix fez com o cinema.

A Microsoft já ensaia esse modelo com o Game Pass, serviço que dá acesso a um catálogo de mais de cem jogos – incluindo lançamentos exclusivos da empresa, como Sea of Thieves. “Hoje, conteúdo está lado a lado de conectividade e nuvem para nós”, disse Matt Booty, diretor da Microsoft Studios, em entrevista ao Estado.

É uma tática em linha com a Microsoft dos últimos anos, comandada por Satya Nadella: hoje, o pacote Office é mais acessado pela nuvem como um serviço do que como licença. Com os games, espera a Microsoft, pode ser igual. Mas há empecilhos nessa estratégia “conectada” – especialmente nos países emergentes. “Já sofremos com os downloads de grandes atualizações que os videogames têm, com os problemas de conectividade no Brasil”, diz Pase.

Mundo aberto. A transmissão de jogos pela internet é só uma das fronteiras que uma nova geração de videogames pode ter de superar. Para os executivos e especialistas ouvidos pelo Estado, é difícil imaginar o que mais pode vir a seguir. Há, porém, quem já vislumbre novas possibilidades: é o caso de Cory Barlog, diretor criativo de God of War, um dos maiores sucessos de crítica e público de 2018.

“Estamos evoluindo na direção de histórias e personagens mais profundos, com interações mais significativas”, explicou ele. “Poderíamos ter, por exemplo, uma assistente pessoal como a Alexa, da Amazon, dentro dos jogos de videogame: ela poderia ouvir o que o jogador diz e responder. Precisamos de processamento para isso, mas seria incrível.”

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