O paulista Mike Krieger nunca trabalhou com programação, só brincava com códigos e fuçava aplicativos. Mas ao completar seu curso em Stanford, no Vale do Silício, viu-se fundador de um serviço que, logo depois de ser lançado, recebeu investimento de US$ 7 milhões da financiadora Benchmark Capital, com participação de gente da estatura de Jack Dorsey (criador do Twitter) e Adam D’Angelo (ex-chefe de tecnologia do Facebook).
O que atrai tanto interesse é um aplicativo de fotografia para smartphones que Mike, junto do norte-americano Kevin Systrom, levou dois meses para imaginar e publicar. Lançado em outubro de 2010 na App Store, o Instagram foi adotado por 100 mil pessoas em sua primeira semana, marca que o Twitter, por exemplo, só conseguiria depois de dois anos. Agora, com quatro meses, a comunidade em torno da ferramenta já tem 1,7 milhão de donos de iPhones – a versão para Android ainda não saiu – que sobem, todo dia, mais de 290 mil imagens. Empresas como a Starbucks e a Pepsi já fizeram parcerias para divulgar publicidade no serviço, enquanto a National Geographic ou a CNN usam suas contas para postar fotos de acontecimentos recentes. “Não esperávamos que as pessoas embarcassem nessa velocidade na proposta, é muito raro isso acontecer”, diz Krieger, de 24 anos, criador e um dos quatro (pois é) funcionários da startup.
Ele trabalhou por um tempo na startup Meebo, daquele emulador de MSN. Na faculdade, conheceu Systrom, que circulava pelo Google, onde trabalhou por um tempo no Gmail. Juntos, queriam criar uma rede de geolocalização chamada Burnb. “Vimos que era complicado demais e abandonamos a ideia. Decidimos lançar só uma das capacidades do serviço – fotografar, adicionar filtros e compartilhar fotos vinculadas a locais”, explica.
Uma ideia que poderia vir do Flickr, que, sem estratégia para celulares, perdeu 16% dos seus usuários em 2010 e viu o Facebook receber 92% mais uploads de imagens no mesmo período. Tudo isso porque a experiência de uso de apps como o Instagram é mais simples e móvel. O app, que ainda não tem site, cresce por aproveitar a estrutura já disponível em plataformas como Facebook, Twitter, Tumblr e Foursquare.
Vários filtros podem ser adicionados às fotos e esse é o motivo de seu sucesso. As texturas dão uma cara descolada e vintage até para as imagens mais porcas. Mas os extras preferidos dos hipsters são os efeitinhos visuais coloridos que emulam as amareladas fotos da Polaroid. Tem um quê de TwitPic e outro de Tumblr, mas é usado por gente com pretensões mais, digamos, “artísticas”. “Moramos em São Francisco, capital mundial dos hipsters”, brinca o brasileiro, “mas nossa estética atrai todo tipo de pessoa”.
Sua popularidade se deve muito à proposta compacta, de ferramenta complementar. Mas o crescimento pode levar a companhia a entrar na briga por uma nova fatia do mercado: a de redes sociais de foto para smartphones.
David Moran, outro ex-Facebook, em parceria com Shawn Fanning, criador do Napster, inventou uma delas, o Path, uma dessas ideias que todos dizem que vai pegar, mas ninguém usa ainda. O Google quis comprá-la no berço por US$ 100 milhões, mas os criadores do serviço não quiseram e logo depois receberam “apoio” de mais de US$ 8 milhões para continuarem independentes.
Path, Instagram e PicPlz (que roda no iPhone e no Android e captou US$ 5 milhões) formam o novo bloco de startups que querem tirar proveito da onipresença de celulares, o alcance das redes sociais e a ausência de concorrência estabilizada para criar um novo nicho na área da fotografia social, evolução do conceito lançado por Flickr e Picasa. Alguma dúvida de que os empreendimentos de fotografia do futuro estarão nas lentes deles?
—- Leia mais: • Link no papel – 07/02/2011