A Blue Origin, empresa do bilionário Jeff Bezos, realizou na madrugada desta terça-feira, 16, o lançamento do foguete New Glenn, tido como o mais poderoso da companhia. Inicialmente agendado para sexta-feira, 10, o voo foi adiado para o domingo, 12, e depois para segunda-feira, 13, até ser confirmado nesta madrugada. Reveja o lançamento.
A decolagem não aconteceu sem novos sustos. Duas interrupções na contagem regressiva atrasaram o lançamento – uma devido ao resfriamento dos motores e outra por conta de um barco que invadiu a área de segurança. O foguete decolou por volta das 4h (horário de Brasília) e atingiu a órbita 13 minutos após o lançamento, cumprindo seu objetivo principal. Até as 10h30 desta quinta, a Blue Origin não deu atualização sobre o retorna da cápsula para a Terra. Um porta-voz da Blue Origin não respondeu sobre onde, exatamente, o veículo devia reentrar. Mas era esperado que o veículo não fosse recuperado. É comum que partes de foguetes que deviam voltar para a Terra sejam manobradas para uma “órbita cemitério”.
Era programada a recuperação do primeiro estágio do foguete em uma balsa no Oceano Atlântico, mas a empresa informou que isso não ocorreu. O equipamento perdeu o sinal com o controle e deixou de enviar dados após iniciar o processo de retorno autonomamente para a plataforma de pouso. Apesar disso, a empresa considera ter tido sucesso com a decolagem ao atingir a órbita. Estão programados mais oito lançamentos do New Glenn para 2025, um deles já entre março e junho.
A missão, que era prevista para durar cerca de seis horas e encerrar às 10h no horário de Brasília, partiu do Complexo de Lançamento 36, na Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida. Ela inclui testes como a análise da telemetria do foguete no espaço e a avaliação da performance dos sistemas de rastreamento, comando e comunicação.

Por meio de uma publicação no X, antigo Twitter, o feito foi parabenizado por Elon Musk, dono da Space X, empresa que lidera o setor da exploração espacial comercial há anos. “Parabéns por chegar à órbita na primeira tentativa!”, disse em menção a Bezos. O fundador também postou em seu perfil imagens da decolagem.
O sucesso do lançamento acirra a corrida espacial entre as empresas Bezos e Musk, que disputam, inclusive, contratos bilionários com a Nasa. Além disso, o sucesso do New Glenn pode colocar a Blue Origin no mercado de conexões por internet via satélites de órbita baixa, um setor dominado pela empresa de Musk por meio da Starlink. Bezos planeja algo parecido com o Projeto Kuiper, que já anunciou operação no Brasil - e a Blue Origin poderá colocar os satélites em órbita na mesma escala que SpaceX faz com a Starlink.
“Estou incrivelmente orgulhoso de o New Glenn ter alcançado a órbita na sua primeira tentativa”, disse Dave Limp, CEO da Blue Origin. “Sabíamos que pousar nosso propulsor, So You’re Telling Me There’s a Chance, na primeira tentativa era uma meta ambiciosa. Vamos aprender muito com o dia de hoje e tentaremos novamente no nosso próximo lançamento nesta primavera. Obrigado a todos da Equipe Azul por este marco incrível.”
A missão NG-1 levou o Blue Ring Pathfinder, uma carga útil responsável por testar tecnologias para o veículo de transferência orbital Blue Ring - o sistema entrou em operação durante o voo. A carga é um tipo de “rebocador espacial”, que possui um conjunto de comunicação, sistemas de energia e computadores de voo instalados. Essas ferramentas permitem que os satélites sejam posicionados em diferentes órbitas.

Revelado em 2016, o New Glenn tinha estreia marcada para 2021, mas o demorado - e custoso - processo de desenvolvimento atrasou. Entre o anúncio e o lançamento, a Blue Origin ainda teve problemas legais com a NASA e a SpaceX a respeito dos contratos de lançamento e foi acusada por alguns funcionários de tomar atalhos em normas de segurança.
O foguete, ainda deve ser usado para lançar satélites e outras espaçonaves, inclusive aquelas projetadas para irem a Lua. Além da Nasa, a empresa já tem contratos com a Space Force (Força Espacial dos EUA) para apoiar operações militares.
“Estamos focados em aumentar nossa cadência de lançamento e taxas de produção. Meus sinceros agradecimentos a todos na Blue Origin pelo tremendo trabalho em tornar o sucesso de hoje possível, e aos nossos clientes e à comunidade espacial pelo contínuo apoio”, disse Jarrett Jones, vice-presidente responsável pelo lançamento.

Para comportar a carga e o lançador, o New Glenn tem 98 metros de altura - o que é equivalente a um prédio de 30 andares - e sete metros de diâmetro, o que permite duas vezes o volume dos sistemas de lançamento comercial padrão.
Segundo a empresa, o primeiro estágio do New Glenn foi projetado para um mínimo de 25 voos. A Blue Origin diz que a nave opera com combustível mais limpo que o padrão, o que resultará em redução de poluentes e de custos. Além disso, a espaçonave foi projetada para ser reutilizável desde essa primeira fase. O New Glenn lançará cargas úteis em órbitas de alta energia e pode transportar mais de 13 toneladas métricas para a órbita de transferência geoestacionária (GTO) e 45 toneladas métricas para a órbita terrestre baixa (LEO).
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O foguete foi batizado em homenagem a John Glenn, o primeiro americano a orbitar a Terra. A Blue Origin vai tentar recuperar o primeiro estágio do foguete logo no primeiro voo. Assim como a SpaceX, uma plataforma marítima - nomeada de Jacklyn, uma homenagem à mãe de Bezos - estará no meio do Oceano Atlântico caso o foguete consiga passar a entrada na atmosfera e se alinhar para o pouso.
Agora, a Blue Origin foca no desafio de aperfeiçoar a tecnologia de pouso vertical para o New Glenn, um foguete maior do que o New Shepard, outro modelo da empresa. A SpaceX enfrentou uma trajetória similar e passou por fracassos antes de conseguir dominar essa técnica com sucesso.