Este é o ano em que a inteligência artificial amadureceu para alguns dos principais ramos da economia, ao menos enquanto recurso de marketing. No domingo, a Salesforce, que oferece software online para vendas, anunciou que acrescentaria inteligência artificial aos seus produtos. Seu sistema, chamado Einstein, promete vislumbrar as melhores tendências de vendas que as empresas devem seguir e apontar quais são os próximos produtos a ser desenvolvidos.
A Salesforce se antecipou à Oracle, maior empresa de software empresarial do mundo, que deu início no domingo à noite ao seu evento anual voltado para o consumidor, em São Francisco, na Califórnia. Entre os principais recursos novos do software da Oracle estão análise em tempo real de imensos volumes de dados.
Em outros segmentos, a General Electric está promovendo seu negócio de inteligência artificial, com um software chamado Predix. A IBM tem mostrado sua tecnologia, o Watson, conversando com Bob Dylan. Essas jogadas, acompanhadas de projetos similares na maioria das demais empresas de tecnologia e consultoria, representam anos de trabalho e bilhões em investimentos.
Há grandes avanços em inteligência artificial em agricultura, manufatura e aviação, entre outras áreas. Tudo é muito animador, como ocorre com as grandes possibilidades, e não faltam os slogans e termos do momento. Mas será que as empresas enxergarão nisso algum valor ou compreenderão como a inteligência artificial pode ser valiosa para elas?
“Ninguém sabe ao certo como usar isso para agregar o máximo valor”, disse Marc Benioff, cofundador e diretor executivo da Salesforce. “Creio que, no momento, a ideia é ajudar as pessoas a fazerem aquilo em que são boas, delegando mais tarefas às máquinas.”
Benioff se refere ao valor da inteligência artificial no longo prazo. A tecnologia passa por uma fase já conhecida: é estranha e nova, podendo às vezes prometer mais do que é capaz de cumprir e voltando-se para usos que não foram previstos.
Ciência. Oculta em expressões como aprendizado profundo e inteligência de máquinas, a inteligência artificial é essencialmente uma série de exercícios avançados com base em estatística que analisam o passado para indicar o futuro provável ou observar escolhas anteriores do consumidor para descobrir onde se deve investir mais ou menos energia. Isso representa uma oportunidade, que muitas empresas receiam ficar de fora.
Boa parte da explosão atual da tecnologia remonta a 2006, quando a Amazon começou a vender poder de processamento barato na internet. Naquele mesmo ano, Google e Yahoo divulgaram métodos estatísticos para lidar com o incalculável volume de dados do comportamento humano. Em 2007, a Apple lançou o primeiro iPhone, dispositivo que deu início a uma explosão na coleta de volumes incalculáveis de dados.
Subitamente, antigos experimentos com inteligência artificial se tornaram relevantes e surgiu o dinheiro necessário para o desenvolvimento de novos algoritmos. Dez anos mais tarde, a computação é hoje mais barata do que nunca. Além disso, as empresas vivem online e os sensores coletam um vasto volume de dados.
Experimento. O medo de ver um concorrente se dar bem com inteligência artificial antes é motivação de sobra para que algumas empresas experimentem novidades nesse campo.
A Salesforce está vendendo o Einstein como sistema capaz de usar a magia da previsão sem a necessidade de analisar seus dados, numa jogada que Benioff descreve como “democratizante” e capaz de criar milhões de usuários fora da comunidade dos engenheiros.
“Há o medo de entregar ao Google e à Microsoft o controle de tudo, mas, ao mesmo tempo, existe o desejo de aplicar a inteligência artificial a tudo que é digital”, diz Michael Biltz, diretor de visão tecnológica da consultoria Accenture. Ainda é cedo para saber se a inteligência artificial chegou para ficar. Uma tecnologia atinge a maturidade verdadeira quando desaparece. Podemos falar em “telefone”, mas estamos nos referindo a um computador de mão com poder de processamento digno da Nasa.
A inteligência artificial está provavelmente destinada a algo semelhante: com ela, as empresas poderão analisar imensos volumes de dados, em tempo real. Quando chegarem a esse objetivo, ninguém poderá imaginar qual será a nova e estranha febre tecnológica que surgirá.
/TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ