Em seu site pessoal, Mark Surman se descreve como um "ativista da tecnologia comunitária há quase 20 anos". É uma definição precisa: até virar diretor-executivo da Fundação Mozilla, Surman teve um fanzine nos anos 80, envolveu-se com projetos de vídeo comunitário nos anos 90 e trabalhou com diversas ONGs por todo o período. Com viagem marcada para lançar o projeto Drumbeat no Brasil (leia abaixo), Surman foi escalado pela Mozilla há pouco mais de um ano para dar rosto e voz aos ideais da Fundação. "A maior parte do meu trabalho tem sido contar a história da comunidade Mozilla na criação de uma internet melhor e mais rápida. Essa é a nossa missão", explica o executivo. "O Firefox e o Thunderbird são as principais ferramentas que usamos para tornar a missão real, e temos nos saído bem. Mas a história é bem maior e, se quisermos garantir que a web continue participativa, transparente e livre em 100 anos, precisamos encontrar maneiras para que todo mundo possa apoiar a causa da internet aberta." A afirmação de Surman revela o fundamento básico do Drumbeat: enquanto o modelo do Firefox reúne desenvolvedores do mundo todo em torno de um único software, a rede social da Mozilla pretende fazer o mesmo com a internet em uma perspectiva mais ampla, cooptando profissionais dos mais diversos setores no caminho. "Queremos usar essa técnica para envolver artistas, advogados, professores, blogueiros e todo mundo que se importa com a internet." Entre os exemplos de projeto citados pelo ativista estão a criação de cursos de currículo colaborativo para treinamento de desenvolvedores para a web aberta, uma plataforma para tradução colaborativa de vídeos online e até uma coleção de ícones para facilitar o entendimento das regras de privacidade online. "Esses exemplos exigem habilidades e pessoas diferentes das que ajudaram a desenvolver o Firefox, mas usam o mesmo método de trabalho colaborativo", reforça Surman. "O cineasta Brett Gaylor (que dirigiu o documentário Rip) desenvolveu um projeto de ‘cinema open source’ onde cineastas amadores podem enviar material para um repositório central de imagens que vão dar origem a um filme sobre a web." Batida perfeita. A escolha do Brasil para o lançamento do Drumbeat não foi por acaso. Como filantropo da Fundação Shuttleworth na África do Sul e um dos líderes na criação do Telecentre.org (organização responsável pelo desenvolvimento e instalação de lan houses comunitárias em todo o planeta), Mark Surman entende a necessidade de encarar globalmente um projeto que lida com o processo evolutivo da internet. "O Brasil me parece um lugar que tem a ver com o espírito do Drumbeat, onde as pessoas entendem não só o software livre e a internet aberta mas também como a cultura da internet pode moldar a educação, a música e a sociedade. Vejo isso em eventos como o Fórum Internacional do Software Livre e a Campus Party, que são os maiores do gênero no mundo." Com algumas décadas de ativismo social e digital na bagagem, Mark Surman faz uma análise sincera do processo aberto na internet: "Às vezes é mais demorado, às vezes é bem mais rápido. Mas os resultados são mais duradouros porque muitas pessoas sentem-se um pouco donas daquilo que está sendo construído". Surman revela ainda que o resultado de sua experiência até agora tem sido muito pouco surpreendente: "Manter a transparência e confiar na comunidade ainda é a melhor forma de fazer as coisas a longo prazo". Videomaker – Uma das primeiras ações de Surman, nos anos 90, foi ensinar ativistas a produzir documentários ONGaholic - trabalhou em parceria com ONGs tão diversas quanto Sarvodaya , Zhaba e Communicopia Telecentro digital -Desenvolveu o Telecentre.org, responsável pela instalação de lanhouses no mundo todo Ubuntu para as massas - Ao lado de Mark Shuttleworth, do Ubuntu, desenvolveu abordagens open source para a educação DRUM-O-QUÊ? - O nome Drumbeat quer dizer "batida de tambor" e remete ao conceito de círculo de tambores – costume comum a tribos de quase todos os cinco continentes. O círculo, diferentemente de outras formações, garante a integração de todos os participantes em condições idênticas, sem diferença de valor ou poder, sem hierarquias – o oposto do que acontece, por exemplo, no isolamento do vocalista à frente de uma banda de rock ou de um maestro diante dos náipes de uma orquestra. COLABORE - A visita de Mark Surman ao Brasil tem como motivo o lançamento do Mozilla Drumbeat – uma rede social para desenvolvimento de projetos em prol de uma internet cada vez mais livre. O Drumbeat oferece o serviço de reunir pessoas em torno de objetivos em comum dentro de uma esfera tão ampla que inclui desde a criação de uma linguagem cinematográfica livre para a web até um modelo de universidade virtual para desenvolvedores web. Apesar do site estar aberto para inscrições desde o início do mês, seu lançamento oficial será no Brasil, primeiro no Rio de Janeiro, na quinta, depois em São Paulo, no sábado (leia ao lado). "A curto prazo, esses projetos vão fazer da web livre mais forte, mais divertida e mais fácil de entender. O Drumbeat também vai criar oportunidades para as pessoas que sempre quiseram se envolver mas não sabiam por onde começar", afirma Surman. SEM PERDER O RITMO EMERGENTE - Os projetos são dividos em três níveis diferentes: o primeiro deles garante a possibilidade de convidar colaboradores. EM DESTAQUE - Quando chega a esse estágio, o projeto ganha mais visibilidade no site e no boletim por e-mail, além de estatísticas de acesso. PATROCINADOS - Apenas uma minoria deve alcançar esse status, que garante até 25 mil dólares em patrocínio e uma página para doações.