Escolha de Kevin Rose abre discussão sobre o melhor ambiente para se manter um blog hospedado
Por Tom Anderson*
Que tipo de criador de conteúdo é você? Segue os passos de Kevin Rose, o criador do Digg, ou está mais para Fred Wilson, do blog AVC.com e investidor que tem parte do Twitter, do Tumblr e da Zynga, entre outros?
A atividade de blogar, ou “publicar-se”, deveria democratizar e revolucionar a indústria da mídia. Os criadores de conteúdo não precisavam mais de grandes plataformas comerciais para serem ouvidos. Os blogueiros não dependiam dos editores, e aqueles que publicavam o próprio conteúdo poderiam ganhar dinheiro com sua produção usando o AdWords e toda uma gama de redes publicitárias parceiras.
No último dia 9, Kevin Rose postou o seguinte no Google+: “Decidi passar o KevinRose.com para o meu Google+. O G+ me dá mais retorno – em tempo real – e envolvimento do que meu blog jamais foi capaz de trazer”. A decisão detonou um pequeno debate a respeito dos prós e dos contras do rumo escolhido por ele.
A escolha de Kevin foi tomada rapidamente, e pode muito bem ser revertida quando isto atender às necessidades dele. Sua opinião a respeito do G+ foi do questionamento do valor do serviço no seu primeiro post – já apagado –, passando pelo comentário de que o Google+ se parecia mais a um blog, até fazer a transição completa na sexta, 8. (Eu o provoquei via mensagem de texto na quinta: “Cara, vc vai passar o blog todo para o G+”).
Onde manter hospedado seu conteúdo é questão complicada. Quando blogar começou a virar uma atividade séria e o pessoal da internet percebeu que poderia cativar seu próprio público, eles naturalmente supuseram que seria importante ser o dono do seu próprio domínio, controlar sua lista de distribuição, manter os links que dão acesso ao seu conteúdo, ou seja, controlar o próprio destino.
Mais uma vez, a questão não interessa apenas aos blogueiros. Trata-se da presença na web de maneira geral. Lembre dos comerciais de TV promovendo palavras-chave da AOL. Será que as marcas teriam agido melhor se promovessem seus próprios sites? E quanto aos músicos que usaram o MySpace como seu único site? As bandas começaram a usar o MySpace em conjunto com seus próprios sites, mas um número cada vez maior delas descobriu que manter um site próprio exigia muito trabalho, e acabaram fechando estas páginas. Até os grandes artistas da música passaram a imprimir a URL de suas páginas do MySpace (e não o endereço de seus sites pessoais) nos encartes de seus CDs. Se visitarmos hoje estes endereços do MySpace, veremos que eles parecem cidades-fantasma. E quanto aos canais do YouTube? Será possível imaginar um dia em que o YouTube não seja mais o melhor lugar para encontrar vídeos?
Uma outra forma de fazer a pergunta, talvez mais clara e melhor, seria a seguinte: será que um criador de conteúdo deve procurar seu público ou o melhor é esperar que o público venha a ele?
No mundo offline, a maioria dos escritores jamais pensaria na possibilidade de publicar seu próprio livro ou revista. Um escritor usa a distribuição de uma plataforma ou marca maior (New York Times, revista Time) para divulgar seu nome e seu texto. Mas, na rede, houve quem defendesse que a tecnologia mudou tudo isto. Será mesmo?
Aquele modelo de postar tudo no seu próprio domínio pode ter funcionado nos primeiros dias da internet. Mas quem é tão interessante a ponto de levar um público suficientemente expressivo a visitar seu site e mantê-lo entre os favoritos? O ranking Technorati não mostra um único blog individual no seu top 100.
A marca pessoal (o reconhecimento do público), a lealdade a um site e a otimização para mecanismos de busca (SEO) são como o lento e antigo modelo de autopublicação. Claramente, um blogueiro precisa hoje de um mecanismo para notificar as pessoas de seus posts – uma lista de e-mails (influência de um hábito mais antigo), o Twitter (mensagens curtas conduzindo e atraindo ao formato mais extenso), convites para postar em sites de tráfego mais expressivo (como o TechCrunch) e redes sociais como o Facebook (principalmente em páginas dos fãs) e o Google+.
No fim, o lugar que escolhemos como lar depende do motivo que nos leva a criar conteúdo. Se deseja apenas seu cantinho na internet onde seja possível compartilhar mídias ou expressar seus pensamentos, então o Tumblr ou outra plataforma semelhante pode ser a opção mais indicada. Se você se considera parecido com Fred Wilson, talvez não anseie pelo nível de envolvimento que o Google+ pode proporcionar. Como capitalistas investidores que detêm as chaves do reino para muitos jovens empreendedores, Fred deve provavelmente reconhecer o valor da pesquisa e do trabalho necessários para que as pessoas finalmente encontrem seu blog e interajam com ele. Ele provavelmente preferiria limitar o debate do que ser atropelados pelo envolvimento e pelo tráfego que o conteúdo postado por ele numa plataforma como o Google+ poderia atrair.
Mas acho que, acima de tudo, devemos nos manter flexíveis e prestar atenção ao rumo que a evolução da internet está tomando. Não existe uma estratégia que contemple as necessidades de todos, e o mais provável é que cada um modifique a própria estratégia de modo a satisfazer suas necessidades.
Conforme certas fontes de tráfego (blogs de tecnologia, redes sociais) ganham e perdem força, talvez o melhor seja participar delas quando estão na ascendente e transferir seu público quando começar a descida.
Quando Tila Tequila (uma usuária do MySpace com milhões de amigos) passou a enxergar o MySpace como um navio que começava a afundar, ela pulou para o Twitter e depois para o Facebook. Se está procurando um tipo específico de público, então talvez o melhor seja descobrir onde esse público se reúne, trazer seu conteúdo a ele e, com sorte – se desejar –, trazer parte dele de volta à sua “base original”.
Kevin abandonou seu blog num instante, enquanto Fred construiu seu blog com o passar de anos e anos. A qual dessas escolas você pertence?
* Um dos funddores do MySpace, Anderson era o primeiro “amigo” que todo usuário do site possuía logo que criava a conta. O texto acima foi publicado sob licença da Creative Commons
/ TRADUÇÃO POR AUGUSTO CALIL
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