O ano de 2008 representou o início da legalização do conteúdo gratuito na rede mundial. Se cada vez mais os internautas vinham baixando músicas, filmes, programas, etc. sob a pressão dos detentores dos direitos autorais – gravadoras, estúdios de cinema e empresas de software –, com ameaças de processos, neste ano, esses mesmos gigantes começaram a mudar a postura e a liberar, eles mesmos, seus conteúdos de graça na web. A tendência já se mostrou em fevereiro. Na conceituada revista Wired, dos EUA, o jornalista Chris Anderson anunciava o que estava por vir: com o custo cada vez menor de armazenamento e transmissão, será cada vez mais viável fornecer conteúdo gratuito. A grana viria, por exemplo, com empresas patrocinadoras. No mesmo mês, no Brasil, a primeira edição da Campus Party, que reuniu 3 mil pessoas acampadas e conectadas por uma semana na Bienal, no Ibirapuera, foi um manifesto pela cultura livre. Apoiada por empresas e pelos governos municipal, estadual e federal, nomes de peso defendiam a descriminalização dos downloads, enquanto uma massa de adolescentes baixava gigas e gigas de arquivos, sem se preocupar com a questão de pirataria. Não deu outra. Até dezembro, a associação das gravadoras dos EUA, a RIAA, que já havia processado 35 mil internautas, avisou que não processaria mais ninguém. O foco agora seria em parcerias com sites, como o que foi feito com o MySpace: as majors disponibilizaram todo o seu catálogo para ouvir de graça, via streaming. O lucro vem com patrocínios. Para baixar, ainda é preciso pagar. No Brasil, a gravadora Trama quebrou essa barreira. Todos os seus lançamentos serão disponibilizados gratuitamente para downloads. O lucro virá com empresas patrocinadoras. No mesmo movimento, os produtores de programas para TV começaram a liberar seus conteúdos. Ainda não para download, mas já dá para assistir os desenhos do South Park e a série Lost, por exemplo. Os jornais e revistas vão na mesma linha. Seguindo a tendência aberta pelo The New York Times em 2007, The Wall Street Journal, The Times e Veja, abriram seus acervos na web, antes só para assinantes. MÚSICA PATROCINADA QUANDO | O ano todo WEB | tinyurl.com/2008-mallu DETALHES | Em 2008, surgiu um novo modelo na indústria musical: o de patrocínio para artistas gravarem e distribuírem (até de graça) suas músicas. O maior expoente desse movimento veio no início do ano. A garota Mallu Magalhães, de 16 anos, virou sucesso no MySpace – foi a artista brasileira mais acessada no site em 2008 – e ganhou patrocínio da operadora Vivo para lançar seu CD, independente (as músicas também estão à venda na internet e no celular). Em outra iniciativa, a gravadora Trama ampliou o seu projeto de download remunerado – no qual os internautas baixam músicas de graça e o artista é pago por empresas patrocinadoras – a nomes conhecidos da música como Tom Zé, Cansei de Ser Sexy e Ed Motta. Já o MySpace fechou acordo com gravadoras para os internautas poderem ouvir (via streaming) seus acervos. Os artistas são pagos também por patrocinadores. Para baixar, ainda é preciso pagar. NERDSTOCK QUANDO | fevereiro WEB | tinyurl.com/2008- campusparty DETALHES | Nenhum evento brasileiro de tecnologia repercutiu tanto em 2008 como a Campus Party. Em sua primeira edição, reuniu 3 mil fanáticos por tecnologia, que acamparam na Bienal, no Ibirapuera, e ficaram uma semana conectados à web a 5 gigabits por segundo. Foram 360 palestras e picos, por segundo, de 520 megabytes (MB) de downloads e 772 MB de upload. Os participantes, além experiências, compartilhavam músicas, vídeos, softwares, etc., sem se preocupar com pirataria. A próxima edição ocorre em janeiro. FREE! QUANDO | junho WEB | tinyurl.com/2008-free DETALHES | Chris Anderson, editor executivo da revista Wired e autor do best-seller A Cauda Longa, esteve no Brasil para falar sobre seu próximo livro, Free. Em uma reportagem da Wired em fevereiro, Anderson identificou que o custo de armazenamento de dados e de banda na internet tende a chegar a zero. A partir disso, está sendo criada uma economia do "tudo grátis" na web, uma vez que os serviços são de graça. "A maior parte das oportunidades de negócios gratuitos esbarra na propriedade intelectual. Se você tirar os custos de direitos autorais de música, livros, filmes, etc., muitos produtos se tornam gratuitos ou muito baratos", afirmou ao Link na época. A idéia foi discutida em 2008, mas a economia gratuita está apenas começando. SOFTWARES NO AR QUANDO | O ano todo WEB | tinyurl.com/2008- softwareonline DETALHES | O conceito de utilizar programas que não ficam instalados no computador, mas que "flutuam" pela rede e podem rodar gratuitamente em qualquer PC, em qualquer hora e lugar, foi definitivamente solidificado em 2008 – e rotulado como "cloud computing" (devido à transmissão sem fios pela net). Puxado pelo sucesso do Google Docs, o fenômeno ganhou força quando a Adobe lançou uma versão competente do Photoshop para usuários domésticos que funciona apenas online. A própria Microsoft aderiu ao movimento, lançando uma versão do Office e disponibilizando uma plataforma de desenvolvimento para aplicativos baseados no conceito, o Azure. EMISSORAS LIBERAM GERAL QUANDO | O ano todo WEB | tinyurl.com/2008-lost DETALHES | Em 2008, as emissoras de televisão dos EUA se deram conta de que, para concorrer na internet, é preciso liberar sua programação online. Se o público está na web e publica conteúdo da sua programação em sites como o YouTube, por que não oferecer uma transmissão online com boa qualidade? Um dos exemplos é o site do desenho animado de comédia South Park (www.southparkstudios.com), onde é possível assistir a todos os episódios completos (com alguns comerciais no meio, claro). O Hulu.com, site que é uma parceria entre canais de TV e estúdios, como NBC, MGM, Sony Pictures e Warner Brosque e funciona apenas nos EUA, também traz centenas de filmes e séries. Lost continuou fazendo sucesso online – e agora seus episódios são transmitidos via streaming no site da ABC. Além disso, muitos brasileiros criaram grupos para traduzir e legendar a série – entre outras. BROWSERS QUANDO | junho e setembro WEB | tinyurl.com/2008-browsers DETALHES | O Firefox mostrou que o software livre, aos poucos, sai do gueto dos "nerds". Em 24 horas, sua nova versão bateu o recorde mundial de downloads: 8,3 milhões. Já o navegador Chrome, do Google, mostrou a tendência de os softwares tradicionais como editor de textos, migrarem para o browser – e tornarem-se gratuitos. TUDO DE GRAÇA MÍDIA Jornais e revistas abrem conteúdo Seguindo a tendência que o jornal New York Times apontou em 2007, veículos de comunicação de todo o mundo abriram seus conteúdos na web, antes fechado a assinantes. Os destaques foram o jornal britânico Times; nos EUA, o Wall Street Journal e a revista Life; e no Brasil, a revista Veja e o Diário Oficial de São Paulo. DIREITO AUTORAL Podcasters fazem acordo com o Ecad Em junho, membros da Associação Brasileira de Podcasters (Abpod) fecharam um acordo inédito com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) para que os podcasts toquem músicas sem infringir direitos autorais, pagando uma taxa mensal. Os podcasts continuam restritos a um público fiel. O INÍCIO DO FIM? RIAA muda o foco contra a pirataria A RIAA, associação de gravadoras dos Estados Unidos, disse na semana passada que não vai mais entrar na justiça contra pessoas que fazem downloads de músicas ilegalmente. Desde 2003, 35 mil pessoas foram processadas. O foco agora é fechar o cerco assinando acordos com provedores de internet. VÍDEO Youtube serve para trocar conhecimento Maior site de vídeos do mundo, o YouTube aos poucos vem mudando seu perfil – em vez de hits engraçadinhos, tutoriais e aulas feitos por internautas começaram a crescer em popularidade, com milhões de acessos. O site inclusive fechou parceria com os membros mais populares, que ganham mais visibilidade. E tudo é de graça.