OTTAWA – A capital do Canadá ficou conhecida globalmente pelas suas empresas de telecomunicações, tendo a Nortel como maior expoente. A companhia foi uma das principais fabricantes de infraestrutura para telecomunicações do mundo, mas não sobreviveu à crise de 2008 e pediu concordata em 2010, sendo posteriormente comprada pela Avaya. Do maquinário da Nortel, assim como dos ex-funcionários, nasceram diversas startups. Ottawa também concentra o segundo maior número de engenheiros e cientistas da América do Norte, atrás apenas do Vale do Silício.
Por isso, quer ser reconhecida como principal ecossistema de tecnologia para as empresas interessadas em migrarem para o Canadá. “Quando há recessão, não somos afetados porque temos mais de 15 mil empresas de todos os tamanhos, que mantém nossas taxas de desemprego estáveis entre 6% e 7%”, diz Blair Patacairk, gerente de investimento da Invest Ottawa.
A instituição do governo local realiza um trabalho que mistura as funções de entidades como o Sebrae e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) no Brasil. Junto com outras duas instituições da cidade, a Invest Ottawa recebeu US$ 7,7 milhões do Programa de Aceleração de Incubação do Canadá (Caip, na sigla em inglês) para apoiar novas empresas de tecnologia nos próximos cinco anos. A meta é ampliar o foco no mercado internacional.
Um dos projetos da instituição é um programa de intercâmbio de startups com o Brasil, previsto para meados do ano que vem, além de planos para estabelecer uma parceria com uma incubadora ou aceleradora brasileira para criar uma espécie de escritório internacional dentro da Invest Ottawa. “O Brasil é um país emergente que está indo bem. Não temos medo dos indicadores econômicos porque mesmo que a economia tenha alguns problemas, isso representa uma oportunidade para investir no longo prazo”, diz Patacairk.
Em Ottawa também está o Wesley Clover International, um fundo que criou um modelo diferenciado de investimento-anjo para empresas em estágio inicial. Com foco principalmente em telecomunicações, a empresa abriga as startups na sua sede. O fundo oferece o apoio de mentores que se dedicam exclusivamente às startups, estrutura de escritório, rede de contatos e financiamento. Em troca, assume o papel de sócio-majoritário da companhia, com 51% das ações.
Quem está por trás do fundo é o magnata galês-canadense Terry Matthews, conhecido por ser empreendedor em série e primeiro bilionário do País de Gales. Ele fundou em 1973 a Mitel, uma bem-sucedida empresa de telecomunicações canadense que foi vendida anos depois por bilhões. “Nós ficamos na empresa por sete, oito anos para criar negócios sustentáveis, por isso temos uma participação maior do que a média no negócio”, diz o vice-presidente de Marketing Steve Langford. A taxa de sucesso das empresas apoiada pela Wesley Clover é de 95% para as 105 startups apoiadas até hoje pela instituição. A empresa atua também no Reino Unido e está abrindo escritórios México, Indonésia e França. Langford não descarta uma incursão na América Latina em 2016.
A cidade também desenvolve tecnologia de ponta por meio do Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá. Entre as ações da cidade está uma recém-criada vacina para combater o ebola. A instituição atua tanto no desenvolvimento de projetos sob-demanda quanto investe em projetos de ponta. O centro opera sob um orçamento que chega a US$ 1 bilhão para a realização de pesquisas em todo o mundo. Uma das pesquisas que o centro desenvolve é na área de tecnologias de eletrônica impressa (printed electronics) que permite criar, por exemplo, celulares com telas flexíveis.
* A repórter viajou a convite do governo canadense