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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião | Algoritmos são de direita e dá para provar

Um aspecto pouco compreendido dos algoritmos de inteligência artificial é que não dá para seguir de trás para frente o ‘raciocínio’ feito pelo computador

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O Twitter tornou públicoum estudo interno em que constatou que veículos de imprensa e políticos ligados à direita tiveram seus tuítes muito mais amplificados do que os de esquerda Foto: Dado Ruvic/Estadao

A ordem de prisão do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos e a demissão do central Maurício Souza após comentários homofóbicos fizeram explodir, nas redes, o debate sobre os limites da liberdade de expressão. Não custa lembrar: os casos são muito distintos. Allan faz parte de uma engrenagem de desinformação que ameaça a democracia. E a pergunta por responder é ligada a ele: o quanto uma democracia deve permitir livre expressão para aqueles que usam o direito para dar cabo da própria democracia?

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É difícil criar uma regra geral. Afinal, como se mede o que ameaça e o que não ameaça uma democracia? Pois temos informação nova para digerir. Informação que comprova a existência do problema.

O Twitter tornou público na última sexta um estudo interno realizado em sete países. Veículos de imprensa e políticos ligados à direita tiveram seus tuítes muito mais amplificados do que os do outro lado. Mesmo quando governantes são tirados da amostra, o viés do algoritmo permanece lá. Isto não quer dizer que tudo seja desinformação, mas comprova que o sistema tem viés ideológico. É o próprio Twitter que o reconhece.

Não é só lá. O Tech Transparency Project, um think-tank dedicado a compreender como o digital impacta nossas vidas, publicou outro estudo esta semana. Seu time avaliou que vídeos o algoritmo do YouTube recomenda a usuários que buscam conteúdo político. E o que descobriu, nos EUA, é que o público de direita e o de esquerda têm experiências muito distintas. Quem é de direita fica preso na bolha, não é exposto a pontos de vista distintos pelo algoritmo. Com quem é de esquerda isto não ocorre — a variedade da exposição é muito maior.

Um aspecto pouco compreendido dos algoritmos de inteligência artificial é que não dá para seguir de trás para frente o ‘raciocínio’ feito pelo computador. Os engenheiros do Twitter sabem o resultado: distribuir mais a direita do que a esquerda. Mas não sabem por que o programa leva a este resultado.

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De onde vêm os efeitos colaterais? Ideias de direita viralizam mais do que as de esquerda? Ou há um viés escondido no algoritmo que provoca isto?

O efeito prático é que um pedaço da sociedade foi radicalizado. Não é só no Brasil. A liberdade de expressão, que inclui a de exprimir ideias profundamente impopulares, tem uma razão de ser. Permitir que democracias questionem tudo, permitir a sociedades que revejam seus valores. Só que a máquina de desinformação não apenas desinforma. Ela também isola do debate público, da exposição a pontos de vista diferentes, um pedaço grande dos eleitores. O mecanismo que esta liberdade deveria promover travou. A democracia está quebrada.