
Não sabemos o que vai acontecer com o Twitter após Elon Musk tomar posse. Ainda assim, quem navegou pela rede esses dias viu muitas certezas. Uma turma da direita autoritária eufórica e quem se preocupa com a democracia enlutado. Jair Bolsonaro deu um salto de seguidores – 65 mil num único dia. Efeito Musk? Segundo o Bot Sentinel, 61 mil eram robôs. Que, aliás, Musk promete banir. Muita gente está achando que este é um debate sobre Liberdade de Expressão e seus limites. Mas não é.
Hoje compreendemos Liberdade de Imprensa como um direito particular a jornalistas. Não era isso quando primeiro se pensou a ideia, no século 18. Porque até surgir o telégrafo, só havia duas maneiras de tornar pública uma mensagem. Uma era subir no banquinho e falar bem alto. Outra era redigir, ter acesso a uma gráfica e imprimir cópias que seriam distribuídas. Esta é a Liberdade de Imprensa original.
Os iluministas que inventaram democracias encaravam impressos como informação de consumo lento e introspectivo. A distribuição tomava dias para atingir outras cidades. Liberdade de Imprensa pressupunha estimular um hábito por natureza reflexivo. Eles compreendiam que manifestar uma ideia é um ato. Registrar a ideia no papel, copiar e mandar para longe era outro ato bastante distinto. São duas liberdades separadas.
O problema no Twitter não é com a manifestação de ideias. É com a distribuição. Nas redes, demora segundos para aquilo escrito no Recife chegar em Tóquio. E esta leitura exige reação imediata. É, reativa, não reflexiva.
Musk diz que pretende abrir o algoritmo que decide que pessoas recebem quais tuítes. Pois bem, até o fim do ano a União Europeia já deverá ter ratificado a nova Lei dos Serviços Digitais. Queira o bilionário ou não, abrir o código não será o bastante. Por lá, todas as plataformas terão de explicar, em linguagem que nós entendemos, por que está nos mostrando o que mostra.
E assim saberemos por que o Twitter decide que milhões devem receber, por exemplo, propaganda antivacina.
O Brasil costuma importar boas leis digitais. Some isso à intenção já anunciada por Musk de que os bots acabarão e que todo usuário será autenticado. Ou seja, todos passarão a ser legalmente responsáveis pelo que escrevem. O fim do anonimato em grandes plataformas é um problema em ditaduras, mas uma bênção em democracias sob ataque.
É cedo para dizer. Mas a soma de novas leis com algumas destas iniciativas podem querer dizer que os autoritários festejaram cedo demais.