Primeiro a lição de casa

Benni Cinkle e Rebecca Black: jovens que nem acabaram o ensino médio já fazem dinheiro com popularidade na internet

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Por Redação Link
Atualização:

O que acontece quando a possibilidade de ganhar dinheiro real com a popularidade online faz que adolescentes se vejam como marcas em potencial antes mesmo de chegar ao fim do ensino médio

Alex Hawgood The New York Times

Era um segunda-feira. Benni Cinkle, californiana estudante do ensino fundamental, recebeu uma mensagem de texto de sua colega de classe Rebecca Black dizendo que uma página não-oficial de fãs dedicada a Cinkle havia aparecido no Facebook.

 

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Isso foi uma semana depois de o hit de Black, “Friday” – em que Cinkle aparece rapidamente, tipo “piscou, não viu” – viralizar. Cinkle, que concordou em participar do clipe por achar que ninguém a veria, ficou chocada. “Eu era só a garota de cor de rosa que se sentava atrás de Rebecca no carro por quatro segundos e dançava de maneira medonha.”

Naquela manhã de março, a página de fãs já tinha 2 mil seguidores. Quando chegou da escola, eram 20 mil. Na sexta, 75 mil. Aí Cinkle fez o que a era da mídia social exige dos que são apanhados na ressaca viral: foi à luta.

Criou uma página oficial no Tumblr para acompanhar a rápida proliferação dos gifs animados com sua dança desajeitada. Dois dias mais tarde, criou a “Benni Cinkle (Página Oficial de Garota que Dança Desajeitada)” no Facebook. Depois veio seu próprio canal no YouTube, onde postou vídeo respondendo a perguntas dos fãs (“Você continua amiga de Rebecca Black?” Não. “Qual é o tamanho da sua entrada da garagem?” 45 metros) Então, postou um clipe de um flash mob de “Friday”, que ela organizou no shopping local (segundo ela, para arrecadar dinheiro e chamar a atenção para as vítimas do terremoto no Japão); criou um site oficial, ThatGirlinPink.com (Aquela Garota de Rosa.com); renomeou sua conta no Twitter e começou a oferecer um Guia de Sobrevivência na Internet.

Em menos de um mês, Benni Cinkle, uma estudante anônima virou uma microcelebridade. “Tudo aconteceu tão rapidamente, eu só fiz a coisa continuar.” Ela não é a única. A fama online está se tornando mais um aspecto da adolescência para uma geração que cresceu em meio a reality shows e constantes de atualizações de status.

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Sites como o YouTube não só tornaram possível adolescentes desconhecidos serem descobertos. Eles também fazem que jovens sem nenhum talento especial, como Cinkle, atraiam seguidores em massa.

Trevor Michaels, 12 anos, mais conhecido como iTr3vor, recebeu mais de 5,5 milhões de visitas em seu canal do YouTube onde posta os números de dança que realiza em várias lojas da Apple. Há também as legiões de garotas que postam os chamados vídeos “haul”, clipes delas mesmas falando sobre suas mais recentes compras de roupa ou maquiagem. Os clipes são indigestos para quase todo adulto, mas atraem centenas de milhares de garotas.

O YouTube estima que entre os usuários que têm mais assinantes (aqueles que recebem notificações a cada novo vídeo postado naquele canal), 10% têm 19 anos ou menos, e que, como um todo, mais de um terço dos participantes mais bem-sucedidos em seu Partner Program (programa de parceria) para a divisão de receitas têm menos de 25.

“É fascinante notar o quanto garotos com números de seguidores enormes estão quase abaixo do radar da maioria dos adultos”, disse Annie Baxter, que trabalha no programa de parceria e ajudou recentemente a supervisionar cursos de instrução para astros nascentes do YouTube nos escritório do Google em NY.

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Para cada história de sucesso, há milhares de outros adolescentes ávidos para agarrar sua oportunidade, se ela surgir. “Cada adolescente já está criando um conteúdo único para uma multidão de contas de mídia social”, disse Valerie Veatch, cineasta que está dirigindo, com a artista Chris Moukarbel, o documentário Me At The Zoo, que tira seu título do primeiríssimo vídeo postado no YouTube, em 2005. “De certo modo, o relacionamento constante por rede social serve de treino para a eventualidade do conteúdo estourar. Você estará preparado para preencher as expectativas de fãs.”

Mas administrar celebridades adolescentes, online ou offline, demanda uma estratégia que jovens, pais e escolas estão tentando imaginar. “O que ocorre com os garotos quando eles começam a organizar suas vidas em torno da lógica da marca?” pergunta Sarah Banet-Weiser, professora adjunta na Escola de Comunicações Annenberg da Universidade do Sul da Califórnia, cujo livro AuthenticTM: The Politics of Ambivalence in a Brand Culture (Marca Registrada: A Política da Ambivalência em na Cultura das Marcas) será publicado no ano que vem. “A mídia social está centrada no discurso da pessoa virar uma estrela”, disse ela. “Estamos testemunhando jovens construírem uma carreira antes de terminar o colegial.” Cinkle diz que sua vida está “definitivamente diferente”.

Em primeiro lugar, seu relacionamento com Rebecca Black azedou. “Mudança de dinâmica”, disse sua mãe, Pati Cinkle, dona de uma agência de emprego. Depois que o vídeo estourou, disse ela, houve diferenças sobre como lidar com a atenção. Enquanto Black foi ao Jay Leno, coestrelou no vídeo musical para o single de Katy Perry, “Last Friday Night (T. G. I. F.)” e tenta a celebridade com a música “My Moment”, lançada segunda passada no seu canal do YouTube (leia ao lado), para Benni a fama é uma atividade pós-escolar. “Primeiro faço a lição de casa e depois me conecto e respondo a todos”, disse. Quando a mãe de Cinkle a encontrou dormindo na frente do computador, soube que chegara o momento de interferir. “Eu disse que ela não pode responder a todas as perguntas sozinha.” Agora, ela ajuda a filha a filtrar as mensagens diárias.

Nem toda atenção é positiva. Com o anonimato induzindo o desacato na internet, quanto maior um perfil digital, mais suscetível a pessoa fica de uma atenção negativa. “Meu primeiro instinto foi: haverá algum modo de se proteger de ataques como esses?”, disse Pati Cinkle. Mas para a geração de sua filha, o medo de ataques virtuais é cada vez mais obsoleto. “Há muitas pessoas dizendo coisas feias, mas há milhares me apoiando”, disse a jovem Cinkle. “Resolvi me concentrar nas coisas boas, e fazer da coisa toda da dança uma brincadeira.”

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Para Megan Parken, 15 anos, uma blogueira de vídeo de Austin, Texas, o efeito da fama foi mais radical. Parken, que tem quase 300 mil seguidores no seu canal de YouTube, o MeganHeartsMakeUp, começou postando demonstrações de maquiagem, dicas de compras e “conselhos de vida” como ela os define, no YouTube, durante as férias de verão, antes de entrar na oitava série. Quando os vídeos bombaram, ela começou a tratá-los como uma atividade extracurricular.

No início, tentou manter sua vida no YouTube secreta para suas colegas de escola. Mas com uma média de 100 mil visualizações por vídeo, não deu certo. Várias colegas, que Parken chama de “as garotas malvadas”, a provocaram e chegaram a exibir na aula um vídeo zombando de cada demonstração de maquiagem online de Megan. Não demorou muito para ela largar a escola. As oportunidades de ganhar dinheiro com o programa de parceria do YouTube e das marcas que menciona foram tão grandes (e seu desconforto na escola cresceu tanto) que ela largou o colégio e se inscreveu em cursos online da Universidade do Texas, com apoio dos pais. “A oportunidade financeira era incrível”, disse sua mãe, Susan Parken. “Ela havia reunido dinheiro para comprar seu primeiro carro” e estava poupando para a universidade. Os professores também não ficaram horrorizados. “A confiança que ela demonstra nos vídeos não é a mesma que ela tinha na escola”, disse Yasemin Florey, professora de Megan.

Estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles pelo Children’s Digital Media Center salienta a crescente importância cultural da fama para os jovens. O estudo examinou os valores transmitidos em programas de TV para pré-adolescentes nas quatro décadas de 1967 a 2007. E revelou que a fama era o principal valor comunicado por programas em 2007. Nas décadas anteriores – 1997, 1987, 1977 e 1967 – ela ficou perto do fim da lista de 16 valores transmitidos. Em todas essas outras datas, o senso de comunidade e de fazer parte de um grupo ficaram em nos primeiros lugares.

/Tradução de Anna Capovilla e Celso Paciornik

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—-Leia mais:Link no papel – 25/07/2011

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