
SÃO PAULO – Todo mundo tem ao menos um amigo que já que falouque pretende alugar ao menos parte da sua casa para turistas na Copa. A conversa quase sempre cai na vantagem do preço: o Mundial seria uma oportunidade de ganhar um dinheiro extra e cobrar um preço acima da média pela hospedagem. Em alguns casos, bem acima da média. Quando o assunto é Copa, o valor estimado pela diária costuma ser na casa dos milhares.
Na última Copa do Mundo, na África do Sul, o Airbnb, site de aluguel de quartos imóveis por temporada, tinha apenas dois anos de idade e pouca presença de mercado. Mas os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, serviram como um bom termômetro sobre o uso da plataforma em eventos dessa magnitude. “Londres nos deu um grande aprendizado sobre a questão de preços, porque percebemos que 0s anfitriões que aumentaram o preço cada vez mais ficaram sem reservas. A maioria das pessoas desistiu de pagar”, afirma Christian Gessner, diretor do Airbnb no Brasil.
O executivo, porém, reconhece a alta dos preços no Brasil diante do mundial. Segundo ele, com algumas exceções de anúncios por preços exorbitantes, a maioria dos anfitriões cobra preços duas ou três vezes maiores do que a média diante do mundial. “Vemos uma tendência parecida com o que acontece durante o Réveillon ou Carnaval, quando os preços seguem a lei da oferta e da demanda”, diz. “Mais do que isso já vimos que as pessoas não pagam. Quem cobrar muito caro vai ficar sem reserva”, diz.

Christian sugere que o valor da diária a ser cobrada seja baseado na média da região onde fica o imóvel.”Para quem vai alugar pela primeira vez é bem melhor cobrar um preço menor para um primeiro hóspede conhecer, ter uma boa avaliação e recomendar para outras pessoas, para então subir o preço”, diz.
O diretor comercial do Hotel Urbano diz que a cobrança de preços excessivamente altos por uma hospedagem temporária pode não funcionar porque, ao contrário do esperado, a capacidade dos hotéis nas cidades da Copa não está esgotada. “Houve uma série de devoluções da Fifa, que fechou reservas em hotéis há mais de um ano com um prazo de devolução das reservas até abril”, explica. “Tem muito hotel com vaga em Fortaleza, em Natal… outros estão lotados só nos dias dos jogos, mas têm vagas no restante do tempo. Muitos hotéis já baixaram bastante o preço e outros estão trabalhando com preço normal da diária”, afirma.
O site brasileiro Alugue Temporada, no mercado desde 2001, aponta que o brasileiro está recorrendo a serviços do tipo para ganhar um dinheiro extra durante a Copa. O site identificou um aumento de 80% entre janeiro e março no número de imóveis disponíveis nas cidades-sede da Copa. em comparação ao ano anterior. O número de visitas ao site cresceu 39% no mesmo período.
Diferentemente do Airbnb, o Alugue Temporada não faz reservas, apenas publica anúncios de pessoas que colocam sua casa à disposição para aluguel temporário. É pré-requisito que elas aluguem a casa inteira e não estejam no imóvel durante o período em que o hóspede estiver no local. “Hoje o proprietário de um imóvel sabe que não tem só como opção vender ou alugar. O aluguel de temporada é a intersecção mágica de três setores que não param de crescer no Brasil: turismo, imóveis e negócios na internet”, diz Nicholas Spitzman, presidente do AlugueTemporada.
Anfitriões O DJ Bruno Pedrosa mora no Rio de Janeiro, mas passa a maior parte do tempo fora de casa, viajando a trabalho pelo Brasil. Cansado de arcar com as despesas de um imóvel que não ocupa a maior parte do tempo, mas sem condições de abrir mão de um lugar fixo para morar, ele resolveu seguir a recomendação de um amigo e se cadastrar no Airbnb. Já fechou três reservas do seu quarto, em Santa Tereza, para a Copa, onde cobra R$ 350 a diária pela hospedagem em um fim de semana. “Vou receber um pai com seu filho, vindos do Chile, depois dois amigos dos Estados Unidos e, por fim, um casal de namorados da Austrália”, diz. “Agora o meu colega que divide a casa comigo está na dúvida se coloca o quarto dele para alugar também, porque com o dinheiro extra eu vou conseguir pagar uns dois meses de condomínio”, afirma.
Antes de conseguir sucesso nas reservas para a Copa, porém, Bruno amargou uma série de cancelamentos durante o Carnaval, quando tentou alugar o espaço pela primeira vez, mas não conseguiu. “Quem procura uma reserva em sites como o Airbnb não faz uma reserva só, porque sempre procura o melhor preço. Então para a Copa eu coloquei um preço que para um fim de semana é muito barato, mas ao mesmo tempo é um montante que me ajuda a pagar despesas da casa”, explica.
A empresária e agente de viagens Polyana Oliveira recorreu ao Airbnb quando os clientes começara a reclamar dos preços de hospedagem no Brasil. “Aluguei vários apartamentos para clientes por meio da minha conta e alguns amigos me pediram para ajudar a gerenciar o aluguel do apartamento deles para a Copa também”, conta. “Um cliente havia me pedido um hotel cinco estrelas no Rio, mas não tinha para a Copa. Ofereci acomodação em uma casa dentro da cidade que encontrei pelo Airbnb. Ele me pediu um tempo para pesquisar e dias depois me retornou para fechar negócio dizendo que eu era a única agente que ofereceu uma alternativa para ele, enquanto os outros ofereciam hotéis fora da cidade”, conta.
Polyana usa o Airbnb desde 2011 e diz que o serviço é atraente não só por causa dos preços, geralmente mais baratos do que um hotel. “A questão do dinheiro ajuda, mas o grande atrativo são as experiências que são muito legais. Estou programando uma viagem para o próximo ano em que só vou me hospedar pelo Airbnb”, conta.