As pessoas perderam a noção do que é ir aos cinema. Ontem (8/2), vi Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Coen, e tinha gente que conversava, contava piadas e ria como se estivesse na sala da própria casa, assistindo a novela das oito.
É estranho perceber como caras que faziam pequenos filmes estranhos há 20 anos são responsáveis hoje pelo cinemão. Os Coen são um caso. Me lembro que o primeiro filme que eu vi do Peter Jackson foi Fome Animal. Não dava para imaginar que ele iria fazer a trilogia do Senhor dos Anéis. Do mesmo jeito que quem viu A Morte do Demônio não pensaria que o Sam Raimi viria a rodar o Homem-Aranha. Joel Coen foi editor-assistente de A Morte do Demônio.
Apesar de cinemão, Onde os Fracos não dá espaço para clichês mais fáceis, como o vilão que sofreu algum tipo de abuso quando criança ou o homem comum como herói, que se revela maior que a vida depois de enfrentar uma série de provações.
O xerife Tommy Lee Jones e o assassino Javier Bardem foram bastante elogiados. Eu acho os personagens feitos por Josh Brolin e por Kelly Macdonald (foto) mais desafiadores. Ele mostra variações sem fim sobre o tema bravura como sinônimo de estupidez. Ela consegue fazer uma transição suave de garota boba para a única que realmente entende a situação. O personagem de Tommy Lee Jones, por outro lado, é parecido com o que ele fez na série Homens de Preto, menos as cenas de ação. Bardem é um Jason Voorhees que trocou a máscara de hóquei pelo cabelo chanel.
A história de Onde os Fracos é mais próxima de Um Plano Simples, do Sam Raimi, que de Fargo, apesar do inglês com sotaque engraçado falado nos dois filmes dos Coen. O final é o melhor filmado pelos irmãos desde Barton Fink. Lembra o de Arizona Nunca Mais, apesar da distância entre os dois longas-metragens. O fim de certa forma inconclusivo faz a diferença. Os chatos que falam durante o filme não gostaram, principalmente do final. Um deles chamou Onde os Fracos de ridículo e saiu elogiando Tropa de Elite. Ora, por que vocês não vão assistir Tropa de Elite então?
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