‘Só as pessoas muito pobres precisarão de moedas e cédulas’

PUBLICIDADE

E se transferir dinheiro fosse tão simples quanto twittar? Foi essa a ideia que levou o desenvolvedor Michael Ivey, em 2008, a criar o Twitpay – serviço que reduz a 140 caracteres uma operação que antes podia tomar dias. Basta se cadastrar e digitar no Twitter a quantia e o username de quem vai receber o valor, que também precisa ter uma conta no site. E só.   O Twitpay rastreia a operação e, por meio do Paypal, transfere o valor. O serviço ainda está limitado a pequenas doações, mas a simplicidade do conceito diz muito sobre o futuro do dinheiro na era digital.   Criado em 1998 e comprado pelo eBay em 2002, o PayPal seguiu o exemplo de Twitter e Facebook e, no final do ano passado, decidiu liberar seu código para qualquer desenvolvedor interessado – como Ivey – em criar maneiras inovadoras de pagamento. Desde então, 15 mil programadores já colocaram as suas versões de ferramentas abertas no ar e mais de US$ 15 milhões já escorreram por elas.   Não há área que não tenha sido repensada a partir da internet. Para o historiador do dinheiro Jack Weatherford, chegou a hora disso chegar ao que carregamos no bolso.   Autor de A História do Dinheiro (Elsevier, 2005), livro que mapeia o sistema financeiro desde a época das trocas de conchas até a revolução digital, Weatherford acredita que a era do dinheiro físico está chegando ao fim. "Só pessoas muito pobres, aquelas que não têm acesso à tecnologia, precisarão de moedas e cédulas", disse em entrevista ao Link.   Para ele, a facilidade das transferências via internet é uma inovação semelhante à invenção da moeda – já que antes, é bom lembrar, tudo valia o seu peso em ouro.   Aos poucos, a web está nos liberando do sistema construído pelos bancos e abrindo caminho para maneiras mais práticas e baratas de pagar pelas coisas. Nos EUA, por exemplo, 20% das transações virtuais já são operadas pelos ditos "sistemas alternativos", entre os quais está o Paypal.   O que isso quer dizer? Que nem tudo precisa mais passar pelos cofres de grandes bancos – e nem pelo seu sistema caro e fechado. E que o futuro do dinheiro, seja ele qual for, é inevitavelmente digital.   A história das trocas financeiras, desde as sacas de especiarias até o cartão de crédito, pode ser reduzida à busca por agilidade e simplicidade. "Antes, para pagar algo, era necessário um navio lotado de ouro, a cédula veio para facilitar isso. Mas chegou a hora dela e, com isso, veremos o nascimento de uma economia plenamente digitalizada", diz Weatherford.   No Japão e na Coreia do Sul, isso já começou a acontecer. Máquinas de refrigerante, catracas de metrô, supermercados. Pense no que for: eles já pagam tudo usando o celular. Com a tecnologia NFC (leia acima) bem mais difundida, os orientais já começaram a considerar se é mesmo necessário andar por aí carregando uma carteira.   Se os cartões de crédito, nos anos 50, começaram a sugerir a ideia do abandono do papel moeda, a web inicia um período em que o dinheiro não é mais necessariamente físico. Ele vira apenas um valor.   Ainda é cedo para decretar o fim do papel moeda, como o próprio Weatherford admite. Mas o talão de cheques, por exemplo, já tem data para morrer.   Na Inglaterra, esse tipo de pagamento só dura mais oito anos e, então, será extinto. É como disse o líder da junta governamental que cravou a data, Paul Smee: "Existem meios bem mais eficientes para se fazer uma transação no século 21".   Do vintém ao virtual – a trajetória do valor   MOEDA - Para Weatherford são três as revoluções do dinheiro: a primeira é a criação do conceito de moeda (junto com a noção de valor), há quase três mil anos.   CÉDULA - A segunda é o dinheiro como papel, criação da Itália renascentista, cujos pequenos bancos de crédito familiares moldariam o sistema bancário.   E AGORA? Com a migração dos cartões de crédito para os celulares e dos bancos para a web, vivemos o estágio em que o valor não precisa mais de suporte.   Dinheiro 2.0   ZONG+ y Uma das empresas mais inovadoras de pagamento digital é a norte-americana Zong. O conceito do produto Zong+, lançado em outubro do ano passado, é bem simples. Em vez de preencher aqueles chatíssimos detalhes do cartão de crédito na hora de fazer uma compra online, basta colocar o seu número de celular. A fatura vem no final do mês, junto com a conta telefônica.   HUB CULTURE y Economia peer-to-peer. É esse o conceito por trás da rede social Hub Culture. Uma vez cadastrado, você pode pagar por serviços de outros integrantes na moeda digital criada pelo site, o Ven. A grande vantagem é que em vez de ser utilizado apenas online, o Ven pode ser trocado por dólares para efetuar compras offline.  

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.