SpaceX ganha duas rivais em missão audaciosa rumo a Marte

Relativity Space e Impulse Space são as novatas que querem desafiar a companhia de Elon Musk no espaço

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Por Kenneth Chang
Atualização:

A SpaceX pode perder a disputa em ser a primeira empresa privada a enviar uma missão espacial a Marte. Talvez.

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Há anos, Elon Musk, fundador e CEO da SpaceX, vem falando em tornar a Humanidade uma espécie interplanetária ao enviar, algum dia, pessoas para colonizar Marte. A empresa está construindo um veículo espacial gigante, a Starship, com esse objetivo em mente.

Mas uma nova empresa de foguetes, a Relativity Space, e uma pequena startup fundada por um engenheiro que costumava liderar o desenvolvimento de motores de foguetes na SpaceX, anunciaram planos para enviar um módulo robótico desenvolvido por uma empresa privada a Marte. Com uma visão otimista – muito otimista –, as duas empresas dizem que poderiam fazer isso dentro de 2 anos e meio, quando as posições da Terra e de Marte se alinharem de novo.

Timothy Ellis, CEO e fundador da Relativity, disse que a maneira como a SpaceX almeja fazer as coisas “à beira da loucura, com ambição e audácia” era uma inspiração.

“Esses tipos de objetivos atraem os melhores profissionais para trabalhar neles”, disse Ellis. “Somos mais audaciosos do que algumas das outras empresas.”

Se uma missão comercial a Marte for bem-sucedida, isso poderia fazer surgir um novo mercado no qual instituições, empresas e agências espaciais nacionais poderiam enviar cargas úteis ao planeta vermelho a um custo mais acessível.

Isso seria semelhante a como várias empresas esperam ganhar dinheiro enviando cargas úteis até a Lua para clientes pagantes, inclusive a Nasa, começando no final deste ano. Mas aconteceria em uma escala mais difícil e distante. Uma missão da Nasa a Marte custa pelo menos meio bilhão de dólares, embora isso inclua instrumentos sofisticados.

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Ellis se recusou a comentar quanto custaria a missão da empresa, mas disse que o dinheiro do investimento arrecadado pela Relativity, assim como a receita dos contratos que tem para lançar satélites comerciais, pode ser suficiente para pagar a missão a Marte. A Relativity tem, por exemplo, um acordo com a empresa OneWeb para levar satélites de banda larga para órbita do planeta.

“Acho que há uma chance real de podermos fazer isso com o que temos atualmente”, disse Ellis.

Relativity Space quer lançar primeiro foguete a Marte em breve Foto: RELATIVITY SPACE/IMPULSE SPACE

Promessa

Há muitas razões para o ceticismo.

Uma década atrás, por exemplo, várias empresas espaciais prometeram tesouros com a mineração de asteroides, mas fecharam as portas sem nunca chegarem nem perto de um asteroide. Até mesmo Musk com frequência dá previsões otimistas demais para o próximo feito histórico da SpaceX. (Em 2016, ele disse que a Starship, que na época era chamada de sistema de transporte interplanetário e era um projeto ainda maior, faria seu primeiro voo sem tripulação para Marte até 2022.)

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Por enquanto, Ellis não tem o histórico de Musk de mais cedo ou mais tarde alcançar a maioria de suas grandes promessas.

A Relativity ainda não lançou nenhum foguete. O primeiro voo de seu Terran 1 pode ocorrer dentro de algumas semanas, partindo de Cabo Canaveral, na Flórida. Mas a missão a Marte depende de um foguete muito maior, o Terran R, que pode ser comparado em tamanho e capacidade de elevação ao Falcon 9, o principal foguete da SpaceX que foi lançado 31 vezes até agora em 2021. Esse projeto não está programado para sair do papel até o final de 2024 ou início de 2025, disse Ellis.

A parceira da Relativity, a Impulse Space, é uma empresa ainda mais jovem, com menos experiência. Mas seu fundador, Thomas Mueller, é um veterano do negócio espacial e era o empregado número 1 quando Musk começou a SpaceX em 2002. Mueller liderou o desenvolvimento da família de motores de foguetes Merlin, usada no Falcon 9.

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Ele se aposentou e deixou a SpaceX em 2020. Um ano depois, fundou a Impulse para desenvolver espaçonaves para transporte entre locais no espaço.

“Tenho a sensação de que se não é algo desafiador e que as pessoas acreditam ser difícil, e que talvez não seja possível de se fazer, não é difícil o suficiente”, disse Mueller. “Precisamos fazer coisas que as pessoas acreditam que não podem ser feitas.”

Pousar em Marte – chegando a cerca de 19.000 km/h, sem pegar fogo na atmosfera e depois pousando no solo, intacto, apenas sete minutos depois – se adequa à categoria de desafio. Apenas a Nasa e a China tiveram missões bem-sucedidas na superfície do planeta vermelho.

Uma vez lançada, a espaçonave da Impulse se desprenderia do estágio superior do foguete e seguiria em uma viagem de nove meses a Marte.

A espaçonave consistiria em um módulo de cruzeiro para lidar com a propulsão e as comunicações durante a viagem a Marte e uma cápsula com um módulo de pouso. Perto de Marte, a cápsula se separaria do módulo de cruzeiro e entraria na atmosfera para um pouso semelhante ao da InSight, espaçonave da NASA que pousou em Marte em 2018 para medir a atividade sísmica no planeta.

Mueller disse que o tamanho e o formato da cápsula seriam os mesmos usados na missão InSight. “É como usar os mesmos tipos de materiais de proteção térmica, exatamente o mesmo modelo de paraquedas”, disse ele. “Então, estamos apenas usando o que a NASA já analisou bastante e testou em todas as missões desse tamanho que foram a Marte com sucesso.”

Precisamos fazer coisas que as pessoas acreditam que não podem ser feitas.”

Thomas Mueller, fundador da Impulse Space e veterano do negócio espacial

O módulo de pouso seria do tamanho da InSight, porém mais leve, disse Mueller. A configuração básica não incluiria nem mesmo os painéis solares e não funcionaria por muito tempo, apenas até o fim das baterias.

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Mueller disse que a Impulse começou a conversar com o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, na Califórnia, responsável pela missão InSight, este ano.

No entanto, um porta-voz do laboratório disse que ainda não houve muito trabalho entre a instituição e a Impulse. “Parece que tivemos algumas discussões preliminares com a Impulse a respeito do tema”, disse o porta-voz Andrew Good. “Mas embora eles venham entrando em contato para nos reunirmos este ano, esse encontro ainda não aconteceu.”

O diretor do Programa de Exploração de Marte da Nasa, Eric Ianson, disse, por meio de um porta-voz na sede da agência, que a Nasa não teve nenhum contato direto com a Impulse e que não tinha conhecimento das especificidades do que a empresa estava pretendendo fazer. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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