SÃO PAULO – A arena Staples Center, em Los Angeles, está acostumada a ter ingressos esgotados para partidas de basquete e shows de música. Em outubro de 2013, porém, foi tomada por fãs do jogo League of Legends na final do campeonato mundial do game. Além da lotação física, a partida foi acompanhada na web por mais de 5 milhões de pessoas por meio de um site dedicado a transmissões de partidas de videogame em tempo real chamado Twitch, que permite a qualquer pessoa criar um canal e exibir seus jogos de graça e ao vivo.
Nas últimas semanas, o Twitch ficou conhecido graças a um jogo coletivo de Pokémon. Mas o sucesso da plataforma criada em junho de 2011 não é de hoje. Em 2013, o site registrou mais de 45 milhões de visitantes mensais.
Os números flagram um público que cresce cada vez mais: são jovens fãs de games – em especial de títulos que aceitam vários jogadores, como League of Legends (LoL) ou Defense of the Ancients 2 (Dota 2) – que estão deixando a TV de lado para assistir e transmitir suas partidas pela web.
Segundo dados do Twitch, 68% de seu público reduziu o tempo que assiste TV para se dedicar aos games. “Somos a nova televisão: nossos usuários têm o aparelho, mas o utilizam para ver jogos ou assistir à Netflix. A TV paga, que transmite esportes, se tornou obsoleta”, diz Matthew Di Pietro, vice-presidente de marketing da empresa.
Galvão Bueno“A vantagem do Twitch é que ele é de graça. Além disso, só está ali quem quer”, diz Gustavo Ruzza, conhecido na web como Melão13. Aos 25 anos, o rapaz se formou em Psicologia, mas largou os pacientes no divã para virar um dos mais populares narradores de LoL do País. Com 50 mil fãs no Facebook, Ruzza hoje trabalha em uma agência especializada em esportes eletrônicos.
Ele não é o único. Especializado em jogos de tiro em primeira pessoa (FPS, na sigla em inglês), o narrador William Lemos – ou gORDOx – acredita que seus 250 mil fãs no Facebook o assistem porque o acham engraçado. “Sou meio Galvão Bueno”, brinca ele, que horas antes da entrevista havia acabado de chegar da China, onde acompanhou uma equipe brasileira em um campeonato do FPS CrossFire.
Na onda“Hoje não faço nada, só jogo. Quero fazer faculdade, mas vou deixar para quando a onda boa acabar”, conta Mateus Vieira. Aos 18 anos, o jovem de Maracanaú (CE) diz viver só com a renda de suas partidas no Twitch.
“Em um mês ruim, dá para tirar R$ 3 mil”, conta ele, que recebe por anúncios e por mais de 300 assinaturas em seu canal. Em média, cada assinante paga US$ 5, recebendo em troca privilégios no chat com o jogador e a remoção dos anúncios nas transmissões – os lucros são divididos entre o Twitch e o transmissor.
Vieira, Lemos e Ruzza são alguns dos mais de 5 mil parceiros do Twitch, que lucram com o site e o ajudam a crescer, sendo formadores de opinião para seus fãs. “Eles querem saber que marca estamos usando, o que abre um campo enorme para publicidade”, diz Ruzza, que estima em R$ 5 mil o valor de um anúncio no site – o Twitch, porém, não fala sobre faturamento ou propaganda.
“Ninguém se dedica tanto à transmissão de games”, avalia Di Pietro. Já Ruzza cita rivais do serviço, como o Azubu.tv – que tem mais qualidade, mas é menos acessível. “O Twitch é bom por ser simples e atrair muita gente”, resume.
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