As feridas do insucesso

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Por edsonrigonatti

ANÁLISE

EDSON MARQUETO RIGONATTI

 

AS FERIDAS DO INSUCESSO

 

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Quando o Virgilio Pedro listou os aspectos da natureza humana, que ele experimentou durante o seu processo de falência, inúmeras memórias e sentimentos vieram-me a tona de forma arrebatadora, afinal, eu era uma dos membros da tripulação do barco que afundara.

 

Fiquei anos à deriva, até chegar em alguma praia. Quando eu conheci a Marília Rocca em 2000, ela tinha acabado de fundar a Endeavor no Brasil. Me envolvi de imediato com a causa, mas não entendia o motivo da minha atração pelas mentorias que fazia com os empreendedores. Achava os encontros inspiradores e curadores. Inspiradores porque empreendedores sempre trazem visões de um futuro melhor e uma energia cativante que nos recarrega em todos os aspectos. E só vim entender porque esses encontros eram curadores anos depois, quando aprendi que médicos, psicólogos, assistentes sociais, padres e outras figuras que nos curam, muitas vezes, mais do que curar, querem ser curados.

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E eu precisava de muita cura. Desde que a empresa da família faliu em 1996, não apenas nos colocando em uma situação econômica complexa, mas principalmente esfacelando o núcleo familiar, eu buscava alguma maneira de voltar no tempo e salvar todos daquele estrago. E as mentorias apaziguavam-me a alma. Ajudar os outros era uma maneira de me imaginar ajudando o meu pai e tentar evitar que cometêssemos os erros que os empreendedores normalmente cometem nessas situações.

 

A troca com os empreendedores era tão intensa e positiva que passei a não querer mais apenas fazer mentorias pro bono. Passei a querer viver aquilo em tempo integral e ser "profissional" na ajuda. Passei então a colecionar os problemas e as questões, assim como as profilaxias e métodos de cura. Finalmente, resolvi dedicar-me à vida de investidor, versão profissional do curandeiro mentor.

 

Embora a maior parte das interações com os empreendedores eram, e ainda são, voltadas para a busca pelo "sucesso", é impossível planejar o caminho com a maior probabilidade de nos levar até esse objetivo sem levar em consideração os aspectos que Virgilio Pedro cita: empolgação, otimismo, imprudência, arrogância, cegueira, surdez, orgulho e desespero.

 

Mas como ajudar empreendedores a enfrentar esses aspectos emocionais nos momentos mais críticos de suas jornadas quando eu mesmo, ainda, não sabia lidar da melhor maneira possível com as minhas próprias emoções?

 

Durante anos tentei enfrentar as minhas sombras e as dos empreendedores, que ajudava, na força bruta. Até que uma crise de relacionamento com os meus sócios na Astella derrubou-me e tive que buscar ajuda externa. Comecei com um coach, fui fazer terapia, consultei numeróloga, vivi algumas constelações familiar, e venho trabalhando com meus sócios no desenvolvimento pessoal e de grupo através da metodologia LABEL, uma ferramenta que fornece um mapa de personalidade individual e de grupo.

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Muito aprendemos nas últimas décadas com o avanço da governança corporativa: um sistema composto por processos, condutas, costumes e políticas a partir do qual uma instituição é administrada e monitorada, alinhando o interesse de todos os públicos envolvidos. Assim garantimos que alguém esteja sempre de olho nas finanças e questões jurídicas das nossas empresas.

 

Mas, a verdade é simples: mais que governança corporativa, precisamos buscar algum tipo de governança humana, para garantirmos que, ao longo da jornada e em especial nos momentos de crise, possamos lidar com todos os fatores humanos que dificultam lidarmos com o sucesso e com o insucesso.

 

Ter-me tornado investidor talvez seja uma maneira de não aceitar a responsabilidade que um empreendedor tem de carregar: a de tentar tudo para alcançar o sucesso e ainda estar constantemente pronto para o insucesso. Resta continuar as pesquisas e dissecar os sucessos e insucessos na busca por, além de mim, ajudar os empreendedores.

 

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