De onde vem as boas ideias

Análise: Sucessos&Insucessos Edson Rigonatti

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Por Virgilio Pedro Rigonatti

De onde vem as boas ideias

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Toda empresa nasce de uma motivação, como discutimos na semana passada, e de uma idéia. Muitas vezes a idéia é algo genérico, quase uma categoria, como quando alguém decide que vai empreender no ramo de moda, ou de alimentação saudável. Outras vezes, a idéia é algo bastante específico, como quando alguém quer resolver o câncer de mama ou ainda vender coleira anti-pulga para gatos.

É muito difícil avaliar se uma idéia é boa ou ruim. Até porque idéias não valem nada, ou praticamente quase nada. Estudos apontam que, quando um grupo de pessoas decide empreender, aquele que teve a ideia tem na média apenas 1% a mais de participação societária do que os demais.

Para uma idéia dar certo, ou ser um sucesso, ela passa por pelo menos duas principais fases. A primeira é a validação, a segunda, da escalabilidade.

Na validação, a idéia precisa encarnar em dois corpos: o produto e o canal de distribuição. Não basta eu querer lançar uma loja de roupas (produto) e distribuir panfletos no bairro (canal de distribuição). É preciso encontrar (através da ciência) ou achar (com muita sorte) os elementos ou funcionalidades que compõe o produto e o canal de distribuição.

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Essa busca é tão complexa que Sam Walton levou 27 anos abrindo vários tipos de lojas até encontrar todas as características de produto e distribuição que fizeram do WalMart o sucesso que é. Para Salomão & Zoppi, foram precisos quase 15 anos para o conceito escalável do laboratório ser construído.

Steve Blank, autor dos "4 Passos para Epifania", o evangelho do processo de validação, ou "descoberta", como ele prefere chamar, estima que são preciso mais de 8 mil hipóteses para achar todos os elementos necessários para alcançar esse ponto de ebulição, ou "product-market-fit" como chamamos hoje em dia.

Acha um absurdo 8 mil hipóteses? Imagine que você quer lançar uma pasta de dente. Quantas possíbilidades de componentes quimicos para a pasta podem existir? De cor? De sabor? De cheiro? Quantas possibilidades para o formato e textura do tubo? Da tampa? Da caixa? Quantos tamanhos e preços? Nome? Descrição? Frases de marketing? Imagens? Tipos de material de propaganda?

Quando pensamos na ciência de toda essa complexidade, percebemos porque é quase um milagre uma idéia dar certo! E, se conseguirmos a graça dessa validação, ainda é preciso ser bem sucedido em escalar esse conceito ao infinito. Imagine que a partir da loja de Sam Walton, ou do laboratório do Salomão & Zoppi que "deu certo", multiplicar esse feito para centenas ou milhares de ponto-de-venda?

Embora a sorte ser um fator muito relevante - já que se estima, hoje, que 49% dos fatores determinantes do sucesso ou do fracasso de uma empresa são sorte - o talento ou a ciência é determinante para um sucesso estrondoso, mas responsável por apenas 51% dos fatores. A ciência por trás da validação chama-se Gestão de Produto. Os melhores empreendedores seguem processos para gerar idéias vindas de múltiplas fontes (e não só da cabeça dele); para escolher as hipóteses com maior chance de sucesso; para prototipar os poucos conceitos que podem alavancar o negócio; para lançar e modificar o produto ao longo da sua jornada; para escolher a melhor forma de chamar a atenção de potenciais clientes e da melhor maneira de vender e encantá-los.

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Já a ciência da escalabilidade chama-se Gestão de Talentos. Os melhores empreendedores não param de caçar aquelas pessoas que podem fazer a diferença. Eles criam marcas de desejo e se tornam os lugares mais procurados para se trabalhar. Eles sabem treinar e remunerar esses talentos. E bons talentos atraem mais bons talentos.

E para aqueles empreendedores que vão além, eles não apenas dominam as disciplinas do talento, mas sabem se preparar para lidar com a sorte ou com o azar. Eles sabem a diferença entre o que é saber o que sei, saber o que não sei, e o não saber o que não sei.

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