Com campanha oficial, time de futebol profissional indígena busca primeiro patrocínio

Grupo de publicitários criou filme para o Gavião KFC, da aldeia Kyikatejê, que disputa a segunda divisão paraense

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Por Igor Ribeiro
Atualização:

Em julho do ano passado, Abel Ferreira fez um elogio à formação tática do Palmeiras durante o Brasileirão e usou uma expressão que repercutiu mal. Foi após um jogo contra o Atlético-GO, quando disse em coletiva que “isso não é uma equipe de índios”. Em seguida, ele se desculpou publicamente.

Pôster da campanha que busca patrocínio para o Gavião Kyikatejê Futebol Clube, equipe indígena do Pará Foto: Divulgação

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O caso foi o gatilho para que um grupo de publicitários no eixo São Paulo-Nova York-Amsterdã se unisse para debater ideias que ajudassem a diminuir a falta de letramento em relação aos povos originários do Brasil. Dessa forma, o coletivo encontrou o Gavião Kyikatejê Futebol Clube, equipe profissional formada por indígenas que disputa a segunda divisão do campeonato paraense e busca por um patrocinador desde sua profissionalização, em 2009.

Para ajudá-los, reuniram-se Victor Toyofuku (VP de criação da Area 23, sediado nos EUA), Yohanna Ioshua (sênior copywriter da WMcann em SP) e Henrique Louzada (redator na Ogilvy holandesa). Eles consultaram o cacique Zeca Gavião, da aldeia Kyikatejêe, também presidente e técnico do Gavião Kyikatejê Futebol Clube, e propuseram a realização de uma campanha voluntária para atrair patrocinadores ao time.

A campanha foi filmada em 16 milímetros pela Balma Films, com cenas de animação da Dirty Work, trilha da Bumblebeat e finalização da Cuadro Post. Todos se voluntariaram no trabalho, que foi lançado hoje, no Museu do Futebol em São Paulo. O clube contou com apoio também para outras peças e na gestão de suas redes sociais.

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O Gavião Kyikatêjê Futebol Clube é mais do que uma equipe; é resistência, cultura e história viva, composta 100% por indígenas. Apesar disso, nunca teve um patrocinador oficial

Victor Toyofuku

“Em 16 de julho de 2024, conversei pela primeira vez com Pepkrakte Jakukreikapiti Ronore Konxarti, conhecido como Zeca Gavião. Isso aconteceu poucos dias após um técnico famoso fazer uma declaração preconceituosa sobre um ‘time de índios’”, recorda Toyofuku. “Mesmo sem saber como, fiz a promessa de criar algo que o deixasse orgulhoso. Sete meses depois, ao lado de um time sensacional sinto que cumpri essa promessa. O Gavião Kyikatêjê Futebol Clube é mais do que uma equipe; é resistência, cultura e história viva, composta 100% por indígenas. Apesar disso, nunca teve um patrocinador oficial”, complementa.

Os criativos e diretores mergulharam na cultura dos Kyikatejêe, com consultoria da atriz e produtora Karina Puri, CEO da agência Arte Salva Conexões, especializada em curadoria com artistas e profissionais indígenas. Faga Neto, da Dirty Work, diz que a animação “destaca as características únicas de um time com raízes indígenas e cheia de símbolos de uma cultura única como a dos Kyikatejêes, na qual foram incorporadas pinturas manuais e elementos das pinturas corporais da aldeia paraense, traduzindo esse costume direto para o papel, com tinta, pincel e dedo”.

As cenas, portanto, vão desde o cotidiano dos indígenas até as animações representativas dos símbolos e de sua arte. “O filme mistura estética real e imaginária, animação e live action. Enquanto um narra as dificuldades do clube em obter patrocínio, a animação traz a lenda do gavião”, acrescenta Gustavo Leal, também diretor nos trechos em animação. A narração de Zeca Gavião relata os desafios da aldeia e o sonho de constituir uma equipe de futebol, até conectar com o comentário de Ferreira e, a partir daí, questionar a única coisa que o Gavião KFC ainda não tem: uma marca apoiando o time.

Em comunicado, Zeca Gavião, primeiro indígena brasileiro a concluir um curso superior em futebol, ressaltou a importância da iniciativa: “Estamos em busca de empresas dispostas a investir no time. Isso vai nos ajudar a melhorar a estrutura e a qualidade de vida dos atletas e da comunidade da aldeia Kyikatejê”.

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