1/6 de jovens assassinados havia bebido

Equipe da USP analisa homicídios na capital paulista e aponta ligação entre consumo de álcool e violência

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Por Fernanda Aranda
Atualização:

Pesquisa do Departamento de Medicina Legal da Universidade de São Paulo (USP) que acaba de ser publicada aproxima dois dos universos que mais ameaçam a juventude paulistana: a violência e o consumo excessivo de álcool. Análise feita com todos os casos de homicídios que ocorreram na capital paulista em 2005 revela que, em média, um em cada seis menores de 18 anos assassinados havia bebido no dia do crime. Para os especialistas, a bebida alcoólica, que já não deveria fazer parte da rotina adolescente, pode ter favorecido a morte violenta. O estudo leva em conta os corpos que deram entrada no Instituto Médico-Legal (IML) da capital. Foram 2.042 pessoas assassinadas naquele ano e todas tiveram uma amostra de sangue colhida. No total, independentemente da idade, a presença de álcool nos mortos chegou a 43%, o que para os analistas confirma a alcoolemia como um dos combustíveis da violência. No recorte da faixa etária entre 0 e 18 anos, o índice de positividade foi de 17%, um dos dados que mais preocupou os autores do trabalho. Os resultados serão publicados na edição de dezembro da revista científica Addicton, uma das referências mundiais da medicina especializada em álcool e drogas. Apesar da redução de assassinatos desde a coleta dos casos até os dias atuais, o perfil das vítimas de homicídios dolosos não mudou: a maioria é jovem, negra e mora na periferia. Já os dados sobre consumo de álcool estão diferentes, diz o Centro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas. No intervalo de uma geração, o primeiro gole passou de 15 para 12 anos. A facilidade de o adolescente chegar à bebida foi evidenciada por um levantamento da Unifesp. Em 80,2% dos casos, crianças e adolescentes conseguiram comprar bebida na primeira tentativa em bares.Para Gabriel Andreuccetti, autor da pesquisa da USP, o contato precoce com consumo nocivo de álcool facilita a violência. "O álcool interfere no comportamento agressivo, diminui os reflexos e deixa as pessoas mais vulneráveis", explica. O levantamento avaliou a presença de álcool apenas nas vítimas, mas ensaios feitos em Nova York encontraram índices de alcoolemia próximos entre assassinos e assassinados (também na casa dos 40%). Além das publicações internacionais sugerirem que os autores dos crimes beberam tanto quanto as vítimas, a própria dinâmica dos homicídios de São Paulo indica isso, acredita Dênis Mizne, diretor do Instituto Sou da Paz. "Quem mata é muito parecido com quem morre. É o acerto de contas, a banalidade", avalia Mizne, que considera o álcool como um dos fatores mais influentes na violência. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa analisou os assassinatos registrados e, em 73,9% dos casos, os assassinados conheciam os autores dos crimes, residiam em local próximo ao deles e frequentavam os mesmos lugares.

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