Acidente no Metrô faz 2 anos e famílias ainda lutam

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Por CAROLINA FREITAS
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Sueli Aparecida Brandina só dorme com a ajuda de calmantes. Estalos da parede do sobrado tiraram o sono da dona de casa de 54 anos. Ela é vizinha do canteiro de obras da futura Estação Pinheiros do Metrô de São Paulo, que desabou há dois anos, em 12 de janeiro de 2007. Sete pessoas morreram no acidente. Treze respondem na Justiça por homicídio culposo. Duzentas e doze fecharam acordos extrajudiciais com o Consórcio Via Amarela, contratado pelo governo do Estado para construir o trecho da Linha 4. Na mesma ação, doze pessoas, de duas famílias, ainda lutam na Justiça por reparação de danos morais e materiais. Sem condições financeiras de mudar de endereço, elas convivem com a rotina de listar rachaduras, rebaixamentos de piso e portas que não fecham mais. As casas das duas famílias estão longe demais do local do desabamento para serem condenadas. E perto demais para passarem incólumes aos impactos da obra e do acidente. Ficam nas Ruas Amaro Cavalheiro e Pascoal Bianco, a cerca de 450 metros de onde se abriu a cratera da Estação Pinheiros e a 200 metros de onde passa o túnel subterrâneo da Linha 4. Para o consórcio, os sobrados estão "fora da área de abrangência da obra". Os moradores, porém, afirmam que os problemas surgiram depois do início das obras, no fim de 2005, e aumentaram após o acidente. Na ação judicial, iniciada em março de 2007, eles pedem a reforma dos imóveis e indenização por danos morais no valor de 100 salários mínimos por morador, o que equivaleria hoje a R$ 41,5 mil por pessoa. As famílias chegaram a ficar dez dias hospedadas em um hotel pago pelo consórcio, por determinação judicial. A liminar, no entanto, foi revista pela mesma juíza que a havia concedido e elas tiveram de deixar o hotel às pressas. "A transferência para o hotel levou mais tempo do que a estada", lembra Sueli. "Ficamos apavorados quando recebemos a ordem para sair imediatamente. Foi como levar uma tijolada na cabeça." Para a neta de Sueli, Maria Eduarda, de 8 anos, esse foi o pior período desde que os problemas começaram. "Ela sentia saudade de casa, dos brinquedos e da cachorrinha de estimação, que ficou em um pet shop", conta a filha de Sueli, a professora Dhanyelle de Freitas Nobre, de 31 anos. "Quando ela se acostumou com tudo isso, tivemos de voltar." Além das três, mora no sobrado o marido de Dhanyelle, Renato de Freitas Nobre. Aberto há um ano e dez meses, o processo ainda está em fase inicial na 5ª Vara Cível de Pinheiros. O juiz precisa antes decidir se aceita ou não o pedido do consórcio para incluir o governo de São Paulo como réu na ação. O próximo passo será a produção de provas, por meio de uma perícia nas casas. Para o representante das famílias, o defensor público Carlos Henrique Loureiro, a decisão em primeira instância pode levar até dez anos. "Sabemos que demora, por isso nos preocupamos em achar uma solução alternativa, como um acordo, para resolver a questão o quanto antes", diz Loureiro. "Essas pessoas não podem esperar por uma decisão que tarde e acabe falhando." A parceira de Sueli na luta pela reparação de danos é a bióloga Zelma Fernandes Marinho, de 53 anos, que mora com três pessoas. Na época da abertura do processo, viviam com Zelma a filha mais velha, o genro e dois netos. "Eles cansaram de passar susto. Foram morar bem longe", conta Zelma. O sobrado da bióloga tem um dormitório no piso superior interditado pela Subprefeitura de Pinheiros desde 18 de janeiro de 2007. A vistoria foi feita justamente por causa do desabamento da Estação Pinheiros. Questionada pela reportagem da Agência Estado, a Subprefeitura de Pinheiros informou que, "embora não apresentasse risco iminente de queda, o dormitório foi interditado preventivamente" para "assegurar que a utilização do quarto não aumente as rachaduras do imóvel". Na última vistoria, em dezembro, os técnicos não teriam identificado "trincas estruturais ou fissuras profundas comprometedoras". Mesmo assim, mantiveram a interdição parcial da casa. Zelma e Sueli integram um grupo de moradores de Pinheiros que alertaram o Consórcio Via Amarela (CVA) sobre danos em suas casas antes da tragédia do dia 12 de janeiro de 2007. Elas chegaram a organizar um abaixoassinado dias antes do acidente. Só deu tempo de colher 14 assinaturas. "Naquela época, estávamos muito unidos", conta Sueli. "Agora, mesmo que todos os moradores das duas ruas, sem exceção, estejam com problema nos imóveis, ninguém quer passar pelo trabalho que Zelma e eu estamos passando." A reportagem da AE pediu entrevista com a direção do Consórcio Via Amarela, mas, por meio da Assessoria de Imprensa, foi informada de que eles só se pronunciariam por meio de nota. No material, o consórcio limitou-se a responder que as casas da Rua Amaro Cavalheiro e Pascoal Bianco "estão fora da área de abrangência da obra". Informou ainda que "concluiu os acordos com todas as famílias das vítimas fatais do acidente nos primeiros 90 dias" e que "os moradores deslocados de suas residências foram indenizados e retomaram sua rotina sem ter de recorrer à Justiça".

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