Alerta poderia ter salvado vidas de massacre nos EUA, diz relatório

Painel independente analisou caso de estudante que matou 32 pessoas em universidade.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Vidas poderiam ter sido poupadas caso a polícia e a reitoria da universidade Virginia Tech, nos Estados Unidos, tivessem agido mais rápido após os primeiros assassinatos cometidos pelo estudante Cho Seung-Hui, de acordo com relatório de um painel independente divulgado nesta quinta-feira. No último dia 16 de abril, o estudante sul-coreano abriu fogo no campus da universidade, matou 32 pessoas e, depois, suicidou-se. "Ter alertado estudantes, professores e funcionários poderia ter feito a diferença", afirma o relatório. O painel de oito membros, indicados pelo governador do Estado da Virgínia, Tim Kaine, também concluiu que, apesar de Cho ter demonstrado sinais de instabilidade mental antes, os funcionários da universidade não tomaram as medidas adequadas para lidar com o estudante. De acordo com o relatório, as autoridades locais deveriam ter emitido um alerta ou cancelado as aulas assim que Cho matou as duas primeiras vítimas - Emily Hilscher e Ryan Clark - no dormitório, pouco depois das 7h. "O VTPD (sigla em inglês para a polícia da Virginia Tech) errou ao não exigir um anúncio amplo em todo o campus de que duas pessoas haviam sido mortas e de que todos os estudantes e funcionários deveriam ficar cautelosos e em alerta", diz o relatório. A polícia do campus inicialmente suspeitava que o namorado de Emily Hilscher estivesse por trás dos assassinatos. Por imaginar que se tratava de um incidente isolado, os policiais se limitaram a procurá-lo. "Administradores da universidade fracassaram em emitir um anúncio sobre os assassinatos em West Ambler Johnston por pelo menos duas horas", diz o texto. Mais de duas horas depois, Cho matou 30 alunos e professores e depois se matou, no complexo Norris Hall, em outra parte do campus. Apenas às 9h26, a universidade enviou um e-mail para estudantes e funcionários alertando para os "tiros no campus" e pedindo cautela. Segundo o relatório, uma ordem para que ninguém saísse de suas salas poderia ter ajudado estudantes e professores e minimizado o massacre, mas provavelmente isso não seria suficiente para parar Cho, que "havia começado uma missão para cumprir uma fantasia de vingança". O painel também notou que, como estudante, Cho tinha acesso à mesma mensagem enviada para todos no campus. O texto conclui que uma ordem geral para que todas as pessoas não deixassem suas salas em todos os 131 prédios da Virginia Tech não era possível naquele dia, e que havia pouco que a universidade pudesse fazer para impedir os ataques de Cho. "Não parece haver um cenário plausível de uma resposta da universidade para o homicídio duplo que pudesse ter prevenido a tragédia de magnitude considerável no dia 16 de abril", diz o relatório. O relatório fez críticas à forma como as autoridades do campus reagiram aos sinais de que Cho poderia ter problemas mentais. "Durante o ano júnior de Cho na Virginia Tech, vários incidentes ocorreram que eram sinais claros de sua instabilidade mental", diz o texto. A polícia sabia que Cho, que foi da Coréia do Sul para os Estados Unidos em 1992, havia passado por uma clínica psiquiátrica em 2005. Cho passou por uma avaliação médica depois que duas estudantes reclamaram formalmente dele, com preocupações sobre seu comportamento bizarro e tendência suicida. Mas a informação nunca foi repassada para a universidade, por falta de recursos, por má interpretação de leis de privacidade e por passividade, afirma o relatório. "Apesar de vários indivíduos e departamentos dentro da universidade conhecerem cada um desses incidentes, a universidade não interveio de forma eficiente. Ninguém sabia todas as informações e ninguém ligou todos os pontos." No intervalo entre os assassinatos, Cho enviou um pacote para a rede de televisão americana NBC com 28 clipes de vídeo, 1,8 mil palavras de texto e 43 fotos, incluindo 11 em que Cho usava armas diante das câmeras. Apesar de o relatório não apresentar conclusões sobre os motivos de Cho, o painel identificou que o estudante fantasiava sobre os assassinatos de 13 pessoas na escola Columbine High School, em 1999, no Estado do Colorado. Após a divulgação do relatório, o governador da Virgínia disse que o objetivo do relatório não era procurar culpados, mas pensar em maneiras de evitar que episódios desse tipo se repitam. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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