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Alta dos alimentos deve dominar cúpula América Latina-Europa

Por TERRY WADE
Atualização:

Um debate acirrado a respeito dos biocombustíveis, responsáveis, segundo alguns, por elevar o preço dos alimentos e provocar desmatamento, ameaça dominar o encontro entre líderes da América Latina e da Europa nesta semana, no Peru. A União Européia (UE) e o Brasil, maior exportador mundial de etanol, afirmam que os biocombustíveis podem ajudar a reduzir a emissão de gases do efeito estufa. No entanto, vários presidentes latino-americanos --entre os venezuelano Hugo Chávez e o peruano Alan García-- reclamam que os biocombustíveis elevam os preços do milho, do arroz e do trigo na região e poderiam levar milhões de pessoas à miséria. "Não tenho dúvida de que o tema da comida ocupará um lugar central nos debates da cúpula", afirmou o ministro peruano das Relações Exteriores, José García Belaunde, antes do encontro dos líderes, na sexta-feira. Indícios de atrito surgiram quando Chávez disse, no domingo, que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, era uma descendente política de Adolf Hitler. A declaração dele surgiu após Merkel ter convocado outros dirigentes latino-americanos a se distanciarem de Chávez. Especialistas afirmam que a crise mundial dos alimentos é provocada por uma série de fatores, entre os quais a utilização de terras férteis para produzir biocombustíveis, condições climáticas desfavoráveis, um aumento do consumo de alimentos em alguns países em desenvolvimento e a elevação do preço dos combustíveis. LIVRE COMÉRCIO O encontro em Lima será a quinta cúpula entre os líderes da Europa e da América Latina. Essa reunião também deve tratar da pobreza, das mudanças climáticas e do livre comércio em um momento no qual alguns governos respondem à alta do preço dos alimentos limitando a exportação desses produtos e impondo sistemas de controle de preços. Os defensores do livre comércio afirmam que acordos mais amplos nesse sentido conteriam o preço dos produtos alimentícios ao eliminar as barreiras alfandegárias. Alguns argumentam, no entanto, que os pactos comerciais prejudicam a produção de alimentos ao cortar subsídios que incentivam os fazendeiros a plantar. Uma outra questão importante para a UE é a da garantia dos contratos, já que os governos da Bolívia, do Equador e da Venezuela realizaram manobras para assumir o controle de empresas estrangeiras. Os dirigentes desses três países devem participar, em Lima, antes do início do encontro oficial, de uma "Cúpula do Povo" organizada por ativistas de esquerda. A UE espera ainda pressionar o Brasil, um novo peso-pesado do comércio mundial, e outros países latino-americanos a fazerem concessões a fim de que seja selado o tão esperado acordo na rodada de Doha de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). (Reportagem adicional de William Schomberg em Bruxelas e Maria Luisa Palomino e Marco Aquino em Lima)

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