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América Latina promete apoio à Ibéria, mas alerta sobre austeridade

Por FIONA ORTIZ
Atualização:

A América Latina prometeu, neste sábado, oportunidades de investimentos para empresas espanholas e portuguesas, atingidas pela recessão em seus países, mas alertou seus antigos colonizadores que cortes drásticos servirão apenas para aumentar seu sofrimento. A situação econômica ibérica dominou os dois dias da reunião de cúpula com líderes da Espanha, de Portugal e da América Latina, na cidade espanhola de Cádiz --um importante porto para os galeões espanhóis cheios de riquezas nos tempos do império. Numa inversão do destino, Espanha e Portugal agora estão apostando nos mercados Latino Americanos para colocá-los no caminho da recuperação. A presidente brasileira, Dilma Rousseff, foi a estrela do encontro, devido à esperança que as demandas dos consumidores e projetos de obras públicas no Brasil crie oportunidades para empresas ibéricas, desde o setor de energia até o de varejo. "Também fomos atingidos pela crise devido à desaceleração nos mercados internacionais, mas estamos ampliando os investimentos públicos e privados em infraestrutura," disse Rousseff a outros líderes presentes na reunião de cúpula, que termina no sábado. Países latino-americanos estão muito familiarizados com o tipo de crise fiscal que Portugal e Espanha enfrentam agora. Nas últimas décadas eles passaram por ciclos de crescimento e queda, e desvalorizações e programas de austeridade monitorados pelo Fundo Monetário Internacional. "Não cometam os mesmo erros que cometemos", disse o presidente do Equador, Rafael Correa, alertando que a austeridade pode agravar a recessão. Nas décadas de 80 e 90, magnatas espanhóis construíram impérios empresariais na América Latina, no que ficou conhecido como a "Reconquista". As maiores empresas da Espanha, desde grupos bancários Santander e BBVA, à empresa de tecnologia Indra e a de telecomunicações Telefónica, são cada vez mais dependentes das receitas da América Latina, à medida que as operações domésticas caem. Angel Gurria, secretário geral do grupo de nações ricas OCDE disse que a América Latina tem novas oportunidades para investimentos espanhóis em infraestrutura, tecnologia e educação. Mas a América Latina também oferece riscos para as empresas ibéricas. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy disse que as empresas espanholas precisavam de um ambiente de segurança jurídica na América Latina, referindo-se às nacionalizações na Venezuela e Argentina. A presidente argentina, Cristina Fernandez, não participou da reunião de cúpula deste ano, que está acontecendo em meio à controversa nacionalização, em abril, da YPF, uma unidade da grande empresa de petróleo espanhola Repsol. Os líderes da Venezuela, Paraguai, Uruguai, Guatemala, Cuba e Nicarágua também estavam ausentes. Ainda assim, a participação da cúpula deste ano foi melhor do que a do ano passado, quando apenas metade dos membros compareceram, levantando sérias dúvidas sobre a relevância do evento. FORTUNAS CONTRASTANTES Portugal foi resgatado no ano passado pela Europa, depois que correu risco de dar calote na dívida pública e agora a Espanha --quarta maior economia da zona do euro-- está a ponto de precisar de ajuda. Os dois países estão em profunda recessão, enquanto que a América Latina deve crescer 3,2 por cento neste ano, de acordo com a OCDE, e mais fortemente em 2013. Um quarto da força de trabalho espanhola está desempregada. Centenas de milhares de trabalhadores e desempregados fizeram uma manifestação na quarta-feira nos dois países protestando contra os cortes no orçamento. Equatorianos, bolivianos e colombianos correram para a Espanha durante a bolha da construção que implodiu em 2008, deixando o país cheio de prédios vazios e aeroportos e rodovias subutilizados. Agora alguns destes imigrantes voltaram para casa e um crescente número de espanhóis está buscando a sorte na América Latina.

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