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ANÁLISE-Como Obama pode lidar com a euforia da África?

Por DANIEL WALLIS
Atualização:

Horas depois da vitória eleitoral de Barack Obama, o governo do Quênia mandou operários instalarem a primeira rede elétrica da aldeia rural onde viveu o pai do presidente eleito dos EUA. Obama pode ter dificuldades para levar benefícios tão rápidos e tangíveis para todo um continente que saudou seu triunfo com euforia e enormes expectativas. "Os africanos não devem pedir coisas extraordinárias dele, não devem esperar que pelo milagre da sua eleição os EUA vão começar a despejar dinheiro na África para mudar o nosso continente", alertou o presidente senegalês, Abdoulaye Wade. "Não acho que isso vá acontecer, e não seria bom." A eleição de um "filho da África" para o cargo mais poderoso do planeta gerou enorme euforia, mas diante da atual crise econômica global e das muitas prioridades diplomáticas dos EUA -- especialmente Iraque, Afeganistão, Rússia e Irã --, o primeiro desafio do governo Obama na África deve ser justamente o de administrar a expectativa. E, quando de fato resolver agir, não haverá respostas fáceis. Entre conflitos novos (Congo) e antigos (Darfur, Somália), os relatórios sobre a África transmitidos a Obama por assessores serão sempre sombrios. Além das crises humanitárias, os EUA deverão estimular a integração do continente à economia global e garantir acesso aos recursos naturais africanos (especialmente o petróleo) diante da concorrência chinesa e indiana. O analista J. Peter Pham, que deu assessoria sobre África ao candidato derrotado John McCain, disse que a ascendência queniana de Obama pode influir nas suas atitudes para a África -- que, no entanto, levarão em conta também as preocupações estratégicas e políticas. "A excitação que toma conta da África agora representa uma rara oportunidade de traduzir sentimentos efusivos de boa-vontade em uma bonança de capital diplomático que, se cultivada com prudência, pode significativamente promover os valores e interesses da América no continente, ao mesmo tempo em que ajudará a concretizar as aspirações dos africanos por paz, estabilidade e desenvolvimento", disse. A trajetória pessoal de Obama entusiasma milhões de africanos, que receberam a notícia da sua eleição com lágrimas de alegria e orgulho. Alguns líderes da região, porém, podem reservadamente demonstrar certa apreensão, pois durante a campanha Obama prometeu fortalecer os laços com governos e ONGs comprometidos com a democracia e a transparência. O ativista queniano de direitos humanos Maina Kiai disse que Obama demonstrou disposição para a luta quando visitou a África do Sul em 2006 e, na qualidade de único senador negro dos EUA, criticou o presidente Thabo Mbeki pelo programa anti-Aids do país e cobrou dele uma postura mais dura contra o regime de Robert Mugabe no vizinho Zimbábue. Obama em seguida foi ao Quênia, onde encontrou grupos pró-democracia e fez um inflamado discurso sobre direitos humanos na Universidade de Nairóbi. "Logo em seguida autoridades foram ouvidas atacando Obama e dizendo que ele não entende o Quênia", disse Kiai. "A respeito de Darfur, ele tem sido bastante forte. Sobre o Zimbábue, é bem claro sobre a necessidade de mudar e a necessidade de que Mugabe pare de matar e machucar sua gente... (Obama) está consistentemente ao lado do mais fraco, ao lado das pessoas, ao lado do que é certo, e tomara que assim continue." (Reportagem adicional dos escritórios da Reuters em Dacar e Johanesburgo)

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