"BAGAGEM IDEOLÓGICA"
Os desafios de Dilma não se limitam à área fiscal.
Depois de manter os preços da gasolina e da eletricidade artificialmente baixos nos últimos anos para ajudar a conter a inflação, a presidente está sob pressão para finalmente deixar que eles subam.
Um aumento seria uma boa notícia para a estatal Petrobras e para distribuidoras de energia, mas iria complicar os esforços de Dilma de combater a inflação e poderia acabar erodindo sua popularidade.
Uma queda nos preços das commodities devido à desaceleração da economia global e juros maiores nos Estados Unidos poderiam pesar nos esforços para ampliar o crescimento da economia brasileira.
Investidores estão longe de estarem convencidos de que Dilma agirá decisivamente para lidar com tantos desafios econômicos no Brasil em seu segundo mandato, que começa em 1º de janeiro.
As ações brasileiras e o real caíam todas as vezes que Dilma avançava numa pesquisa de intenção de voto na campanha eleitoral e devem enfrentar outro dia difícil na segunda-feira.
"Ela não fez nenhuma mudança em seu primeiro mandato, então eu não penso que ela vai mudar a forma de governar no segundo mandato, disse o economista especialista em contas públicas, Raul Velloso. "Ela tem uma pesada bagagem ideológica e isso não muda da noite para o dia."
Embora Dilma tenha prometido substituir o amplamente criticado ministro da Fazenda, Guido Mantega, os mercados permanecem céticos de que ela mudará de forma drástica a condução da economia e que será menos intervencionista.
Alguns investidores que miram no longo prazo, contudo, estão esperançosos de que a ameaça de um rebaixamento do rating fará Dilma ser levemente mais amigável em relação aos mercados.
Empresários têm pedido há tempos por reformas que reduzam a burocracia, simplifiquem o complexo sistema tributário e modifiquem o sistema previdenciário que colocam sob pressão os resultados corporativos.
Dilma concorda que muitas dessas reformas são necessárias, mas até agora mostrou pouca disposição de se engajar politicamente para fazer com que elas aconteçam através do Congresso Nacional.
Mesmo com uma clara maioria no Congresso, Dilma tem tido dificuldade em aprovar matérias no Legislativo. Um segundo mandato com um novo Congresso mais fragmentado será um complicador adicional para qualquer esforço para reduzir o chamado custo Brasil.
As empresas brasileiras gastam em média 2,6 mil horas por ano calculando os impostos que devem, de acordo com estudo do Banco Mundial. Isso é quase 15 vezes o tempo necessário para se fazer a mesma coisa nos Estados Unidos.
O México e a Colômbia, que embarcaram em reformas mais ambiciosas para abrir suas economias, estão crescendo a um ritmo mais de duas vezes acima do Brasil.
A expectativa é que a economia brasileira mal cresça neste ano e se expanda em apenas 1 por cento em 2015, longe dos 7,5 por cento em 2010, ano anterior à posse de Dilma.
"Eu não acredito que o Brasil pode evitar ficar distantes da tendência global de reformas", disse o vice-presidente de investimentos para mercados emergentes no UBS Wealth Management, Jorge Mariscal.
"Não há mais demanda externa para conduzir a economia (doméstica)."