ESCORREGÃO FISCAL
A maior parte dos investidores e líderes empresariais no Brasil querem mudança no governo, principalmente por conta do baixo crescimento econômico e das finanças públicas.
O governo praticamente abandonou a sua meta fiscal de 2014 ao aumentar seus gastos em programas sociais e em projetos de interesse limitado vistos por críticos como um esforço típico de ano de eleição para ganhar apoio entre os pobres e os parceiros da coligação no Congresso.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou uma estratégia similar em 2010 para garantir que Dilma, a sua sucessora, vencesse a eleição.
Pesquisas feitas antes do primeiro turno no domingo, apontavam Dilma cerca de 6 pontos percentuais à frente de Aécio em um segundo turno. A liderança se dá principalmente pela vantagem de 22 pontos percentuais de Dilma entre as famílias com renda inferior a dois salários mínimos, que equivalem a cerca de 40 por cento do eleitorado. Aécio Neves tinha a liderança entre todas as outras faixas de renda.
Os benefícios de curto prazo do aumento nos gastos são óbvios, mas podem criar grandes problemas no orçamento para Dilma ou Aécio, caso ele consiga a virada.
"A deterioração das finanças do país é tamanha que, independentemente de quem vencer a presidência, o espaço para manobras vai ser muito restrito no próximo ano," disse Marcos Mendes, consultor fiscal do Senado e ex-funcionário do Tesouro Nacional entre 1989 e 1992.
Em 2010, a economia cresceu 7,5 por cento, apoiada em um boom das commodities. Lula tinha construído uma boa reputação em Wall Street e a maioria dos investidores estava disposta a relevar a retórica do passado e o não cumprimento da meta fiscal no seu último ano de governo.
Hoje, a taxa de investimentos no Brasil caiu para apenas 16,5 por cento do Produto Interno Bruto, bem abaixo das taxas superiores a 20 por cento vistas em países latino-americanos como Colômbia e Peru, que registraram crescimento econômico bem maiores.
Os investidores têm dois grandes receios em relação a Dilma: que ela virou as costas para o rigor fiscal e que ela não confia no setor privado, apesar de não ser tão hostil como os governos vizinhos da Venezuela ou Argentina.
Os defensores de Dilma afirmam que ela teve que lidar com uma economia global mais complicada, que afetou também outros mercados emergentes, e que os problemas fiscais também são resultado, em parte, dos cortes de impostos que os próprios líderes empresariais pediram.
No ano até agosto, o governo atingiu apenas um décimo da sua meta de superávit primário de 99 bilhões de reais, ou o equivalente a 1,9 por cento do PIB. Isso torna quase impossível atingir a meta do ano, que foi reduzida em relação à meta inicial de 3,1 por cento do PIB.
O superávit primário é o saldo entre as receitas e as despesas do governo, que serve para pagamento dos juros da dívida.
A posição fiscal mais frágil levou a agência Standard & Poor's a reduzir em março o rating da dívida soberana do Brasil para próximo do território especulativo, e a Moody's Investors Service a ameaçar fazer o mesmo.
Dilma insinuou que vai tratar dessas questões que preocupam as agências de risco e outros ao fazer cortes de gastos no início de 2015, mas de forma limitada e gradual.
Qualquer coisa a mais do que isso seria politicamente complicado, já que Dilma acusou Aécio de estar preparando um forte arrocho nos gastos se for eleito, uma estratégia de ataque que os seus assessores garantem vai ficar ainda mais pronunciada no segundo turno.
Em uma ação vista como tentativa de agradar o setor privado, Dilma anunciou recentemente que irá substituir o ministro da Fazenda, Guido Mantega, caso seja reeleita, ainda que a sua saída já fosse esperada e que a presidente tome ela mesmo várias das principais decisões financeiras.
Charles Lieberman, fundador do Advisors Capital Management, fundo de investimento que administra 1 bilhão de dólares em ações e outros ativos, disse que vendeu todas as ações que tinha da Petrobras no início do mandato de Dilma por conta da sua interferência na estatal de petróleo e na economia em geral.
O comportamento de Dima nesta campanha eleitoral tem sido "preocupante", disse ele. "Para mim, tudo isso diz: fique longe."