Análise: Ex-premiê dá tiro no escuro ao voltar ao Paquistão

Benazir Bhutto pode reassumir cargo, mas também pode ser presa.

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Por M Ilyas Khan
Atualização:

A ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto decidiu dar um tiro no escuro ao voltar ao seu país, depois de oito anos de exílio voluntário. Quando ela fixou uma data para o retorno, esperava-se que os problemas políticos e legais vividos pelo Paquistão nos últimos meses já tivessem sido resolvidos e que ela pudesse colocar em prática uma aliança com o presidente Pervez Musharraf, possivelmente reassumindo o cargo de primeira-ministra. Mas os problemas continuam. A Justiça ainda discute a situação legal de Musharraf, reconduzido à Presidência nas eleições de 6 de outubro. A Suprema Corte ainda precisa decidir se ele poderia ter se candidatado, e um parecer não é esperado em pelo menos duas semanas. Enquanto isso, uma lei que torna inválidos processos por corrupção contra Benazir Bhutto está sendo contestada nos tribunais, o que significa que a ex-primeira-ministra ainda pode ser presa. Desde as eleições gerais de 2002, Benazir Bhutto, que é líder do maior partido do país, o PPP, tem participado de negociações para dividir o poder com Musharraf. Com a aproximação de eleições parlamentares (que devem ocorrer até a metade de janeiro) e a diminuição da popularidade de Musharraf, Benazir Bhutto pode usar o limbo legal a seu favor, pressionando o governo para que faça mais concessões, como dar garantias de que as eleições serão livres. Com seu apelo popular, Benazir Bhutto também poderia competir de forma mais agressiva com Musharraf por espaço para seus aliados no governo. Mas, além da possibilidade de ser presa, a ex-primeira-ministra também enfrenta as ameaças de atentados suicidas de ativistas do Talebã, que já prometeram assassiná-la. O problema dos militantes islâmicos não é novo para a ex-primeira-ministra, cujo partido tem um histórico de sucesso no combate a esse tipo de problema em Karachi e no noroeste do país na metade dos anos 90. Com suas credenciais seculares e liberais, ela pode ser o nome ideal para deter os militantes islâmicos que atuam no Paquistão, caso volte a ser primeira-ministra. Benazir Bhutto ocupou o cargo duas vezes, de 1988 a 1990 e de 1993 a 1996. Em ambas ocasiões, seu governo foi dissolvido de forma prematura por ordens presidenciais. Ela deixou o Paquistão em 1999, dois anos depois de seu marido ter sido preso e de uma série de acusações de corrupção, das quais se diz inocente, terem sido apresentadas contra ela. Em 2006, as negociações com Musharraf em busca de uma aliança deram sinais de avanço, mas Bhutto não conseguiu convencer os representantes do presidente de que ele deveria abandonar o cargo de comandante do Exército antes de tentar um novo mandato presidencial. Musharraf viu sua popularidade diminuir em 2007, depois de tentar, sem sucesso, afastar o presidente da Suprema Corte, considerado um crítico de seu regime. A tentativa de Musharraf provocou protestos em todo o país e foi considerada a mais séria ameaça a seu governo desde que ele assumiu o poder, em 1999, em um golpe de Estado. Antes das eleições presidenciais, o general prometeu que abandonaria o comando do Exército antes de fazer o juramento de seu novo mandato - o que não deve acontecer antes que o Supremo decida se ele podia ou não ser candidato. Com isso, caiu um dos principais empecilhos à aliança entre Musharraf e o PPP de Benazir Bhutto. Mas outras desavenças entre a ex-primeira-ministra e o presidente ainda não foram resolvidas - como as disposições constitucionais que proíbem uma pessoa de servir mais de dois mandatos como primeiro-ministro ou que dão ao presidente poderes especiais para dissolver o governo. O PPP quer que os dois dispositivos sejam dissolvidos, mas, ao menos por ora, parece ter deixado a questão em suspenso. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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