ANÁLISE-Itália e Leste Europeu ameaçam plano da UE para clima

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Por PETE HARRISON
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O plano da Europa de liderar o mundo nos esforços de combate às mudanças climáticas está sendo seriamente ameaçado pela Itália, pela Polônia e por outros países do Leste Europeu temerosos dos custos de curto prazo envolvidos nessa ação. A França, que detém atualmente a Presidência rotativa da União Européia (UE), tenta finalizar um plano prevendo que o volume de emissão de carbono do bloco caia em um quinto até 2020. Poucos acreditam que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, deixará de selar um acordo neste ano, mas muitos temem que, em meio à atual crise econômica, seja realizado um número tão grande de concessões, o que poderia produzir um documento que pouco contribuirá para brecar o aquecimento global. E, com sua credibilidade danificada, a Europa terá dificuldade para convencer a China, a Rússia e outros grandes poluidores a assinarem um acordo substancial sobre o corte nas emissões quando, no próximo ano, o mundo reunir-se em Copenhague para aprovar um pacto capaz de suceder ao Protocolo de Kyoto depois de 2012. "A Presidência francesa deu sinais reais de determinação, mas a atitude de Sarkozy tem sido de aceitar as exigências por concessões", afirmou Ceceile Kerebel, do grupo francês de pesquisa Ifri. "Acho que vamos conseguir firmar algum tipo de acordo, mas há o risco real de que, ao fim, o pacote não tenha efeito para o combate às mudanças climáticas", acrescentou Kerebel. Não resta muito tempo, já que o Parlamento Europeu entra em recesso para as eleições em maio próximo. E a maior parte dos diplomatas da UE mostrou não acreditar em grandes progressos depois de dezembro, quando a França entrega a Presidência do bloco à República Tcheca -- um país atualmente dividido em meio a uma briga pelo poder e cujo presidente mostra-se pouco disposto a fazer sacrifícios para combater as mudanças climáticas. IMPACTO GLOBAL Nações antes pertencentes ao bloco comunista reclamam há muito tempo que os planos da UE sobre o corte nas emissões de carbono criariam custos insuportáveis ao obrigá- las a substituir dezenas de termelétricas movidas a carvão e altamente poluentes. Esse grupo de países parecia antes frágil. No entanto, no mês passado, ele ganhou um aliado inesperado quando o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, ameaçou vetar o plano climático da UE a fim de proteger as fábricas italianas e sua poderosa indústria automotiva. As nações do Leste Europeu continuam defendendo que suas usinas de energia fiquem isentas dos limites de emissão no esquema de comércio de cotas de carbono da UE. A Itália preocupa-se com o impacto do custo do carbono na competitividade de seu setor exportador. Conceder a fábricas e usinas de energia licença para poluir livremente poderia, no entanto, desencadear um efeito dominó. Caso a UE não consiga selar um acordo contundente a respeito do clima, chegará enfraquecida à cúpula de Copenhague, em 2009. "Nós ouvimos de outros ministros envolvidos nas negociações que é muito importante aquilo que a Europa conseguirá obter", afirmou o ministro sueco do Meio Ambiente, Andreas Carlgren, à Reuters. "A União Européia perderia grande parte de seu prestígio se não conseguir selar um acordo." O grupo ambientalista WWF diz que as tentativas de enfraquecer as leis do bloco sobre o clima colocarão o mundo no caminho de sofrer uma elevação de 2,8 graus Celsius em sua temperatura média, levando seca a 2 bilhões de pessoas e provocando a morte dos recifes de coral e a extinção em massa de animais. Tais ameaças colocaram autoridades em Bruxelas a buscar formas para quebrar a aliança do Leste Europeu -- talvez criando um fundo para pagar por alternativas de baixa emissão de carbono ou incorporando-os à grade de energia da UE. "Eu acho que a aliança pode ser rompida porque o que eles de fato desejam é o reconhecimento de sua dependência em relação ao carvão e dos obstáculos que enfrentam para adotar o gás", disse Silmon Tilford, do Centro para a Reforma Européia, com sede em Londres. "Eu acho que o plano precisa somente de uns ajustes financeiros."

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