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ANÁLISE-No fim, Obama venceu por causa da economia

Por ANDY SULLIVAN
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No final, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conseguiu a reeleição justamente pela questão que poderia ter encerrado sua passagem pela Casa Branca: a letárgica economia norte-americana. Os Estados Unidos ainda estão se arrastando para sair da pior recessão em 80 anos, e os empregadores mal conseguem acrescentar vagas suficientes para equacionar o crescimento populacional. Trilhões de dólares de propriedades familiares desapareceram na bolha habitacional, enquanto o fosso entre ricos e pobres se alargou. Historicamente, porém, os eleitores dão um segundo mandato aos presidentes em exercício que governam com um crescimento econômico, ainda que modesto, em ano eleitoral. Esse padrão se manteve com Obama. Se a economia não está exatamente vibrante, melhorou de forma estável ao longo de 2012. "Não seria uma vitória esmagadora", disse John Sides, professor de ciências políticas na Universidade George Washington. "Mas sempre foi a disputa dele para perder". O presidente democrata tomou medidas importantes para melhorar a economia, mas elas não pareceram ajudá-lo muito aos olhos dos eleitores. As pesquisas mostram profundas divisões sobre os méritos do estímulo de 2009, suas reformas financeiras Dodd-Frank e o pacote de resgate da indústria automobilística. Mas as medidas fizeram a diferença em um ponto importante. Obama fez uma campanha forte sobre o resgate automobilístico em Ohio, onde 1 em cada 8 empregados está ligado à indústria. Isso pode tê-lo ajudado a limitar seus danos entre os trabalhadores brancos, uma fatia do eleitorado que Romney ganhou em outros lugares. Segundo pesquisas de boca de urna da Reuters/Ipsos, Obama perdeu entre os eleitores brancos no país por 21 pontos percentuais. Em Ohio, ele perdeu entre eleitores brancos por apenas 12 pontos. Obama também foi auxiliado pelo fato de que os eleitores costumam culpar seu predecessor republicano, George W. Bush, pela recessão. Obama fez disso parte central de sua mensagem de campanha, argumentando que Romney iria trazer de volta as políticas que precipitaram a crise. Se a campanha de Romney quis focar a eleição na gestão econômica de Obama, a campanha de Obama quis torná-la uma escolha entre os dois candidatos. A campanha de Obama atacou desde o início, com um bombardeio de propaganda negativa que pintava o multimilionário executivo de private equity como um investidor corporativo pouco interessado no destino das pessoas comuns. Os ataques provocaram comparações pouco elogiosas com a histórica eleição de Obama ao cargo em 2008, mas desacreditaram Romney aos olhos de muitos eleitores. "Muitos eleitores brancos da classe média que não têm um diploma chegaram à conclusão que Romney não era um deles", disse o analista Greg Valliere, do instituto de pesquisas Potomac. PARALISIA À FRENTE A estreita vitória de Obama não vai provocar temores no coração dos republicanos, que continuam no controle da Câmara dos Deputados. Os democratas, de Obama, estão no comando do Senado, mas políticos menos moderados dos dois partidos estarão na composição. Essa é a receita para mais paralisia e confrontos sobre impostos e gastos durante o segundo mandato de Obama. Alcançar o consenso mesmo na legislação mais rotineira será difícil. "Não haverá muita boa-vontade no Capitólio", disse o professor de história da Universidade de Princeton Julian Zelizer. "As linhas partidárias serão reforçadas depois desta eleição". A polarização crescente pode tornar mais difícil governar, mas facilitou a campanha de Obama. Em uma época de intenso sentimento partidário, Obama desfrutou de apoio mais confiável de membros de seu próprio partido do que os predecessores democratas Jimmy Carter e Bill Clinton. "Existem bem menos pessoas vão mudar de um candidato para outro. Elas estão bem mais solidificadas em cada lado", disse Taylor Griffin, que assessorou o candidato republicano John McCain durante a campanha de 2008. Para os republicanos, a reeleição de Obama apresenta questões desconfortáveis. Pela segunda eleição consecutiva, o candidato presidencial republicano foi incapaz de vencer mais de 1 em cada 3 votos hispânicos, e o partido pode ter uma dificuldade cada vez maior em competir a nível nacional se não conseguir fazer progressos entre essa fatia do eleitorado que cresce rapidamente. O centro de gravidade do partido agora está no Congresso, onde muitos parlamentares representam distritos solidamente conservadores. Eles têm pouco incentivos em se comprometer em questões que poderiam enfurecer sua base de eleitores brancos e mais velhos, como a reforma imigratória. Romney teve que superar a suspeita persistente dos conservadores durante a batalha pela indicação republicana, e foi incapaz de apelar a eleitores indecisos independentes até o último mês da campanha. Mas muitos no partido devem chegar à conclusão de que se sairão melhor ao nomear um candidato mais conservador na próxima vez, disse John Hudak do Brookings Institution. "O partido vai se mover para a direita", ele disse. "O tema será, ‘vocês estão vendo, não deveríamos ter indicado um moderado'".

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