ANÁLISE-Obama aponta armas para 'era Greenspan'

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Por EMILY KAISER
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O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, com o apoio de uma sólida maioria democrata no Congresso e uma opinião pública furiosa com a crise de crédito, terá a chance de reescrever as regras do sistema financeiro adotadas na "era Greenspan". Pesquisas de boca-de-urna mostraram que a economia figurou como fator principal na clara vitória de Obama sobre o senador republicano John McCain, na terça-feira, dando ao novo presidente um mandato inquestionável para adotar uma nova postura em relação ao capitalismo, algo que Obama defendeu ao longo de sua campanha. "Em um momento como este, não podemos arcar com mais quatro anos de gastos crescentes, cortes de impostos pensados de forma precária ou uma falta completa de supervisão reguladora, algo que mesmo o ex-presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA) Alan Greenspan agora acredita ter sido um erro", escreveu Obama em um artigo publicado nesta semana no jornal The Wall Street Journal. Para os mercados financeiros dos EUA -- e de outros países que seguiram o exemplo das bolsas norte-americanas -- isso significa provavelmente uma enxurrada de leis com vistas a proteger os proprietários de imóveis e os devedores, ao mesmo tempo em que aumentariam as restrições para os bancos e para os investimentos que vendem. Obama propôs ainda adotar um plano de estímulo ao crescimento econômico que incluiria gastos com obras de infra-estrutura. E o presidente eleito defende reformar a lei de falência a fim de ajudar os proprietários de imóveis e facilitar a reestruturação de hipotecas problemáticas. Greenspan, um defensor convicto do livre mercado, recebeu o apelido de "o maestro" -- o mandato dele à frente do Fed coincidiu com um longo período de forte expansão da economia. No entanto, mais recentemente, o ex-presidente do banco central tornou-se um símbolo da desregulamentação e um alvo de críticas por ter permitido que as instituições financeiras escapassem da supervisão do governo. Enquanto os prejuízos acumulavam-se em todo o mundo, no final de outubro, Greenspan reconheceu ter errado "parcialmente" ao resistir à intervenção do poder público para regulamentar alguns tipos de investimento. "Os que, dentre nós, apostaram no interesse de autopreservação das instituições credoras para proteger o investimento dos acionistas -- eu em especial -- encontram-se em um estado de descrença", afirmou o ex-presidente do Fed ao Congresso. Obama não terá o luxo do tempo. Há poucas dúvidas de que a economia norte-americana caminha para uma recessão, talvez a mais profunda desde os anos 70, e a economia global enfrenta o perigo real de sofrer sua primeira desaceleração em sete anos. Líderes do mundo todo não vão esperar pela posse do novo presidente a fim de planejar a maior reforma do sistema financeiro global desde a Grande Depressão (nos anos 30). Obama, no entanto, não deve participar do encontro de 15 de novembro do Grupo dos 20 (que reúne países ricos e emergentes). A reunião foi convocada para discutir a crise financeira. Os investidores não têm dúvida sobre a chegada de regras mais rigorosas. "Os participantes do sistema financeiro como um todo deveriam ter em mente que o senador Obama enviou um sinal muito claro sobre pretender adotar uma agenda ativa como presidente", afirmou William Donovan, do escritório de advocacia Venable (de Washington) e ex-consultor-geral da Associação Nacional das Entidades de Crédito Federal dos EUA.

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