ANÁLISE-Petróleo fraco e crédito limitarão planos da Petrobras

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Por REESE EWING E DENISE LUNA
Atualização:

Grande parte do setor de energia do Brasil acredita que a companhia estatal Petrobras não será capaz de executar seu plano de cinco anos para aumentar os investimentos em 55 por cento. "O plano da Petrobras é um trabalho de ficção, é um exercício acadêmico que será revisado nos próximos anos", disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. As ações das empresas de serviços e equipamentos do setor de petróleo subiram após a Petrobras ter anunciado na sexta-feira passada planos de investir 174,4 bilhões de dólares até 2013, quantia 55 por cento maior em relação ao plano de 2008-2012, de 112,4 bilhões de dólares. Outros importantes produtores de matéria-prima estão reduzindo os gastos em meio ao declínio dos preços das commodities e à fraqueza do mercado de crédito. Céticos observaram que historicamente, a Petrobras gastou entre 85 e 95 por cento do seu orçamento com investimentos. Muitos projetos foram anunciados quando os preços do petróleo estavam bem acima de 100 dólares o barril. A companhia adiou o lançamento do seu plano de investimento quatro vezes nos últimos seis meses devido à deterioração da economia global. Analistas esperavam que a Petrobras fosse limitar seus grandiosos projetos para se adequar à queda nos preços do petróleo. Muitos analistas dizem que o plano reflete mais as necessidades do governo do que as do mercado. Eles afirmaram que o presidente Luiz Inacio Lula da Silva tentará ajudar seu escolhido para sucessor nas eleições de 2010, quando encerra o segundo mandato. Lula foi o primeiro presidente da República a comparecer a uma reunião de trabalho do Conselho de Administração da Petrobras, na última sexta-feira, em Brasília. Mônica Araújo, analista da corretora Ativa, declarou que os gastos com exploração e produção eram compreensíveis, dada as amplas reservas na camada do pré-sal descobertas recentemente. A companhia elevará os investimentos na área para 104,6 bilhões de dólares, contra 65,1 bilhões de dólares anteriormente. Mas ela ficou perplexa com o crescimento dos gastos com a área de Abastecimento --um aumento de 47 por cento, ou quase 14 bilhões de dólares--, em uma série de refinarias em Estados onde o governo está tentando reforçar o apoio de partidos aliados e eleitores. "A expectativa de que a companhia apresentasse um plano mais coerente com o setor de petróleo e às condições de financiabilidade deixam a sensação de um plano ousado e arrojado e, portanto, será difícil executá-lo sem arriscar a estrutura de capital da companhia", explicou Mônica em um relatório. Administrações anteriores frequentemente utilizavam a Petrobras para ganhar votos em ano de eleição. "Não seria surpreendente ver os preços do combustível da Petrobras mais baixos em 2010", afirmou um gerente de um fundo de investimentos multinacional, em São Paulo. "Mas se o candidato do Lula não ganhar, você pode jogar fora esse plano de investimento". As vendas de combustível no Brasil respondem por quase metade das receitas da Petrobras. A redução dos preços tornará a companhia mais dependente de financiamento externo, que tem sido escasso. A Petrobras tem um saudável fluxo de capital anual de mais de 100 bilhões de dólares por ano, que até agora está sendo usado para financiar a maior parte dos seus investimentos. No passado, a companhia utilizou seu próprio capital para ancorar 80 por cento dos seus investimentos, lembrou Nelson Rodrigues de Matos, analista de energia do Banco do Brasil. "Agora nós estamos falando em 65 por cento das necessidades de crédito sendo abastecidas pelo mercado de capitais", disse o analista. "Eu não estou dizendo que esse plano não é possível, mas se for, será totalmente dependente da alta dos preços do petróleo, da melhoria dos mercados de crédito e da estabilidade dos preços dos equipamentos e serviços". A Petrobras recebeu 11,9 bilhões de dólares para 2009 e outros 10 bilhões de dólares para 2010 do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) a taxas favoráveis e prazo de 30 anos. "O BNDES salvou a Petrobras", declarou de Matos. "Mas 2009 não é o problema. Eles terão que investir 36 bilhões de dólares por ano a partir de 2010 para cumprir o plano e não está claro de onde virá esse capital extra agora". O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que já conseguiu 5 bilhões de dólares do setor privado em 2009, com prazo de dois anos, mas analistas afirmaram que a companhia buscava o dobro dessa quantia. "Em 2009, o BNDES pode financiar uma grande parte das necessidades de crédito da companhia", disse o analista Vladimir Pinto em um relatório do Unibanco.

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