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ANÁLISE-Potência no etanol, Brasil avança no biodiesel

Por CAROLINE STAUFFER
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Multinacionais estão investindo na produção de biodiesel no Brasil, que está próximo de se tornar o maior produtor do mundo de soja, a principal matéria-prima para o biocombustível no país. A aposta é na crescente demanda, mais do que no potencial de exportação, num país que consome mais diesel do que gasolina. Muitos acreditam que em breve o Brasil pode elevar a mistura obrigatória de biodiesel no combustível. A Bunge teve aprovação no mês passado para o início das operações de planta de 30 milhões de dólares de biodiesel no Brasil em 2013. Ao mesmo tempo, a Cargill abriu em agosto sua primeira planta de biodiesel perto de sua planta processadora de soja em Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, em investimento de 64,5 milhões de dólares. "O biodiesel é um mercado relativamente novo, e está crescendo no Brasil", disse Elcio de Angelis, gerente de biodiesel da Cargill no Brasil, à Reuters. "Como sua principal matéria-prima é o óleo de soja, isso complementa nossa capacidade existente." Mais plantas de biodiesel aumentariam a demanda por óleo de palma e de soja, sustentando os preços destas commodities, e podendo reduzir a dependência do Brasil na importação de diesel. INDÚSTRIA BILIONÁRIA A indústria de biodiesel cresceu e movimenta 6 bilhões de dólares por ano desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estimulou produtores familiares a cultivar palma e mamona para a produção de biocombustíveis como forma de promover o desenvolvimento rural uma década atrás. A estatal Petrobras anunciou volume recorde de vendas de 166,7 milhões de litros de biodiesel para ser entregue no quarto trimestre deste ano. A Vale, segunda maior mineradora do mundo e maior consumidor de diesel do país, pretende atingir a meta de 20 por cento do consumo total com biodiesel derivado de óleo de palma até 2015. Os 62 produtores de biodiesel produzem cerca de 2,4 milhões de toneladas do combustível por ano, 77 por cento oriundo do óleo de soja, de acordo com Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustível (ANP) e o Rabobank International. A Argentina, grande exportador de óleo de soja e biodiesel, também produziu 2,4 milhões de toneladas do combustível em 2011, mas exportou 1,7 milhão de toneladas do total. O diretor-executivo da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), Julio Minelli, disse esperar que o governo brasileiro envie em breve legislação ao Congresso que deve elevar a mistura de biodiesel ao diesel de 5 para 7 por cento, o mesmo montante da Argentina. Segundo ele, a mistura pode gradualmente subir nos próximos anos. "A indústria pode atender até um limite de 10 por cento agora... com a capacidade instalada de 6,9 bilhões de litros, mais do que duas vezes o que produzimos hoje", disse à Reuters. EXPORTAÇÕES: DESAFIOS E OPORTUNIDADES Com capacidade crescente, os produtores veem oportunidades no mercado externo depois de recente embate comercial. A Espanha colocou barreiras ao biodiesel da Argentina depois da estatização da YPF. O executivo da Aprobio diz que o Brasil poderia atender à demanda do mercado espanhol, caso se estabeleça uma disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC). "Seria a porta de entrada para o biodiesel brasileiro na Europa", disse. Um trader da Petrobras, que pediu para não ser identificado, disse que a companhia, que atua como intermediária entre os produtores de biodiesel e os distribuidores, está interessada em intermediar vendas para a Europa, mas ainda não fechou um acordo do tipo. O gerente da Cargill, Angelis, ressaltou que o biodiesel da planta de Três Lagos será usado no mercado doméstico. "Nós não vemos as exportações como uma opção no curto prazo --logística e custos não são competitivos com o produto argentino", disse.

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