Análise: Primárias democratas esquentam, com Hillary forte, mas assediada

Favorita nas pesquisas, senadora é alvo de ataques dos demais candidatos.

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Por Caio Blinder
Atualização:

Na tarde de quarta-feira, ao endossar a candidatura de Hillary Clinton nas primárias democratas, um líder sindical deu um par de luvas vermelhas de boxe para a senadora nova-iorquina e disse que o debate democrata de terça-feira à noite em Filadélfia foi uma "luta justa" entre seis marmanjos e uma "mulher forte". Esta gangue mobilizada contra Hillary Clinton dá uma boa medida da força eleitoral da ex-primeira-dama a dois meses do início das primárias democratas. O debate de terça-feira foi apenas o aperitivo do que espera Hillary nas próximas semanas. Sua folgada dianteira nas pesquisas nacionais (nas sondagens estaduais envolvendo as primeiras primárias de janeiro sua margem é mais estreita) a tornou o alvo prioritário dos ataques dos demais candidatos democratas. Hillary é uma mulher forte. Afinal ela está acostumada a dar e levar golpes ao longo do caminho como parceira do ex-presidente Bill Clinton. Hillary é forte, mas também é vulnerável. E seus adversários democratas ironicamente estão recorrendo a linhas de ataque de gente com tradição de combates contra o casal Clinton, acusado de ser basicamente carreirista, carente de princípios e sempre atento aos ventos políticos para ajustar suas posições. A outra ironia é que o debate de terça-feira mostrou que quem deveria bater mais pesado está vacilando. O senador Barack Obama, o principal rival de Hillary, antecipara uma campanha mais agressiva, até mais negativa. Mas recorrendo a um termo sexista, ele foi o sexo frágil no debate. Atacou, mas não com a virulência do ex-senador John Edwards, na terceira posição na boiada democrata, e que confirmou ser um ótimo advogado criminalista com suas espetadas. Hillary é a franca favorita, mas está levando o chumbo dos rivais democratas pela falta de franqueza na sua campanha e é apontada como a candidata ideal pelos republicanos por ser uma figura que polariza. Hillary, de fato, trabalha em dois níveis. Tem um discurso mais afinado com a base democrata e outro mais moderado, moldado aos eleitores em geral. Ela faz uma campanha para as primárias e a outra já de olho nas eleições presidenciais de novembro de 2008. O malabarismo nem sempre funciona. No debate de terça-feira, Hillary hesitou na resposta se apoiava ou não o plano do governador de Nova York de dar carteira de motorista a imigrantes ilegais. Abriu um imenso flanco para os ataques de Barack Obama e de John Edwards. Na quarta-feira, a assessoria de campanha disse que ela apóia o plano. Trata-se de um esforço para esvaziar a polêmica nas primárias democratas de que Hillary assume posições nebulosas, mesmo com o risco de perder pontos mais para frente, na corrida presidencial em si, com setores da população hostis aos imigrantes ilegais. Claro que nas próximas semanas Hillary irá caminhar por um terreno minado, mostrando o perigo de uma aura de inevitabilidade de sua vitória nas primárias democratas. Para ela, é um longo caminho. Já para Barack Obama, o caminho é bem mais curto. Existe um senso de exasperação entre seus partidários e financiadores de que ele não consegue transformar o carisma em capital eleitoral. O terreno é minado e enlameado. Barack Obama vacila em sujar as mãos. Talvez, na exasperação, seu bom-mocismo seja deixado de lado de agora em diante. Do lado republicano, Rudy Giuliani, o ex-prefeito de Nova York, é o favorito (embora não franco, como Hillary). De qualquer forma, no seu campo, ele é o mais empenhado em atacar a senadora democrata, já antevendo a grande luta de boxe em novembro do ano que vem. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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