ANÁLISE-PT quer resgatar classe média perdida com mensalão

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Por CARMEN MUNARI
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No finalzinho do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e prestes a permanecer no Planalto com Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores admite que perdeu o voto de setores da classe média e tem planos para reconquistar este segmento. Em São Paulo, a legenda já tem um cardápio de ações para atrair esta parcela social, que se distanciou da sigla a partir do caso do mensalão, em 2005, depois de ajudar a eleger o presidente Lula em 2002. No Estado, o PSDB está em vantagem há 16 anos. A rejeição foi reforçada pelas denúncias que levaram à queda da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra em 2010 por suposto envolvimento em tráfico de influência. "Perdemos o debate ético com este segmento. Não conseguimos explicar o mensalão e o caso Erenice de 2010 trouxe 2005 de volta", disse à Reuters o presidente do PT-SP, Edinho Silva. Não há ilusões quanto à dificuldade da missão. "Retomar este diálogo é desafio no Brasil inteiro e em São Paulo é bandeira quase intransponível para o PT", relata Edinho Silva, eleito deputado estadual. Ao fazer um balanço da eleição presidencial deste ano, o dirigente vai direto ao ponto. "Muito mais do que a falsa polêmica sobre o aborto, o fato que interferiu de forma definitiva na conjuntura político-eleitoral foi o caso Erenice e as crises vivenciadas pelo PT em 2005", disse. O setor médio da sociedade é entendido como aquele que recebe de 5 a 10 salários mínimos mensais. A faixa seguinte inclui os que ganham acima de dez mínimos, também distanciada do partido. Para o PT-SP, a rejeição não vem da classe média como um todo e sim da parcela mais escolarizada, com acesso a educação de qualidade e bom padrão cultural. O escândalo de corrupção do PT interrompeu um ciclo de 25 anos de aumento da estima do eleitor pela legenda, diz o professor André Singer, do departamento de Ciência Política da USP. Dados de artigo do cientista político publicado em novembro e intitulado "A Segunda Alma do PT", indicam ainda que a preferência pelo PT junto ao eleitor caiu de 21 por cento em 2002, ano da primeira eleição de Lula, para 16 por cento quatro anos depois. Apesar das queixas do partido, Singer mostra que houve recuperação em 2010, chegando a 24 por cento. Entre 2002 e 2006, a renda familiar média do simpatizante do PT caiu de 1.349 reais para 985 reais, segundo o artigo. Houve perda de apoiadores entre os mais escolarizados e também no Sudeste e no Sul, segundo Singer, que foi porta-voz do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro mandato. No sentido inverso, o PT passou a ser atraído de forma crescente pelas camadas de renda mais baixa. "O realinhamento ocorrido com o PT vai na mesma direção que o lulismo: afluxo de um público pobre e perda de apoio na classe média. Na sua versão atual, a composição do grupo de apoiadores do partido ficou parecida com a da sociedade", analisa. IDEIAS PARA RESGATE Apesar de apontar a questão ética como primordial para o afastamento, o presidente do PT enumera ações pelas quais o partido quer seduzir a classe média. Uma das principais é a necessidade de reforçar compromissos com o desenvolvimento sustentável, bandeira da candidata à Presidência derrotada Marina Silva (PV), que foi a responsável por levar a eleição ao segundo turno. A lista tem ainda itens como empregos de qualidade, ênfase em tecnologia, segurança pública, propostas para a juventude e até ideias para a melhora no trânsito. "Precisamos fazer um reencontro com a ética, que foi a bandeira do PT no nascimento", contrapõe o prefeito de Osasco (SP), Emídio de Souza, coordenador da campanha derrotada de Aloizio Mercadante (PT) na eleição ao governo paulista deste ano, que deu vitória a um tucano. A agenda anticorrupção exige uma postura proativa, cobra o professor Fabiano Santos, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj. Sugere, por exemplo, um Tribunal de Contas da União (TCU) mais eficaz evitando a nomeação de políticos. O órgão do Congresso fiscaliza a administração federal, Tanto Emídio quanto Santos apontam ainda a questão tributária, para a qual a classe média é especialmente sensível, mas sem aliviar impostos que comprometam as contas públicas. Pesquisa da Transparência Internacional divulgada este mês indica que para 64 por cento dos brasileiros a corrupção aumentou no país nos últimos três anos. Os partidos políticos foram identificados no levantamento com alto nível de corrupção, nota 4,1, de um máximo de 5.

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