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ANÁLISE-Rússia e China são dois mundos diferentes dentro da OMC

Por SUJATA RAO
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A Rússia entrou para a Organização Mundial do Comércio após 19 anos de espera, mas provavelmente continuará bem longe do milagre em exportações e importações que a China conseguiu depois de entrar para o clube. A China esperou 15 anos para entrar na OMC em 2001, mas, em uma década, as exportações do país quintuplicaram e a economia chinesa passou de sexta para a segunda maior do mundo. A economia da Rússia, baseada em commodities, está bem menos preparada para dar esse salto. O país, com fluxos de comércio mais fracos do que há dez anos, terá dificuldades para atrair investimentos numa escala semelhante à que a China conseguiu. Os russos têm, no entanto, muitos pontos a favor. As tarifas externas custariam atualmente aos exportadores locais de 1,5 bilhão a 2 bilhões de dólares por ano, mas a entrada na OMC garante barreiras de tarifas menores e tratamento igualitário para todos os membros. Moscou terá que reduzir as próprias barreiras: as tarifas cairão em média 30 por cento, sendo que as incidentes sobre veículos estrangeiros vão se reduzir à metade. Importações mais baratas deixarão consumidores e empresas com mais dinheiro para gastar. Setores como bancos e telecomunicações vão se abrir para investimento externo, embora partes de alguns mercados pouco competitivos --como a indústria automotiva-- podem entrar em colapso. Vozes a favor da Rússia na OMC acreditam que o governo passará a ter um senso de urgência para reformas econômicas após o presidente Vladimir Putin ter avalizado a entrada no bloco. Ed Conroy, gestor de fundos da HSBC Global Asset Management, prevê que a Rússia --assim como acontece com a maioria dos países que acabam de entrar na OMC-- terá crescimento econômico e retomada de investimento se derrubar barreiras protecionaistas e mostrar um firme compromisso com políticas de livre mercado. "A OMC não é uma varinha de condão que eles podem balançar para criar um paraíso de investimentos, mas você automaticamente trará oportunidades se criar um ambiente menos restritivo. Não espere uma revolução, mas a evolução para uma economia mais aberta e competitiva", disse Conroy, que investe no país. Conroy acredita que as ações do setor bancário serão as que mais se beneficiarão da presença da Rússia na OMC. Outros, como Chris Weafer, da corretora moscovita Troika Dialog, aconselham carteiras que mesclem ações de varejistas com de companhias aéreas, que devem ganhar com menores tarifas de importação. O Banco Mundial estimou em 49 bilhões de dólares por ano o ganho a curto prazo da Rússia com a entrada na OMC, ou mais de 3 por cento do PIB, em preços de 2010. Essa cifra salta para 162 bilhões de dólares por ano se considerado o impacto a longo prazo sobre os investimentos. PAÍSES DIFERENTES, REALIDADES DIFERENTES Essas estimativas, no entanto, não chegam perto do milagre que aconteceu na China. Uma volumosa mão de obra barata garantiu ao país a bonança na era OMC. Exportações de mercadorias dispararam mais de 20 por cento ao ano, enquanto o investimento externo direto cresceu cinco vezes na década graças a companhias estrangeiras que montaram fábricas em território chinês. Isso não vai acontecer na Rússia: petróleo e gás --não sujeitos a barreiras tarifárias-- dominam as exportações russas e o modelo de manufatura para exportação provavelmente não vai decolar por causa da mão de obra relativamente cara. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy não está esperando muito da Rússia imediatamente. "Acredito que a China em 2001 e a Rússia em 2012 não são comparáveis", disse à Reuters Insider, citando diferentes estruturas de exportação e o fato de Moscou negociar uma abertura gradual do comércio local.

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